Polêmica das patentes de Pokémon e Pokémon Pokopia
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Davi Rocha é um gamer inveterado e professor universitário com uma pitada de publicitário. Sua paixão por videogame o leva a tentar desvendar as camadas mais profundas das narrativas interativas e mecânicas dos jogos atuais. Com uma análise apurada e uma abordagem que une teoria e prática, apenas aborda os principais lançamentos, mas também conecta pontos interessantes entre a cultura pop e estratégias de marketing e comunicação
Polêmica das patentes de Pokémon e Pokémon Pokopia
O anúncio de Pokémon Pokopia gera polêmica ao misturar estética inspirada em Minecraft com mecânicas próprias, reacendendo discussões sobre Nintendo, patentes e o mercado de games
Foto: Divulgação/Pokémon/Minecraft
Pokopia, Minecraft e o paradoxo das patentes da Nintendo
Quando a Nintendo revelou Pokémon Pokopia em uma Nintendo Direct recente, a minha sensação de déjà-vu foi imediata. Até comentei isso no episódio do meu podcast, o DeByte: o jogo pareceu pra mim um “Minecraft com tempero Pokémon”. O motivo não era só o visual em blocos, mas o conjunto de elementos mostrados no trailer.
O protagonista, uma versão humanizada do pokémon Ditto, interagia com o ambiente copiando poderes de Pokémons, mas a estética de mundo cúbico e a mecânica de cavar blocos para abrir caminho ou esculpir o cenário me lembraram demais o game icônico da Mojang Studios, hoje parte do cardápios de desenvolvedores da Microsoft.
A cena que mais chamou atenção no trailer de lançamento do jogo foi a que mostrou a física da água: ao cavar na parede, o líquido escorre em blocos sequenciais, exatamente como acontece em Minecraft!
Eu não fui o único que notou essa similaridade. A reação nas redes foi instantânea. Muitos jogadores acusaram a Nintendo de hipocrisia: afinal, a empresa é conhecida por processar ou perseguir estúdios menores que ousam criar algo “parecido” demais com suas marcas.
Agora, ela mesma surge com um jogo que parece beber diretamente da fonte de outro fenômeno global.
Para alguns, Pokopia poderia até confundir jogadores mais casuais, que enxergariam no título um “Minecraft com skin de Pokémon”.
Foto: Divulgação/Barcellos Tucunduva Advogados
Marcelo Mattoso, advogado especialista em Mercado de Games e eSports
Há quem veja de outra forma. Comparações com Dragon Quest Builders, por exemplo, indicam que o visual em voxels já se firmou como um subgênero.
Assim, Pokopia não estaria simplesmente copiando Minecraft, mas seguindo um modelo de mercado que outras grandes empresas já exploraram.
E, no plano jurídico, a questão se complica ainda mais.
Como me explicou Marcelo Mattoso, advogado do escritório Barcellos Tucunduva Advogados (BTLAW), especializado em games e eSports, estética ou “estilo de jogo” não são passíveis de patente — apenas execuções muito específicas de certas mecânicas o são, como ocorre em mercados como o norte-americano e o japonês.
No Brasil, por exemplo, a jogabilidade não pode ser patenteada, ficando protegida apenas por direitos autorais (código, arte, trilha sonora) e por marcas (nomes, logotipos, personagens).
Essa diferença cria uma situação curiosa. Mesmo que, no Brasil, Pokopia não corra risco, em outros países seria possível questionar algumas mecânicas caso houvesse patentes aplicáveis.
E é justamente aí que reside o problema: patentes de gameplay, como a recém-registrada pela Nintendo para mecânicas de invocação de aliados, criam insegurança jurídica e funcionam quase como uma sombra sobre o desenvolvimento.
O efeito prático, como o próprio Mattoso destacou, é que estúdios menores, com menor poderio jurídico, podem acabar se autocensurando antes mesmo de testar ideias interessantes, que podem ser confundidas com outras já existentes de empresas detentoras de patentes — e de um exército de advogados —, como a Nintendo.
No fim, Pokopia pode ser mais que um simples spin-off de Pokémon: pode marcar um ponto de virada na indústria. A Nintendo, conhecida por proteger suas marcas, lança um jogo que convida comparações diretas — e isso é útil.
Ao testar limites de mecânicas, estética e patentes, a discussão sobre o que é original e o que é influência fica mais clara, e o mercado se ajusta.
O resultado pode ser positivo: mais transparência sobre inspiração legítima, menos medo injustificado e mais espaço para experimentação. Se der certo, teremos uma indústria mais consciente, com Pokopia servindo de catalisador — não para processos, mas para referências.
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