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Retrospectiva 2021: Resenhas tardias 2
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Retrospectiva 2021: Resenhas tardias 2

Não deu tempo falar de tudo lançado em 2021 no mundo da música. Logo, segue a segunda parte das resenhas que poderiam ter sido lançadas este ano e não foram
Aldir Blanc e João Bosco, parceiros desde os anos 1970, se reencontram em disco  (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Aldir Blanc e João Bosco, parceiros desde os anos 1970, se reencontram em disco

Para quem acompanha as listas de músicas mais ouvidas nas plataformas digitais, o mundo se resume ao universo do pop e sertanejo. Sim, os números revelam o sucesso das estratégias de marketing que massificam artistas que tocam à exaustão. Mas resolver a equação entre qualidade e quantidade é algo que sempre dá dor de cabeça. Fato é que há um universo de artistas que lançaram trabalhos ao longo do ano e quem nem chegaram perto dos Top 10 ou Top 100. São artistas que buscam outro tipo de comunicação, que vai além de uma linguagem populista e exige uma audição mais atenta.

É o caso da cantora Liniker, que estreou sua carreira solo com "Índigo Borboleta Anil", álbum em que vasculha suas referências musicais, de Milton Nascimento ao pagode dos anos 1990. Ou da cantora paulistana Céu, que tirou 2021 para lançar dois álbuns em que explora seu lado intérprete. E tem ainda o veteraníssimo Tony Bennett que, antes de anunciar a aposentadoria, lançou um novo disco ao lado de Lady Gaga. Esses e outros nomes estão na primeira parte dessas resenhas tardias, que você pode ler na coluna Discografia no O POVO+. Seguindo nessa linha, confira mais discos lançados ao longo deste ano e que merecem ser ouvidos com atenção. Boa leitura.

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Capa do disco 'Elza Soares e João de Aquino'
Capa do disco 'Elza Soares e João de Aquino'

Elza Soares & João Aquino

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Elza Soares teve chance de incorporar muitas personas. Entre as mais famosas, está a sambista cheia de ginga e performance que fez balançar a sociedade brasileira dos anos 1960. E tem a recente cantora engajada que atraiu olhares jovens ao falar de raça, feminismo, violência e outros temas que vêm ganhando relevo. A Elza que entrou no estúdio Haras, no Rio de Janeiro, nos anos 1990 para gravar acompanhada apenas do violão de João Aquino era outra. Uma terceira que baixou bandeiras e controlou o requebrado para se concentrar na voz - uma das maiores vozes do mundo, inclusive. A parceria de Elza e João é um bálsamo que surpreende do começo ao fim. "Drão" e "Super-homem, a canção", ambas de Gilberto Gil; "Juventude Transviada", de Luiz Melodia; "Hoje", de Taiguara; e "Como uma onda", de Lulu Santos, estão entre as surpresas do disco. Ou melhor, a surpresa é Elza renascendo entre tantas quedas e mostrando que sua música vai além de qualquer persona. 

Capa do disco 'Aldir Blanc Inédito'
Capa do disco 'Aldir Blanc Inédito'

Aldir Blanc Inédito

Motivos para homenagear Aldir Blanc não faltam. Não bastasse ser um dos letristas mais importantes do Brasil, ele foi ainda inspiração para o mais importante instrumento de financiamento da cultura durante o período da pandemia. Falecido em maio de 2020, o compositor carioca teve seu baú revirado num projeto idealizado pela sua esposa, Mary Lúcia. O disco traz um time de grandes nomes da música brasileira, todos reverenciando aquele que foi chamado por Caymmi como o "ouvires do palavreado". "Aldir Blanc Inédito" conta com 12 letras inéditas musicadas por nomes como Guinga, Leandro Braga, Moacyr Luz e João Bosco. Este último, parceiro histórico de Aldir, abre o disco com "Agora eu sou diretoria", que remete aos sambas clássicos da dupla. Além de João, o disco conta com vozes como Chico Buarque, Leila Pinheiro, Joyce e Maria Bethânia, que emociona até uma pedra com "Palácio de Lágrimas".

Capa do disco 'The Lockdown session', de Elton John
Capa do disco 'The Lockdown session', de Elton John

Elton John - The Lockdown Sessions

Muitos artistas usaram o tempo dentro de casa, imposto pela pandemia, para criar projetos dentro do possível. Usando e abusando da tecnologia, foi nessa perspectiva que nasceu o novo disco de Elton John. O músico, que havia anunciado sua aposentadoria para este ano teve sua série de shows, reuniu um time variado de músicos em duetos construídos remotamente para este que deve ser seu último álbum. Dua Lipa, Gorillaz, Stevie Nicks e Stevie Wonder estão entre os convidados. "Learn to fly", com o duo texano Surfaces, é um dos destaques com seu som absurdamente pop. Sucesso do Pet Shop Boys, "It's a sin" pouco acrescenta com o duo Years & Years. Já "Nothing Else Matters" perde força no duo com Miley Cyrus. Mas Eddie Vader chega em "E-Ticket" pra subir a temperatura num rock que lembra "The Bitch is back".

Capa do disco 'Drama', de Rodrigo Amarante
Capa do disco 'Drama', de Rodrigo Amarante

Rodrigo Amarante - Drama

Oito anos separam "Cavalo", primeiro disco solo de Rodrigo Amarante, de "Drama". Se o primeiro era marcado pelos vazios de uma nova vida fora do Brasil e fora da "roda da fortuna" dos Los Hermanos, este segundo disco mostra o músico carioca mais disposto a dialogar com seu público. Entre sons incidentais e faixas mais acessíveis, "Drama" traz uma seleção de anti-hits que instigam e encantam o ouvinte. Nem tudo é simples, mas a beleza das composições fica mais latente. É o caso de "Tango", que convida a uma dança. E de "Tara", uma bossa melancólica, que traz uma orquestra incidental que remete aos anos de baile. Apegado ao conceito que mistura o novo e o velho, "Drama" tem cordas, percussões, sopros, guitarras e uma infinidade de sons que vão se misturando em composições que crescem a cada nova escuta.

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