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Lula encurralado e os reflexos na reeleição de Elmano
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Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa

Lula encurralado e os reflexos na reeleição de Elmano

.A permanência de Elmano no Palácio da Abolição dependerá menos da lealdade ao lulismo e mais da habilidade em sustentar entregas, ressignificar o papel do Estado e ampliar o diálogo com lideranças municipais e sociedade civil
Tipo Opinião
A comitiva cearense visitou um Centro de Reciclagem na China (Foto: Governo do Estado do Ceará/Divulgação)
Foto: Governo do Estado do Ceará/Divulgação A comitiva cearense visitou um Centro de Reciclagem na China

A política brasileira vive um momento delicado, marcado por assimetrias de poder e rearranjos institucionais que desafiam a arquitetura da República. A sucessão de derrotas do governo Lula no Congresso Nacional, em matérias de relevância estratégica, tem exposto mais do que uma fragilidade pontual de articulação: revela o esgarçamento do presidencialismo de coalizão e a emergência de um semipresidencialismo informal, no qual o Executivo já não governa, mas negocia sua própria sobrevivência. Esse processo não começou agora. Ganhou força com a queda de Dilma Rousseff, avançou com Michel Temer e atingiu seu auge no governo Bolsonaro, quando o Congresso passou a operar com capacidade de chantagem institucional.

A governabilidade, nesse novo arranjo, tornou-se refém de uma equação instável entre emendas impositivas, fidelidade parlamentar volátil e disputas internas no próprio campo governista. Nos últimos meses, o governo Lula sofreu reveses significativos no Parlamento: o Congresso derrubou o veto presidencial e impôs a prorrogação da desoneração da folha de pagamento até 2027; alterou o marco temporal das terras indígenas; impôs derrotas na política de saneamento básico e, mais recentemente, reverteu o decreto do Executivo que aumentava o IOF sobre operações de crédito, em mais uma demonstração de força da base informal conservadora e empresarial. Mas o problema não se resume à Esplanada. O impacto mais profundo dessa crise se manifesta nos estados.

A crise em Brasília tem congelado a tramitação de projetos estratégicos e travado o fluxo de investimentos federais - especialmente aqueles voltados para infraestrutura, habitação, saúde e segurança. Governadores aliados, como Elmano de Freitas, no Ceará, enfrentam um duplo desafio: por um lado, precisam manter a sintonia política com o Planalto; por outro, veem atrasar ou esvaziar-se agendas prioritárias de seus governos por conta do bloqueio imposto pela lógica congressual. Dessa forma, quando o Executivo federal é encurralado, essa engrenagem emperra - e com ela, a capacidade de entrega nos estados. Isso abre espaço para narrativas oposicionistas locais que exploram a ineficiência como retórica, mesmo sem apresentar projeto consistente de desenvolvimento.

Se a dança política seguir esse ritmo, a disputa estadual de 2026, portanto, será mais orientada por resultados concretos e capacidade de gestão. A permanência de Elmano no Palácio da Abolição dependerá menos da lealdade ao lulismo e mais da habilidade em sustentar entregas, ressignificar o papel do Estado e ampliar o diálogo com lideranças municipais e sociedade civil. Governar, neste cenário de alianças incertas, será também um ato de resistência institucional.

 

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