
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Para quem não é do meio, supervisão em psicanálise é como um pit stop para a mente do terapeuta: ele leva seus casos para um colega mais experiente, que, com ouvidos atentos e sobrancelha arqueada, ajuda a enxergar detalhes que o outro não percebeu — sejam eles sutis lapsos do inconsciente ou um simples tropeço da vida prática.
É um espaço sério, sim, mas que às vezes se vê invadido por episódios tão inusitados que fariam Freud largar o charuto para rir. Por vezes, psiquiatras são também psicanalistas. Enfim, tudo é terapia. Ou não.
Tudo começou quando um paciente, com a calma de quem comenta o tempo, apontou: no carimbo do psicanalista estava escrito “Psiquiantria” em vez de “Psiquiatra”. Aí o psicanalista procurou supervisão.
— Muito bem, o que temos para hoje? — perguntou o supervisor, ajeitando os óculos e lançando aquele olhar de coruja para o colega.
— Não sei se foi algo da massa do inconsciente, mas aconteceu...
— ...
— Talvez uma livre associação desmedida, um afeto desproporcional, ou até um fragmento de sonho que conseguiu emergir...
— Hum.
— Quem sabe um ato falho...
— ...
— Ou um lapso chistoso, desses que escapam...
— Do que você diab... digo, você está falando de quê mesmo?
— Do carimbo.
— Carimbo...
— Sim, do carimbo errado.
— Carimbaram você com algum rótulo indesejado? Isso acontece...
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— Hein?
— Foi sua mãe? De novo?
— Não, amigo, estou falando do meu carimbo.
— Ah, você carimbou alguém.
— Não. Quer dizer... se bem que, ultimamente, ando meio crítico mesmo...
— Então está trazendo para a supervisão essa sua pulsão carimbística...
— Não tinha pensado nisso...
— Você se considera um carimbista, tipo os de cartório? “Reconhecendo” a firma das pessoas, o dia todo?
— Agora que você falou...
— Vamos elaborar: você se queixa de carimbar as pessoas. Como isso acontece?
— Na verdade, eu quis trazer o fato de não ter percebido o erro no meu carimbo. Como é que eu não vi isso durante anos?
— Erro?
— Sim, da escrita da profissão.
— Erro na profissão?
— Não, no nome da profissão. O carimbo está errado.
— Hum... você não se sente apto a carimbar?
— Rapaz, estou falando do carimbo físico, o que a gente usa para receitar.
— O que é que tem?
— Está errado. Tá escrito “Psiquiantria” em vez de “Psiquiatra”. Com N, de “antro”.
— É natural um desejo reprimido se expressar assim...
— Mas não fui eu que fiz o carimbo! O desejo por antros seria, então, do cara da loja de carimbos?
— Você acha errado?
— O quê?
— Sentir desejos por antros?
— Antro é antro, quem quiser que vá. Estou questionando é como não notei o erro. Isso me soa melancólico.
— Soou ou “Sou eu”?
— Acho que, no fundo, todo mundo tem um “N” perdido em si.
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