É mestra em Sociologia Jurídica pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Sociologia pela Sorbonne, Université René Descartes (Paris V). Criou e coordenou a Especialização em Gestão Cultural e o Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos da UECE, onde é professora. Foi secretária municipal de Cultura e Turismo do município de Aracati (CE), superintendente do SENAC no Ceará (2001-2002) e secretária da Cultura do Estado (2003-2006). Foi responsável pela criação da Secretária da Economia Criativa do Ministério da Cultura. Atualmente, dirige o Observatório de Fortaleza do Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR)
Fortaleza, e sua imoral concentração de renda, é nascedouro e curral de minotauros. Impossível não pensar em Foucault e no seu "Vigiar e Punir", reflexão demasiadamente atual em tempos de tanta crueldade e indelicadeza
Todo e qualquer ser humano, onde quer que esteja, tem experimentado o "mal estar da civilização". Mas, o cenário distópico não é somente ameaçador face à violência urbana, expressa no aumento exponencial de furtos e homicídios no Brasil.
A violência também nos espreita nos espaços privados e diz respeito ao esgarçamento dos fios de humanidade que ainda imaginávamos tecer entre nós, humanos. No labirinto das sociabilidades urbanas, não há Ariadne que seja capaz de conduzir para que dominemos o minotauro que nos habita.
A crise é ética, mas também é estética. Se observarmos o cotidiano dos prédios em que vivem as camadas mais privilegiadas da nossa sociedade, podemos constatar a olho nU que a (con)vivência civilizada é um exercício cada vez mais extraordinário. Neles, indivíduos compartilham o seu individualismo possessivo de forma banal. A "besta fera" anda solta e é cada vez mais insidiosa entre os mais remediados.
Basta observarmos os elevadores sociais dos prédios em que vivemos, onde a cultura autoritária e machista brasileira toma forma arrogante, a partir dos donos dos "pequenos poderes", enquanto nos elevadores de serviço, trabalhadores são muitas vezes humilhados e invisibilizados. Na sua pulsão destruidora, o minotauro esbraveja e quer devorar alteridades, padronizar comportamentos, domesticar e entristecer corpos e mentes, perseguir e condenar aqueles que não se submetem.
Fortaleza, e sua imoral concentração de renda, é nascedouro e curral de minotauros. Impossível não pensar em Foucault e no seu "Vigiar e Punir", reflexão demasiadamente atual em tempos de tanta crueldade e indelicadeza.
Tristes elites que, em nome dos seus podres poderes, passam ao largo de sua própria humanidade. Indiferença e incivilidade, comportamentos anticidadãos e religiosidades de fachada, pragmáticas e licenciosas, sobem e descem nos elevadores sociais, ao sabor de conchavos moralistas e dos interesses de plantão.
Ai de ti Fortaleza, dos prédios gradeados e dos muros altos, dos apartamentos com quartos exíguos sem janelas para os que servem aos seus patrões e, vale destacar, sem flores em seus balcões.
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