
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
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Ultimamente tenho ouvido as expressões “pai de pet” e “mãe de pet”, em tom depreciativo, tendendo para o deboche e pouco caso. “Bicho tem que ser tratado como bicho mesmo” é o vaticínio comum dos fiscais da vida alheia.
Pelo jeito, para algumas pessoas, criar animais com carinho e cuidado significa alguma forma de desperdício de sentimento ou estagnação automática dos nossos destinos. “Como assim não tem filhos nessa idade? E ainda cria bicho? O que anda fazendo da sua vida?”, parecem indagar silenciosamente. Caso você já tenha filhos adultos, sua chance de absolvição pode aumentar um pouco, mas só um pouquinho.
Os juízes desse tribunal de distribuição de amor raciocinam por exclusão: você poderia estar sustentando uma criança pobre ao invés de comprar essa ração especial que carrega debaixo do braço. O fato é que, geralmente, quem pensa assim, nunca ajuda ninguém, sejam humanos ou animais e, se duvidar, nem rega uma planta.
Quem ama e cuida bem de animais de estimação procura garantir o melhor para eles, o que não parece ser nenhum pecado ou heresia social. Quem os chama por nomes humanos, compra brinquedos, conversa com eles e até explica e se despede quando vai dar uma saidinha, não está optando definitivamente pelo abandono da humanidade, nem significa que nutra um desejo secreto de se isolar em cavernas, comendo gafanhotos e mel. Quem dá bom dia, prepara a ração da manhã, brinca e passeia com seu companheiro animal não está dizendo ao mundo que seu amor é exclusivo, mas justamente demonstrando que amar é uma ação diária, rotineira e até mesmo uma disciplina, com hora certa para descer e caminhar pelo quarteirão.
E se você puxar conversar no elevador perceberá que ali tem uma pessoa que está aprendendo a abrir suas emoções e cultivar seus sentimentos através daquela coisa peluda. Experimente elogiar aquele filho de quatro patas que você verá olhos brilharem e talvez fique sabendo de curiosidades da vida daquele que lhe abano o rabo e, quem sabe, veja algumas fotos no celular ou até mesmo um Instagram personalizado.
Pode parecer clichê, mas realmente os pets nos ensinam a amar e jamais nos criticam. Alguém já viu um animal dizer que você está gordo, careca ou deveria se vestir melhor? Alguém já ouviu falar que um animal trocou de dono (ou tutor, como preferem alguns) porque ele perdeu o emprego, não pode mais andar ou falar? Será que algum pet desistiria da gente e nos abandonaria porque envelhecemos e damos muito trabalho?
Quando brigamos por alguma coisa que fizeram, não discutem e sempre nos dão razão. Afastam-se, humildes e resignados, esperando um momento qualquer para arriscarem uma lambidinha de reconciliação. E nos perdoam imediatamente os excessos, como se dissessem que a vida é muito curta para guardar ressentimentos e que toda hora é hora diversão, espreguiçar ou comer algo bom.
É através dessa oferta desinteressada de afeto, companhia, reciprocidade e lealdade que aprendemos muito mais que os pequenos truques que os fazemos trocar por petiscos.
Temos familiares, amigos, companheiros de trabalhos, colegas de faculdade e academias. Eles só têm a nós. Somos suas fontes de alimento, companhia, segurança e amor, e o vínculo que se forma é eterno. É por isso que o tempo deles é todo nosso. Somos suas obsessões e eles estão sempre por perto, conferindo e se certificando se estamos bem. O mínimo que podemos fazer é retribuir.
Dizem que suas vidas são curtas porque já aprenderam tudo o que deveriam, que é amar incondicionalmente, até mesmo quem debocha de seus pais.
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