A psicanalista Claudia Molinna é também advogada, especialista em Direito Penal e Médico. Foi uma das primeiras Delegadas da Mulher no Brasil e fundadora da tropa de elite da Polícia Civil de Pernambuco, o GOE - Grupo de Operações Especiais. Atualmente, é vice-presidente da Associação dos Delegados e Delegadas da Polícia Civil do Estado de Pernambuco
Como o vazio profissional se transforma em burnout
Burnout é o sinal extremo de que algo dentro de nós foi ignorado por tempo demais. Ouvir esse sinal é o primeiro passo para recuperar a vida, o equilíbrio e a dignidade emocional
Foto: Thais Mesquita em 2022
Um outro burnout, mais silencioso e devastador, que é o burnout do vazio
Burnout não é apenas cansaço. É uma falha elétrica entre o corpo e a alma, um colapso que começa silencioso e cresce quando a rotina deixa de fazer sentido.
Durante muito tempo, acreditou-se que o burnout surgia apenas do excesso de trabalho, mas a ciência e a experiência clínica mostram algo mais complexo, ou seja,o esgotamento também nasce do trabalho vazio. Trabalhar demais adoece, mas trabalhar sem propósito destrói por dentro.
O burnout decorrente do excesso é o mais visível. São horas estendidas, demandas impossíveis, falta de pausa, pressão constante e o sentimento de que nunca se fez o bastante. O corpo tenta acompanhar, até que não consegue mais. Surgem insônia, irritabilidade, lapsos de memória, crises de ansiedade e uma exaustão que não passa com descanso. É o corpo dizendo que o ritmo ultrapassou o limite humano.
Mas existe um outro burnout, mais silencioso e devastador, que é o burnout do vazio. Acontece quando a pessoa trabalha muito, mas o trabalho não tem significado. Quando as tarefas não se conectam com valores, quando o esforço não gera reconhecimento, a energia investida não volta em forma de sentido.
Nesse cenário, mesmo uma carga horária moderada pode se tornar insuportável. A alma se retrai, o entusiasmo desaparece, o mundo perde cor. O esgotamento deixa de ser físico e se torna existencial.
Em ambos os casos, o impacto emocional é profundo. A pessoa passa a sentir que perdeu a si mesma dentro da rotina, que deixou de ser protagonista da própria vida. O burnout rouba identidade, clareza, motivação e esperança. Por isso, o tratamento não se resume a descanso. Ele exige reelaboração interna, reconstrução de limites, resgate de propósito e reorganização do modo de viver.
Prevenir o burnout significa reconhecer que o corpo não é máquina e que a mente não suporta funcionar no automático, por longos períodos. É também respeitar pausas, estabelecer fronteiras, buscar sentido no que se faz e ter coragem de mudar o que destrói.
Em muitos casos, a cura começa quando a pessoa admite que não quer apenas sobreviver no trabalho, mas viver de forma plena e alinhada consigo.
Burnout é o sinal extremo de que algo dentro de nós foi ignorado por tempo demais. Ouvir esse sinal é o primeiro passo para recuperar a vida, o equilíbrio e a dignidade emocional.
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