Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa
Desenha-se novo xadrez geopolítico, em que potências tradicionais perdem influência para atores emergentes que não se sentem vinculados aos consensos do pós-1989. China, Índia, Rússia, Brasil e outros países articulam agendas próprias
Foto: Sergio Lima / AFP
Opositores do governo do presidente Jair Bolsonaro se manifestam com cartazes e camisetas com os dizeres â.GenocÃdio foraâ.. durante discurso na sessão do Congresso Nacional em BrasÃlia, em 3 de fevereiro de 2021. - O Congresso brasileiro elegeu na segunda-feira dois aliados do presidente Jair Bolsonaro à frente do Senado e da Câmara, uma importante vitória do lÃder da extrema direita em sua busca por revigorar seus esforços de reeleição para 2022. (Foto Sergio Lima / AFP)
A ordem mundial edificada no pós-Guerra Fria — baseada no multilateralismo, em organismos como ONU, OMC, OMS, Anistia Internacional e Unesco — vive um processo de erosão que já não pode ser ignorado. O que antes parecia um arcabouço sólido de cooperação global, capaz de arbitrar conflitos e estabelecer padrões universais de direitos humanos, agora se vê fragilizado, marcado pela incapacidade de responder a crises complexas.
O motor dessa decadência é multifacetado, mas um elemento se impõe com força: o avanço da extrema-direita no cenário global. Do trumpismo nos Estados Unidos ao bolsonarismo no Brasil, passando pela ascensão de líderes ultranacionalistas na Europa e na Ásia, o discurso antiglobalista ganhou tração. O resultado é um ataque frontal às instituições multilaterais, vistas por esses grupos como entraves à "autonomia" dos Estados e ameaças à identidade nacional.
Esse movimento não apenas questiona a legitimidade desses organismos, mas mina sua funcionalidade. A ONU, que já enfrentava críticas por sua burocracia e lentidão, agora se vê refém de vetos políticos e divisões ideológicas cada vez mais intransponíveis no Conselho de Segurança. A OMC, criada para mediar disputas comerciais, assiste ao ressurgimento do protecionismo e à multiplicação de guerras tarifárias. A Unesco, guardiã da cultura e do patrimônio, sofre cortes orçamentários e boicotes. E entidades como a Anistia Internacional e a OMS, que baseiam sua atuação na defesa da saúde e dos direitos humanos, são alvos de campanhas de deslegitimação que tentam reduzir seu alcance.
No pano de fundo, desenha-se um novo xadrez geopolítico, em que potências tradicionais perdem influência para atores emergentes que não se sentem vinculados aos consensos do pós-1989. China, Índia, Rússia, Brasil e outros países articulam agendas próprias, muitas vezes em competição com a estrutura institucional herdada do século XX.
A questão que se impõe é se estamos diante de uma crise passageira ou do colapso estrutural da ordem multilateral. Os sinais apontam para um cenário em que o sistema internacional, antes ancorado em regras e mediações coletivas, caminha para uma era de competição aberta.
Se, no pós-Guerra Fria, acreditou-se que a interdependência econômica e os organismos internacionais seriam capazes de evitar grandes rupturas, hoje vemos que tais mecanismos estão fragilizados justamente quando o mundo enfrenta desafios que exigem respostas globais — das mudanças climáticas às crises migratórias e pandemias. Talvez não estejamos apenas assistindo ao fim da ordem pós-Guerra Fria, mas ao início de um mundo mais instável e selvagem, em que o jogo geopolítico se torna, novamente, um tabuleiro de poder bruto.
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