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O desafio de formar jovens leitores em tempos de Inteligência Artificial
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Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa

O desafio de formar jovens leitores em tempos de Inteligência Artificial

.A inteligência artificial deve ser entendida como meio, não como fim. Sua utilização precisa estar subordinada a um projeto pedagógico que valorize a leitura literária, o diálogo em sala de aula e a formação do gosto estético
Tipo Opinião
Ser educado com a inteligência artificial tem um custo e um efeito direto na qualidade das respostas (Foto: Pexels / Pavel Danilyuk)
Foto: Pexels / Pavel Danilyuk Ser educado com a inteligência artificial tem um custo e um efeito direto na qualidade das respostas

A escola brasileira enfrenta hoje um paradoxo. De um lado, dispõe de tecnologia baseada em inteligência artificial, capaz de personalizar percursos de aprendizagem e ampliar o acesso a conhecimentos antes restritos. De outro, vê-se diante da tarefa de formar jovens leitores em um ambiente saturado por estímulos digitais que privilegiam a velocidade e a fragmentação da informação. O resultado é um cenário em que ler, atividade que exige tempo, concentração e esforço interpretativo, disputa espaço com interações imediatas e superficiais. O desafio não é apenas pedagógico, mas também cultural e político.

O hábito da leitura está diretamente associado à capacidade de exercer cidadania crítica, compreender o mundo em sua complexidade e participar dos debates democráticos. Em tempos de desinformação viralizada por algoritmos, a leitura torna-se ainda mais estratégica: quem não lê com profundidade fica refém de narrativas rasas e de manipulações discursivas. Pesquisas recentes sobre educação indicam queda nos índices de proficiência leitora entre estudantes brasileiros, especialmente no Ensino Médio. Esse quadro se agrava em contextos de desigualdade social, nos quais a escola muitas vezes é o único espaço de contato sistemático com livros.

A presença da inteligência artificial pode potencializar soluções - como plataformas de recomendação de leitura adaptadas ao nível do estudante -, mas também corre o risco de acentuar a lógica da substituição: trocar a experiência de ler pelo consumo de resumos automatizados. É necessário, portanto, estabelecer um ponto de equilíbrio - já que a inteligência artificial deve ser entendida como meio, não como fim. Sua utilização precisa estar subordinada a um projeto pedagógico que valorize a leitura literária, o diálogo em sala de aula e a formação do gosto estético. Mais do que decodificar textos, trata-se de estimular a interpretação, a imaginação e a empatia - dimensões que nenhuma máquina reproduz integralmente.

Nesse horizonte, projetos que buscam a incorporação reflexiva do letramento digital na comunidade escolar, defendidos por parlamentares como o deputado estadual Acrísio Sena e adotados em estados como o Piauí, sinalizam caminhos possíveis de integração crítica e criativa entre tecnologia e formação leitora - uma vez que formar jovens leitores em tempos de IA exige políticas públicas consistentes: bibliotecas vivas, programas de incentivo à leitura e valorização permanente dos professores. Se a leitura é condição de liberdade, cabe à sociedade não terceirizar essa responsabilidade para algoritmos. A inteligência artificial pode apoiar, mas a centralidade da formação leitora continua sendo demasiadamente humana.

 

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