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Discos voadores padês e nativos
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Discos voadores padês e nativos

Há muito as universidades devem um olhar fora do senso comum, principalmente os historiadores. Uma investigação sobre Quixadá ser essa Macondo do Sertão Central e ser visitada, na fabulação dos terráqueos, por "aparelhos" que não são aviões nem estrelas
Tipo Crônica
Discos voadores padês e nativos (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Discos voadores padês e nativos

Talvez meus olhos e meu corpo estejam rijos demais para avistar naves espaciais e seres não terráqueos, em Quixadá e Quixeramobim. Por último, os cotidianos brutos, os atropelos do tempo e afobações desnecessárias. Pode ser isso! Minha sensibilidade embaçada não permitiu ainda transfabular com a egéria no Semiárido.

Percebo assim porque há de se despir o juízo para enxergar a etérea possibilidade. Sei que naquele sertão pegando fogo talvez haja algo incomum e outros mundos sublimes além do mesmo nosso de cada segunda-feira.

E há muito as universidades devem um olhar fora do senso comum, principalmente os historiadores, sobre o mítico ou alucinante dali. Uma investigação sobre Quixadá ser essa Macondo do Sertão Central e ser visitada, na fabulação dos terráqueos cearenses e forasteiros, por "aparelhos" que não são aviões nem estrelas nem pterossauros.

 

Até Rachel de Queiroz garantiu ter avistado uma alumbração

 

Ali, o anormal é não ter visto algo indizível no firmamento. Desafortunados são os "normais"! Disseram-me isso ao repórter, mas o cronista se meteu querendo saber mais.

Até Rachel de Queiroz, em 1960, garantiu ter avistado no céu da Não Me Deixes uma alumbração em forma de objeto que não era um boeing e muito menos o Sputnik - lançado três anos antes. "Eu conheço o Sputinik", fincou a escritora para dar credulância.

Teria o que nos olhos do povo de Quixadá e de Antônio Conselheiro, em Quixeramobim? E também do Cego Aderaldo?

Um universo assombroso ou mentiroso esquadrinhado entre vales desmedidos e monólitos trazidos de outras galáxias. As montanhas que insistem em ficar inventando histórias...

 

Há pessoas que têm uma verdade de o corpo não desmentir nada

 

Tem gente que conta balela, mas há pessoas que têm uma verdade de o corpo não desmentir nada. Acredito também no conto bem urdido de muitos deles. Caso do pai do bodegueiro Leonardo que me narrou jurando sobre a memória sumida e um coma de 15 anos.

O pai caíra de uma burra quando se surpreendeu com uma nave acintosa. Uma luz que assaltou o cérebro e ele nunca mais foi ninguém. Um homem da lida, dos bichos, do comércio e, por causa do contato com o desconhecido, ficou imprestável. Não era o demônio, não teve a ver com religião. Faleceu depois de um silêncio inviolável numa cama.

Leonardo não crê em Alzheimer para o pai, não deu tempo de caducar nem havia motivo para se prostrar aos 40 e poucos anos. Foi a tantos médicos e se houve diagnóstico humano, preferiu sentar verbo no que pudesse tirar da enfadonha normalidade costumeira de Quixadá nos anos 1960.

 

Desde quando vem a oralidade coletiva sobre Quixadá ser um entreposto ultraterrestre

 

Tenho vontade de investigar desde quando vem, e de onde partiu, a oralidade coletiva e perene sobre o privilégio de Quixadá ser um entreposto ultraterrestre. E de um povo que enxerga extraordinários nos céus diferentes de lá.

O Tácito Rolim, professor da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, numa pesquisa de mestrado sobre a "guerra fria" e as disputas entre EUA e URSS em torno da "corrida espacial e armamentista" resvala em alguns vestígios.

Não era o foco da investida científica dele a suposta tara de discos voadores e outros seres por Quixadá. Porém ao coletar episódios controversos na imprensa brasileira e estrangeira acabou mapeando, na década de 1950, uma série de fenômenos descritos como clarões, estrondos e objetos luminosos.

 

Isso sou eu supondo! Há um imaginário luminoso a ser palmeado

 

Os quixadaenses - assim como boa parte do globo terrestre - podem ter testemunhado pelos céus do Sertão Central, os norte-americanos e os russos se amostrarem num falocentrismo espacial e atômico.

Isso sou eu supondo! Há um imaginário luminoso a ser palmeado pela antiga Estrada do Algodão e vicinais. As pedras gigantes também podem depor se desejarem romper um silêncio ainda padê e nativo. Talvez e eu desejo.

 

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