Mostra de Tiradentes: cearenses trazem experimentação e questões familiares
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Mostra de Tiradentes: cearenses trazem experimentação e questões familiares
Três dos dez filmes cearenses selecionados para a 26ª Mostra de Tiradentes se aproximam e diferenciam a partir de aspectos narrativos e formais
O Ceará é o quarto estado com maior número de filmes exibidos na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Três das dez produções do Estado foram exibidas no evento mineiro no mesmo dia, quinta-feira, 26: "Do tanto de telha no mundo", de Bruno Brasileiro; "Mecanismo", de Gabriel Lima, Isaac Morais e Maria Beatriz; e "A Filha do Palhaço", de Pedro Diógenes. Dois curtas e um longa, as obras depõem sobre um panorama diverso e irmanado do audiovisual cearense.
Em entrevista prévia ao evento, os curadores Francis Vogner dos Reis e Camila Vieira ressaltaram que o número de filmes cearenses destacava a diversidade de gêneros, corpos e abordagens da produção do Estado, bem como ressaltava pontos de interesse em comum. A tríade exibida na quinta é um exemplo das particularidades, mas também aproximações, entre as obras do Estado.
"Do tanto de telha no mundo", por exemplo, foi exibido na MostraPanorama, que ressalta produções diversas do Brasil todo. O filme foi produzido por Bruno Brasileiro, egresso do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza (Unifor), e é fruto do Cine Experiência Lab, projeto de imersão criativa promovido no escopo da instituição.
Outra obra também concretizada no escopo da formação da Unifor é "Mecanismo", curta experimental produzido em disciplina de montagem no curso da Universidade. Com direção assinada por Isaac Morais, Gabriel Lima e Maria Beatriz, o curta compôs em Tiradentes a MostraFormação, dedicada a destacar obras produzidas em contextos de ensino do audiovisual.
Se em "Do tanto de telha no mundo" a narrativa se aproxima do tradicional ao acompanhar o retorno de um jovem ao interior em visita a mãe, "Mecanismo" aposta em uma abordagem de ficção científica em termos narrativos e, formalmente, é construído a partir de imagens fixas de outros filmes, como "A plataforma" (1962), ressignificadas na nova obra.
Os dois curtas, naturalmente, se diferem em forma e conteúdo, mas se aproximam pelo gesto de risco empreendido pelos realizadores, seja na aberturaemocional vista em "Do tanto de telha no mundo", seja na ousadia de apropriação de imagens de arquivo de "Mecanismo".
Além disso, cada um de maneira muito própria, eles são também filmespandêmicos. Em "Do tanto de telha no mundo", a obra não se define por esse aspecto, mas a pandemia se faz presente no uso de máscaras pelas personagens e em citações textuais breves. Já "Mecanismo" desponta como "pandêmico" por conta do uso de imagens de arquivo e do caráter de filme de montagem, o que possibilita realização remota.
Outro aspecto que aproxima as duas produções é o geracional, uma vez que os realizadores de ambas são ainda jovens, com filmografias em construção. Já a terceira obra cearense exibida no dia vem de uma geração anterior: "A Filha do Palhaço" é dirigido por Pedro Diógenes, um dos nomes de destaque da produção cearense dos últimos 15 anos.
O longa foi exibido na Mostra Praça com a presença do diretor e parte equipe. Na fala inicial, tanto o cineasta quanto a produtora Caroline Louise ressaltaram a relação que têm com a Mostra de Tiradentes. Em 2010, o longa "Estrada para Ythaca", dirigido por Pedro, Luiz Pretti, Guto Parente e Ricardo Pretti foi vencedor da Mostra Aurora, a mostra competitiva de longas do evento mineiro. A produção foi concretizada no escopo do Coletivo Alumbramento, um marco da produção do Estado.
Protagonizado por Démick Lopes e Lis Sutter, o filme acompanha um pai e uma filha voltando a conviver de repente após anos de separação. De dada maneira, a narrativa espelha aquela vista em "Do tanto de telha no mundo" por ambas se debruçarem em questões familiares mal resolvidas e reencontros. As abordagens e resoluções de cada obra se diferem, mas os olhares lançados para as ideias de família e afeto aproximam as duas.
Dos contextos de produção às temáticas, passando por interesses comuns e modos de realização singulares, os filmes cearenses apresentam ao público parte da força da produção do Estado, representada ainda na 26ª Mostra de Tiradentes por outras obras: os curtas "Lalabis", de Noá Bonoba; "KENZO ou o triunfo da auto-desintegração", de Pedrokas; "Quinze Primaveras", de Leão Neto; "Soberane", de Sara; "As lavadeiras do Rio Acaraú transformam a embarcação em nave de condução", de kulumym-açu; "Barra Nova", de Diego Maia; e o longa "A vida são dois dias", de Leonardo Mouramateus.
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