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32º Curta Kinoforum apresenta panorama da produção de curtas-metragens
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

32º Curta Kinoforum apresenta panorama da produção de curtas-metragens

32º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo - Curta Kinoforum disponibiliza virtual e gratuitamente 200 filmes do Brasil e do mundo
Tipo Notícia
Entre os curtas exibidos no Festival de Cannes, o filme 'Céu de Agosto', de Jasmin Tenucci, recebeu menção especial do júri no evento (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Entre os curtas exibidos no Festival de Cannes, o filme 'Céu de Agosto', de Jasmin Tenucci, recebeu menção especial do júri no evento

Entre mostras e programas que vão de panoramas das produções internacional e brasileira a recortes curatoriais aproximados por temas e públicos distintos, o 32º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo - Curta Kinoforum traz a partir desta quinta, 19, 200 filmes ao público. A segunda edição on-line do evento, disponível na plataforma InnSaei.TV, traz na programação homenagens, exibições especiais e série de atividades paralelas, incluindo debates e ações formativas. Confira destaques!

Petrus Cariry aborda sua relação com Patativa do Assaré
Petrus Cariry aborda sua relação com Patativa do Assaré

Mostra Brasil

Entre os 200 curtas que compõem o festival, 116 são produções brasileiras. A produção de 14 estados, incluindo o Ceará, e do Distrito Federal está representada na seleção. Deste total, 48 filmes estão nos Programas Brasileiros, recorte curatorial que visa apresentar um panorama nacional recente dividido, por sua vez, em duas mostras.

Na Mostra Brasil, que não tem caráter competitivo, estão dispostos 35 títulos. Entre eles, o cearense "Foi Um Tempo de Poesia", dirigido pelo cineasta Petrus Cariry, que elabora materiais de arquivo com uma entrevista do poeta Patativa do Assaré. O curta estará disponível nos dias 19 e 24 de agosto, às 19 horas em ambas as datas.

Entre os curtas exibidos no Festival de Cannes, o filme 'Céu de Agosto', de Jasmin Tenucci, recebeu menção especial do júri no evento
Entre os curtas exibidos no Festival de Cannes, o filme 'Céu de Agosto', de Jasmin Tenucci, recebeu menção especial do júri no evento

Mostra Competitiva

A Mostra Competitiva do evento é voltada para produções brasileiras. São 13 filmes vindos das cinco regiões geográficas do País. Entre eles, estão "4 Bilhões de Infinitos" (MG), de Marco Antonio Pereira, que levou prêmios em diferentes eventos brasileiros em 2020; "Céu de Agosto" (SP), de Jasmin Tenucci, ganhador de menção especial no Festival de Cannes de 2021; e as duas produções amazonenses "Seiva Bruta", de Gustavo Milan, e "Coração de Pedra", animação de Humberto Rodrigues. O júri que decidirá a premiação da edição é formado por Ana Ventura Miranda, Hilton Lacerda e Márcia Vaz.

Parte da mostra dedicada à produção da América Latina, o curta 'Correspondência' consiste numa
Parte da mostra dedicada à produção da América Latina, o curta 'Correspondência' consiste numa "conversa epistolar" entre as cineastas Dominga Sotomayor, do Chile, e Carla Simón, da Espanha

Produções estrangeiras

Entre as seções voltadas à produção estrangeira, estão as mostras Internacional e Latino-Americana. Juntas, somam 54 produções disponibilizadas. A primeira traz produções de países como Bélgica, Ruanda, Croácia, Irã, África do Sul, Cingapura, Portugal, Taiwan e Vietnã.

Já a segunda destaca filmes do México e do Chile, países marcados por contextos sociais delicados em 2020 e cuja produção de cinema reflete os momentos históricos. Um representante dessa produção é "Correspondência" (foto), de Dominga Sotomayor e Carla Simón. As cineastas, uma chilena e uma espanhola, trocam cartas filmadas e refletem sobre família, política e história. Há, ainda, curtas de Cuba, Uruguai, Colômbia, Argentina e Costa Rica.

A Mostra Limite apresenta recorte de obras mais desafiadora, como o curta 'Vagalumes', de Léo Bittencourt, que foca nos frequentadores noturnos do Parque do Flamengo e seus costumes
A Mostra Limite apresenta recorte de obras mais desafiadora, como o curta 'Vagalumes', de Léo Bittencourt, que foca nos frequentadores noturnos do Parque do Flamengo e seus costumes

Recortes diversos

Além dos panoramas geográficos propostos pelo evento, o Curta Kinoforum traz também três seções com propostas diferentes. A Mostra Limite, por exemplo, reúne 15 curtas que se conectam pela elaboração de experiências singulares e libertárias, como "Vagalumes" (RJ, foto), de Léo Bittencourt, que apresenta o "lado noturno" do Parque do Flamengo.

Já Mostra Infantojuvenil reúne produções que trazem reflexões ligadas a crianças e adolescentes. Nos programas infantis, os destaques são os filmes que mostram questões ambientais, além daqueles produzidos em formações promovidas pelo Kinoforum. Já o programa juvenil mostra lutas empreendidas pelas juventudes do mundo em defesa de diversidade e liberdade.

Finalmente, a última seção, Programas Especiais, reúne mais de uma dezena de recortes curatoriais. Há homenagens aos 100 anos do cineasta Chris Marker, aos 40 anos da morte do brasileiro Glauber Rocha e em memória da montadora Vânia Debs, bem como mostras dedicadas à produção indígena, às filmografias dos cineastas André Novais de Oliveira e Lincoln Péricles e, também, uma exibição especial de um filme que reúne curtas produzidos nas Oficinas Kinoforum para marcar os 20 anos do projeto formativo.

"Filme de Domingo", do cineasta Lincoln Péricles

Atividades paralelas

As formações e debates que compõem o festival se conectam com a seleção da edição e, também, com temas de mercado. Na sexta, 20, às 17 horas, André Novais de Oliveira e Lincoln Péricles, que têm curtas no evento, falam sobre suas produções. No dia 26, às 14 horas, outro destaque é o bate-papo com profissionais de 14 streamings, como MUBI, Itaú Cultural Play e Spcine Play, sobre modelos de negócios e processos de curadoria. Na Conexão USP Kinoforum, parceria entre Kinoforum, a Universidade de São Paulo e o Museu da Imagem e do Som - SP, serão realizadas lives como a de homenagem à montadora e professora Vânia Debs, que faleceu em junho.

"O curta é muito adequado às novas telas de exibição", avalia diretora do Curta Kinoforum

O mercado do audiovisual tende a privilegiar, quase sempre, o longa-metragem. Qual o lugar, então, dos outros formatos de cinema nessa cadeia? Este é um dos temas que será debatido dentro da programação do 32º Curta Kinoforum, no debate “Curta e mercado”, que contará com profissionais de 14 plataformas de streamings. Em entrevista ao Vida&Arte, a diretora do evento Zita Carvalhosa avalia as possibilidades de escoamento da produção do formato, divide impactos da pandemia no festival e reforça a atuação de formação ligada ao evento.

O POVO - O número de curtas inscritos foi de 2.800 no total, sendo 600 obras brasileiras. Em comparação às edições mais recentes, de que forma essa participação veio variando? E em termos de alcance de público, como se desenhou a experiência do ano passado e que expectativas há para a desse ano?
Zita Carvalhosa - Nós fomos surpreendidos pelo número de inscrições. A gente achou que ia ter uma queda muito significativa, mas esse ano não tivemos esse desenho, sobretudo nos curtas brasileiros, que ficaram na marca normal. O curta é um formato que é possível produzir e as pessoas precisam se expressar. A criatividade é uma coisa que nos alimenta durante esse período tão complicado, tão difícil, que a gente está vivendo com a pandemia e com a situação da cultura no Brasil hoje. Não sei exatamente o que vai acontecer em termos de perspectiva de futuro. Sobretudo, a gente está muito inquieto, muito ansioso, pra saber quem é que vai assistir a esses filmes. A gente organizou programas, um festival com estrutura de festival, apostando que as pessoas vão compartilhar esse conteúdo dentro de um contexto de festival. É nosso segundo ano de realização on-line e a gente está tentando aprimorar os mecanismos para realmente aproveitar essa condição de chegar ao Brasil inteiro para fazer um bonito festival.

OP - Naturalmente, o panorama construído pela seleção dos 200 filmes é extenso, múltiplo, com variadas abordagens. Há alguma mensagem principal que pode ser encontrada no conjunto de obras selecionadas na edição?
Zita - Acho um pouco arriscado dizer que tem um tema que predomina em todos os programas do festival, mas a gente pode talvez dizer que, pelo fato das pessoas estarem mais isoladas umas das outras, tem muito a procura do eu, do que é a vida, do que é importante na vida... Essa, pelo menos, é a perspectiva que penso. Os filmes ajudam a gente a abrir novas janelas. A gente tem vários filmes que tratam da pandemia em si, mas temos também os que aproveitam esse momento para criar coisas mais livres.

OP - Indo para as especificidades, a mostra competitiva de curtas brasileiros traz obras já exibidas em eventos anteriores e outras ainda inéditas no País. Como foi montar e buscar esse equilíbrio?
Zita - Foi uma demanda dos realizadores que a gente fizesse uma pequena mostra competitiva e nossa ideia é, também, manter um pouco o aspecto de panorama que norteia todo o festival: pegar filmes diferentes entre si para a gente estabelecer uma conversa entre eles. Tem filmes que já passaram em outros eventos, a gente não lembra ainda com a ideia do ineditismo - talvez com os eventos online isso tenha que ser revisitado, mas a gente espera no ano que vem já estar presencial, pelo menos, e provavelmente, híbrido. A gente também gosta de revelar conteúdos novos. Esse equilíbrio foi o que a gente tentou propor.

OP - Entre as projeções especiais, está a de “Sobre Olhares – Oficinas Kinoforum”, que marca os 20 anos de oficinas Kinoforum. Além disso, há ainda as próprias experiências de formação da edição. Pela experiência acumulada nessas duas décadas, de que forma o festival e a associação entendem a importância das experiências formativas para o contexto audiovisual brasileiro?
Zita - Nós estamos muito orgulhosos e contentes de completar 20 anos do projeto das Oficinas Kinoforum. Esse longa é a edição de curtas realizados durante o projeto e uma volta de uma conversa com essas pessoas que fizeram as oficinas, o que elas estão fazendo hoje e como começaram a entrar nesse mundo audiovisual pelas oficinas. A gente continua com as oficinas, agora estamos com um módulo novo, de empreendedorismo, e trabalhando bastante a ideia de oficinas para crianças, para essa sensibilização ao audiovisual e uma compreensão desse conteúdo oferecido. A celebração de 20 anos das oficinas pra gente é muito legal. O filme vai ser lançado no festival e disponível na plataforma Cultura em casa e a gente espera que muita gente veja e se inspire, pra gente o audiovisual é uma ferramenta de transformação e a formação para transformar é uma coisa muito importante.

OP - Um dos destaques entre as atividades paralelas do evento é o encontro que debate o mercado para o formato curta nas plataformas de streaming. De que forma o Kinoforum, ele mesmo uma importante janela dessa produção, avalia as atuais possibilidades de escoamento das obras?
Zita - Essa tarde dedicada ao streaming é uma coisa que a gente veio construindo, (pensando) onde a gente consegue ver curtas-metragens e como eles são apresentados. Pensamos em fazer essa tarde com quem exibia curtas-metragens e, quando a gente se deu conta, tinha mais de uma dúzia de plataformas com curadoria, pensamento, e é isso que a gente vai expor. Cada uma delas vai contar um pouco como pensa a exibição dos curtas. É uma ideia de colocar os filmes de uma maneira mais participante, que a gente consiga produzir curtas para uma exibição que também seja economicamente viável. Essa é uma batalha que a gente tem: que não se coloque a ideia de que o curta-metragem é brinde; ele é conteúdo audiovisual e é muito adequado às novas telas de exibição que estão ganhando cada vez mais espaço com, justamente, o streaming. A gente hoje está numa discussão política muito importante de como o streaming tem que entrar na agenda e a gente achou muito oportuno fazer essa mesa para pontuar como é importante e como são abertas as possibilidades de exibição de conteúdo audiovisual nas plataformas hoje em ação.

32º Curta Kinoforum

Quando: de 19 a 29 de agosto
Onde: www.2021.kinoforum.org
Gratuito
Mais informações: @curtakinoforum

Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui

Foto do João Gabriel Tréz

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