Tributo do Selo Sesc revela as dores e amores de Wilson Baptista
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Foto: Divulgação/ Selo Sesc
Wilson Batista é homenageado em disco do Selo Sesc
Bem antes do rap, rock, hip hop, era ao samba que cabia o papel de contar as histórias das cidades e seus personagens. Alguns dos mais célebres sambistas da velha guarda assumiam um papel que muito se assemelha ao de um cronista que vê as histórias na rua, no bairro ou na estação e logo as transforma em canção. É o caso, por exemplo, do pedreiro Bastião, trabalhador valente, que vivia pegando o ônibus errado por que não sabia ler. Já Waldemar, também pedreiro requisitado, constrói casas e prédios, mas não tem onde morar nem o que comer direito.
Esses são alguns dos personagens que habitam o mundo musical de Wilson Batista, filho de pintor de paredes que se tornou artista. Mulato, baixinho, boêmio, semianalfabeto, ele sonhava em ser autor de sambas e chegou a fazer sucesso vendo sua produção gravada por nomes como Cyro Monteiro, Dyrcinha Batista e, principalmente, Aracy de Almeida. Depois, mais para o fim da vida, viu seu nome ser soterrado pelas modernidades que chegavam - triste sina de um país sem respeito pelos seus.
Nascido em 3 de julho de 1913, Wilson Batista recebeu uma homenagem do Selo Sesc que merece atenção. O disco duplo, com encarte recheado de informações preciosíssimas, "Eu sou assim" reúne 34 composições do autor fluminense, em versões inéditas que contam com a adesão de músicos como Andrea Ernest Dias (flauta), Itamar Assiere (piano), Bebê Kramer (acordeom), Jorge Helder (baixo) e João Camarero (violão). Nas vozes, Joyce Moreno, Filó Machado, Pretinho da Serrinha, Larissa Luz e o próprio Wilson Batista.
De fato, é aí que está o ouro de "Eu sou assim". Pouco antes de falecer (em 7 de julho de 1968), Wilson gravou uma fita ao lado do violonista Manuel da Conceição, conhecido como Mão de Vaca, que seria destinada à cantora Thelma. A alagoana radicada no Rio havia gravado um disco dedicado à obra de Nelson Cavaquinho, produzido por Sergio Porto. Mesmo sem sucesso no primeiro, o produtor sugeriu que ela seguisse regravando a obra de grandes sambistas e apontou para Wilson. O tributo de Thelma não se realizou, mas a fita foi copiada, passada de mão em mão e chegou ao produtor Rodrigo Alzuguir.
A voz do autor de "Chico Brito" e "Meu mundo é hoje" foi cercada por arranjos contemporâneos executados pela nata instrumental nacional. E só por isso, o trabalho já pode ser considerado histórico. Embora já estivesse cansado e vendo seu mundo musical sumir, ele coloca emoção na voz firme e macia. E é essa voz que é posta - digitalmente - ao lado da de Ney Matogrosso, para interpretar aquele que talvez seja seu maior sucesso: "Louco (Ela é o seu mundo)".
Loucura é o que se percebe também na história da "Nega Luzia", mulher pobre, que num dia de exagero etílico, "recebeu o Nero", tentou tocar fogo no morro e foi presa. Em auxílio correram os vizinhos, reunidos para pagar a fiança. Essas cenas pontuam todo o disco, entre o cômico e o trágico. Como em "Flor da Lapa", sobre aquela que já foi a "rainha da beleza" e hoje "foge do espelho para não ver a verdade em seu rosto". Ou, pior, a história da porta-bandeira abandonada pelo namorado que se mata por não suportar a vergonha de ser mãe solteira.
Carregando outros dramas sociais, como a violência, o preconceito, o machismo, "Eu sou assim" coloca a obra de Wilson Batista num lugar de merecido destaque. Ele mesmo não tinha a facilidade de escrever o próprio nome, mas registrou ali a história de um Brasil antigo que se repete na atualidade. Ao seu lado, o álbum traz ainda Áurea Martins, Marcos Sacramento, Mônica Salmaso, Cristina Buarque e Ayrton Montarroyos atestando a perenidade dessa obra. Wilson morreu pobre, se sentindo esquecido, sem ver o mesmo prestígio de Cartola, Noel Rosa e outros contemporâneos. Que esta homenagem o ponha no lugar merecido.
Hermínio Bello de Carvalho é compositor, produtor, escritor e lenda. Aos 88 anos, ele reúne vozes para interpretar 15 textos seus, 13 inéditos. Entre elas, Fernanda Montenegro, Alaíde Costa, Ayrton Montarroyos, Maria Bethânia e Paulinho da Viola, este numa versão dilacerante de "Valsa da Solidão".
Wanderléa canta Choros
Foto: Divulgação/ Selo Sesc
Capa dos disco 'Wanderléa Canta Choros'
Aos 79 anos, Wanderlea esbanja vitalidade, frescor e competência interpretando 12 clássicos do chorinho. O álbum é um reencontro com o ritmo que ela interpretava ao lado do Regional do Canhoto, antes de virar estrela da jovem guarda. Dirigido com exatidão por Luiz Nogueira, o álbum reúne peças como "Delicado", "Pedacinhos do Céu", "Doce Melodia" e "Nova Ilusão".
Talismã Negro Maravilhoso
Foto: Divulgação/ Selo Sesc
Capa dos disco 'Talismã Negro Maravilhoso'
Carioca de nascença, mas paulista por vocação, Octávio da Silva virou história com o nome de Talismã. Compositor de sambas-enredo, ele também foi cantor, carnavalesco e artista plástico. Nesse álbum, sua obra é resgatada nas vozes de três de seus pares: Ideval Anselmo, Zé Maria e Marco Antônio, este último também responsável por "Talismã, o Baluarte do Samba", única inédita do projeto.
Armoriando
Foto: Divulgação/ Selo Sesc
Capa dos disco 'Armoriando'
Ana de Oliveira (violino) e Sérgio Raz (viola de 12 cordas) comemoram os 50 anos do Movimento Armorial com um disco que mistura o popular e o erudito. São 10 peças instrumentais de nomes como Antônio Madureira, Clóvis Pereira e Guerra-Peixe, entre outros presentes no movimento arquitetado por Ariano Suassuna.
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