A psicanalista Claudia Molinna é também advogada, especialista em Direito Penal e Médico. Foi uma das primeiras Delegadas da Mulher no Brasil e fundadora da tropa de elite da Polícia Civil de Pernambuco, o GOE - Grupo de Operações Especiais. Atualmente, é vice-presidente da Associação dos Delegados e Delegadas da Polícia Civil do Estado de Pernambuco
Foto: Pexels/ Ketut Subiyanto
A fadiga mental devido ao uso excessivo de telas
A fadiga mental é o novo mal-estar do século. Invisível, mas devastadora, ela se manifesta quando a mente chega ao limite da atenção, da concentração e da paciência.
É o cansaço que não vem do corpo, mas do excesso de estímulos, de notificações, de decisões e de demandas que o cérebro moderno tenta administrar sem descanso. Antes da era digital, a fadiga mental existia, mas tinha outra natureza e intensidade.
O cansaço vinha de tarefas concretas e ritmos mais previsíveis, como o trabalho manual, o estudo prolongado, a leitura, o cálculo, a escrita à mão. A mente se esgotava por esforço intelectual ou físico, mas depois descansava naturalmente. O corpo parava, o ambiente se silenciava e o cérebro se reorganizava.
Nas décadas anteriores à hiperconectividade, a pausa era parte do cotidiano. O caminho até o trabalho era um momento de observação. As refeições, um espaço de conversa.
O domingo, um tempo sagrado de descanso. As demandas mentais existiam, mas havia fronteiras. O dia acabava quando o trabalho terminava. A mente tinha tempo para se recompor.
Hoje, essa fronteira desapareceu. A tela está sempre acesa, o cérebro nunca desliga e o descanso virou uma meta inalcançável. Antes, o cansaço mental era episódico; agora, é contínuo.
A diferença é que a fadiga deixou de ser um sinal de esforço e passou a ser um modo de vida. Em outras palavras, antes a mente cansava e se recuperava; agora, ela se desgasta sem pausa. A vida moderna transformou a atenção em moeda e o tempo de silêncio em luxo.
Pesquisas da Universidade de Helsinque apontam que o cérebro humano suporta, em média, apenas quatro horas diárias de alta performance cognitiva,antes de entrar em declínio. A partir daí, a capacidade de foco diminui e o erro se torna mais frequente.
Estudos do Massachusetts Institute of Technology (MIT) mostram que alternar rapidamente entre tarefas, hábito comum em quem vive conectado, reduz a eficiência mental em até 40%. Isso significa que quanto mais tentamos fazer tudo ao mesmo tempo, menos produtivos e mais exaustos nos tornamos.
Assim, podemos afirmar que a mente contemporânea está em colapso, porque nunca desliga. Trabalhamos, respondemos mensagens, consumimos notícias, e ainda tentamos relaxar rolando a tela do celular. O cérebro, porém, não foi projetado para viver em modo contínuo de alerta.
Esse estado prolongado eleva o cortisol, o hormônio do estresse, prejudicando o sono, o humor e até o sistema imunológico.
O mais preocupante é que a fadiga mental se disfarça de normalidade. Chamamos de “rotina intensa” o que, na verdade, é sobrecarga e de “foco” o que já é exaustão. A ciência, porém, aponta caminhos simples para recuperação.
Pesquisadores da Universidade de Stanford comprovaram que pausas conscientes, de apenas cinco minutos a cada hora de trabalho, aumentam a clareza mental e reduzem o estresse.
Caminhadas leves, contato com a natureza e exercícios respiratórios também auxiliam na regeneração do córtex pré-frontal, área ligada à tomada de decisões e à criatividade.
A mente precisa de intervalos para se recompor, assim como o corpo precisa de descanso entre os treinos. O silêncio, o ócio e a pausa voltam a ser formas de inteligência. A fadiga mental é o preço de um mundo acelerado, mas também o aviso de que pensar bem exige tempo.
Cuidar da mente não é luxo, mas sobrevivência emocional. O cérebro cansado é o novo alerta do nosso tempo. Ouvir esse sinal pode ser a diferença entre viver em modo automático e voltar a viver de verdade.
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