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Fauzi Arap e Maria Bethânia: Gente de teatro
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Fauzi Arap e Maria Bethânia: Gente de teatro

Figura primordial na obra de Maria Bethânia, Fauzi Arap ajudou a cantora baiana a teatralizar mais sua performance no palco. Juntando música, poesia e atuação, eles criaram uma marca que popularizou nomes como Clarice Lispector e Fernando Pessoa
Tipo Opinião
Fauzi Arap em 'Navalha na carne' (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Fauzi Arap em 'Navalha na carne'

Recentemente lançado, "Noturno", novo disco de Maria Bethânia, encerra com trechos do poema "Uma pequena luz", do dramaturgo e professor português Jorge Cândido de Sena. Conterrâneo do poeta, Fernando Pessoa e seus heterônimos foram tema de outro disco da baiana. Registrado no ao vivo "Imitação da vida" (1997), o autor do "Livro do Desassossego" se mistura entre composições de gente que se inspirou nele.

Um dos pontos altos desse disco é o samba-canção "Mensagem", sucesso de 1959 na voz de Isaura Garcia. Com Bethânia, os versos "quando o carteiro chegou e meu nome gritou com uma carta na mão" se encaixam no poema "Todas as cartas de amor são", creditado a Álvaro de Campos. Com muita dramaticidade e sabendo aproveitar pausas e volume, Bethânia contou com uma ajuda fundamental nesse espetáculo: o diretor e roteirista Fauzi Arap.

Percorrendo as fichas técnicas de muitos shows de Maria Bethânia, o nome desse paulistano é recorrente. "Eu não saberia delimitar onde acaba a influência do Fauzi e onde começa a minha. É como se fosse uma relação simbiótica", disse ela à Folha de São Paulo em 1977. Eles se aproximaram 10 anos antes, quando Bethânia apresentava o show "Comigo me Desavim", e ele a peça "Dois perdidos numa noite suja", de Plínio Marcos. Fauzi foi vê-la, deu sugestões e acabou tornando-se seu diretor.

Engenheiro Civil formado, Fauzi Arap se fez ator no fim dos anos 1950 quando entrou para o elenco de "A vida impressa em dólar", do Teatro Oficina. Em 1965, ele se fez diretor numa adaptação própria de "Perto do coração selvagem", de Clarice Lispector. Por acaso ou não, "Comigo me Desavim" contava com a leitura de "Mineirinho", texto da autora ucraniana. Em 1975, foi a vez de se fazer autor, em "Pano de boca", um balanço sobre o teatro brasileiro.

Maria Bethânia e Fauzi Arap(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Maria Bethânia e Fauzi Arap

Se, em 1967, Fauzi pegou o barco andando num espetáculo cenicamente simples, em 1971 ele deu a Bethânia um suporte à altura do seu estrelato. O show "Rosa dos ventos" contava com projeções e o repertório foi dividido em blocos temáticos de acordo com os elementos da natureza - água, fogo, terra e ar. Concebido em meio à ditadura militar, o espetáculo trazia críticas sociais e à censura. O resultado foi que as vendas da baiana pularam da casa dos 10 mil para os 100 mil discos vendidos.

A parceria de Bethânia e Fauzi seguiu simbiótica por décadas. Foi dele, por exemplo, a ideia de suceder o disco "Pássaro proibido" (1976) com o "Pássaro da manhã" (1977), uma forma de aliviar o peso da época. Neste segundo, inclusive, fez história o texto de Fauzi que Bethânia lê antes de "Um jeito estúpido de te amar". Quem lembra? "Eu vou lhe contar que você não me conhece . Eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve". Fauzi Arap morreu em 5 de dezembro de 2013, vítima de um câncer de bexiga, aos 75 anos. Reconhecido e premiado, ele deixou uma longa história registrada nos teatros e, para sempre, quando Maria Bethânia usar do microfone para declamar um texto, um poema, Fauzi deverá ser reverenciado.

Leia também | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

DJ Chay e Daniel Groove
DJ Chay e Daniel Groove

A lista de Daniel Groove

Não tem nem um mês que chegou ao mundo a Melina, "a menina doce", como descreveu seu pai, Daniel Groove. Melina é uma parceria muito bem sucedida do cantor e compositor com Charlenne Campos, artista e performer. A pedido da coluna, o músico cearense montou uma playlist de coisas vem apresentando à filha. Dando boas vindas a Melina e os parabéns a Groove e à DJ Chay, segue essa seleção especial para ser ouvida, por enquanto, em volume baixo.

1. A arca de Noé - As coisas que eu escutava na infância são muito influência no meu trabalho. E eu não poderia deixar de citar esse (disco), que foi importante na minha infância e na da minha primeira filha, a Luana. É algo que eu sempre escolho pra Melina ficar escutando. É Vinicius de Moraes musicado, né? Não tem como dar errado.

2. Os Saltimbancos Trapalhões - Eu tinha esse vinil até um dia desses. É um disco maravilhoso, eu ouvi muito. Também toco muito pras minhas filhas.

3. Quem será que gosta mais - Eu ainda quero fazer um trabalho infantil por que tenho composições nesse sentido. Essa eu fiz pra minha primeira filha e eu já toco pra Melina, enquanto as canções dela não vêm. É uma canção muito importante no meu trabalho e é totalmente voltada pra esse ambiente lúdico.

4. Sítio do Pica-Pau Amarelo - Eu já gostava dessa antes de entender de música. Eu não gosto de canção infantilizada, feita pra criança. E acho que o Gilberto Gil fazendo essa música pra uma trilha dos anos 1970 não pode ficar de fora.

5. Leãozinho - Acho o tipo de canção que é feita com uma profundidade muito grande.

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