Oscar 2023: presença em "categorias-chave" pode apontar favoritos?
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
A lista de indicados e de vitoriosos no Oscar é feita de elementos diversos, do poderio financeiro à campanha prévia. Há ainda espécies de “marcos estatísticos” que podem fortalecer uma produção na disputa ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Um deles aponta que conseguir indicações em Filme, Direção, Roteiro (Original ou Adaptado) e Edição fortalece as chances de vitória de uma obra. O grande vencedor das últimas 10 edições, por exemplo, apareceu nas quatro “categorias-chave” em sete delas. Na 95ª edição do Oscar, são três os longas que conseguiram o feito: “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, “Os Banshees de Inisherin” e “Tár”.
Fortalecido na temporada de premiações, “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” é considerado o franco-favorito na disputa há semanas. Dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, o filme é, ainda, o mais indicado do ano, figurando em 11 categorias — inclusive algumas nas quais a presença da produção não era tão esperada, como Trilha Sonora e Música.
A força do número indica apoio entre os votantes, decerto, o que se fortalece por conta da simpatia do elenco e da equipe da obra nas aparições públicas — as decisões do Oscar também passam por aí, bom ressaltar. Com quatro nomes do elenco indicados nas categorias de atuação, o filme desponta com força com Michelle Yeoh e Ke Huy Quan como favoritos nas disputas de Melhor Atriz e Ator Coadjuvante.
Ficção científica de aventura que brinca com a ideia de “multiverso”, tão presente no cinema blockbuster atual, “Tudo em Todo o Lugar” tem, porém, dois possíveis reveses: a resistência de votantes mais tradicionais, que ainda são expressiva maioria na Academia, à proposta pop e ter conquistado a posição de favoritismocedo.
A obra que se coloca como alternativa, então, é a comédia dramática “Os Banshees de Inisherin”. A produção irlandesa dirigida por Martin McDonagh acompanha dois amigos que entram em impasse quando um deles resolve acabar com a amizade de maneira abrupta. O longa é calcado em narrativa mais clássica e nas atuações de Colin Farrell (um dos favoritos na disputa de Melhor Ator), Brendan Gleeson, Barry Keoghan e Kerry Condon.
O filme conseguiu emplacar indicações nas principais categorias que estava cotado e ainda ganha relevo por estar no segundo lugar em número de indicações, nove no total — ainda que empatado com o alemão “Nada de Novo no Front”, que surpreendeu na reta final e despontou em várias das principais disputas técnicas.
Terceira produção a conseguir as quatro indicações em “categorias-chave”, “Tár” tem menos chances de se colocar como alternativa. Isso porque o filme dirigido e escrito por Todd Field vem sendo considerado como “desafiador” por contar a história de uma regente controversa, interpretada por Cate Blanchett. A australiana é uma das favoritas ao troféu de Melhor Atriz, no que pode ser a única chance concreta de uma vitória para o longa.
Posto isso, a disputa parece estar se afunilando entre “Tudo em Todo o Lugar” e “Os Banshees de Inisherin”? É possível, mas vale ressaltar que, evidentemente, para toda regra há exceções. Se sete dos últimos vencedores do Oscar conseguiram figurar nas “categorias-chave”, isso significa que três deles foram contra a estatística posta.
Sem indicação em Edição, “Birdman” foi vencedor da premiação em 2015. Já sem indicação em Direção, "Green Book" venceu em 2019. A mais recente das exceções ocorreu justamente no ano passado, quando o singelo “No Ritmo do Coração” só teve indicações para Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado, vencendo todas.
Quais as alternativas, então, que despontam na lista de 10 longas que concorrem a Melhor Filme do ano no prêmio? A principal resposta parece ser “Os Fabelmans”, dirigido por Steven Spielberg. Considerado um dos principais diretores em atividade hoje nos Estados Unidos, o artista faz na produção uma espécie de autobiografia com aspectos de ficção.
Somando referências ao próprio cinema, elemento que sempre atrai votantes no Oscar, e um drama familiar envolvente, “Os Fabelmans” se apresenta como uma forte “alternativa à alternativa”. A favor do longa, estão as indicações nas três principais das “categorias-chave” — Filme, Direção e Roteiro Original — e, talvez principalmente, o nome de Spielberg.
Apesar de ser a referência que é, já faz décadas que o cineasta não tem o reconhecimento do Oscar. As únicas três vitórias dele no prêmio ocorreram nos anos 1990, com o troféu de Melhor Filme e Direção entregue a “A Lista de Schindler” em 1994 e o de Direção outorgado a “O Resgate do Soldado Ryan” em 1998.
As sete indicações que “Os Fabelmans” angariou neste ano —, após uma trepidante campanha nos prêmios prévios que fez acender o alerta até mesmo para a presença do próprio cineasta na disputa de Melhor Direção — demonstram apoio dos votantes. O filme pode despontar como um “meio do caminho” agradável e merecido no embate entre “artístico” e “comercial”. A resposta de Hollywood virá no próximo dia 12 de março.
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