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Cucas, demissões e as facções
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Demitri Túlio é editor-adjunto do Núcleo de Audiovisual do O POVO, além de ser cronista da Casa. É vencedor de mais de 40 prêmios de jornalsimo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. Também é autor de teatro e de literatura infantil, com mais de 10 publicações

Cucas, demissões e as facções

É uma incoerência mais de 292 trabalhadores demitidos nos cinco Cucas localizados em bairros dominados pelas facções
Tipo Crônica
Demitri Túlio: Cucas, demissões e as facções (Foto: CARLUS CAMPOS)
Foto: CARLUS CAMPOS Demitri Túlio: Cucas, demissões e as facções

Carlus Campos, tudo bem? Camarada, ainda não escrevi uma linha da crônica. Mas irei falar sobre a violência das facções e o desmantelamento dos Cucas na periferia de Fortaleza. Em destaque, abordarei o Cuca do Vicente Pinzón que está com as obras paralisadas. No bairro, já são mais de 12 assassinatos em dois meses.

Um terror para os moradores de lá por causa da disputa violenta entre CV e GDE. Sem controle. Talvez, a crônica visual da coluna seja a "resistência" de meninas e meninos que estão fora das facções.

Em vez de armas e homicídios, sua arte retrataria meninas e meninos disputando livros, poesias, palavras, letras e possibilidades. Estariam numa batalha de slam no meio da rua ou num Cuca imprescindível.

Slam, você sabe Carlus Campos, são aquelas poesias certeiras de improviso e repentes arrebatadores.

Pois veja! A crônica começa com a situação delicada e grave no Vicente Pinzón e entorno de lá. O medo no território paralisou as aulas em pelo menos 16 escolas. Não há segurança pública suficiente, ofertada pelo Estado e pelo Município, para alunos, alunas, mães, funcionários e professores irem e virem, sem temor, no bairro.

 

"Uma fonte me fez um alerta, há um Cuca em construção e com obras paralisadas pela Prefeitura de Fortaleza"

 

Há registro de tiroteios entre as facções e ninguém tem filho e filha para vê-los morrer numa bala. Ali, diferente dos bairros privilegiados de Fortaleza, há um desfecho de assassinato sempre à espreita.

Não é exagero e somente tem dimensão do horror quem sobrevive num lugar territorializado pelo crime.

Uma fonte me fez um alerta, há um Cuca em construção e com obras paralisadas pela Prefeitura de Fortaleza. Exatamente no Vicente Pinzón! Evandro (PT) responsabiliza Sarto (PT) e Sarto responsabiliza Evandro...

 

"O equipamento multicultural, idealizado e executado pela ex-prefeita Luizianne Lins (PT), atalhou com prevenção o assassinato e o batismo de centenas de meninos e meninas no crime"

 

O Cuca teria evitado o atual esgarçamento da guerra entre facções que vampirizam Fortaleza? Claro que não, mas há uma contribuição que deve ser lida de outra maneira. O equipamento multicultural, idealizado e executado pela ex-prefeita Luizianne Lins (PT), atalhou com prevenção o assassinato e o batismo de centenas de meninos e meninas no crime.

É parte de uma rede de proteção muito mais eficiente do que armas e viaturas para a Guarda Municipal. Mais absoluta, preventivamente, do que novos presídios construídos pelo Estado, inclusive um de segurança máxima, e a blindagem de mais de uma centena de viaturas da SSPDS.

Não estou confundindo o que é papel do Município e do Estado na área da paz coletiva, não. É proposital o entrançado porque as redes de proteção precisam ser mais integradas - para além do bélico e das carradas de prisões.

 

"É uma incoerência mais de 292 trabalhadores demitidos nos cinco Cucas localizados em bairros dominados pelas facções"

 

Os Cucas, infelizmente, entraram numa rota de desmonte que pode, sim, favorecer o alistamento de crianças, de adolescentes e de jovens nas facções.

Por último, é uma incoerência mais de 292 trabalhadores demitidos nos cinco Cucas localizados em bairros dominados pelas facções - Barra do Ceará, Pici, Mondubim, José Walter e Jangurussu.

Nos cinco equipamentos, a principal política pública municipal voltada para adolescência e juventude perdeu viço e desandou para garotas e garotos que não têm perspectiva num lócus faccionado.

 

"a violência sem controle das facções atravessa de assassinatos e medo os bairros desprivilegiados. E vai invadir, ainda mais, o cotidiano dos bacanas. E sem poesia nem slam..."
 

 

Fora isso, 292 trabalhadores entraram no modo desespero de desestrutura material, emocional e familiar. Foram demitidos e não receberam, até agora, direitos e rescisões trabalhistas. Evandro Leitão agendou um encontro, na próxima semana, 3/9, com eles. Avisam-me do Paço.

A crônica não está tão crônica, eu sei. Até começou crônica, mas a violência sem controle das facções atravessa de assassinatos e medo os bairros desprivilegiados. E vai invadir, ainda mais, o cotidiano dos bacanas. E sem poesia nem slam...

 

Foto do Demitri Túlio

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