Resenhas tardias 2: Confira mais discos que se destacaram em 2023
Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Resenhas tardias 2: Confira mais discos que se destacaram em 2023
Com homenagens, trabalhos póstumos, inéditos e retomadas, segue a segunda parte das resenhas que não aconteceram em 2023
Rolling Stones - Hackney Diamonds
O que esperar de um disco novo dos Rolling Stones? Mais de 60 anos de carreira, milhões de discos vendidos, turnês lotadas e uma série de revoluções comportamentais no currículo. A banda já provou o que tinha de provar, mas ainda tem energia para abrir o disco com a potente "Angry" e encerrar com a inspirada "Sweet sounds of heaven", dividida com Lady Gaga. Se esse disco é melhor ou pior do que aquele outro lançado sei lá quando, já não faz mais diferença. "Hackney Diamonds" é Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood provando que só morte é capaz de parar o show.
Blur - The Ballad of Darren
Oito anos e uma pandemia depois, o Blur volta com um novo disco. Albarn, Coxon, James e Rowntree se reencontraram e, sem gastar muito tempo em estúdio, lançam 13 faixas inéditas (na edição de luxo). Entre faixas melancólicas, outras mais enérgicas, uma ou outras bem solar, eles mostram que não perderam a mão em compor melodias fortes, buscar timbres perfeitos e contar boas histórias. São poucos elementos fora do rock básico, mas tem um beat ali, umas cordas acolá, sopros e outros detalhes cuidadosamente pensados. Valeu a pena esperar para ver o que o Blur ainda tem a dizer.
Carlos Lyra - Afeto
Falecido em 11 de dezembro, Carlos Lyra teve apenas 10 dias para curtir a homenagem que o Selo Sesc fez aos seus 90 anos. O disco "Afeto" reúne um time estelar de músicos interpretando 14 faixas do compositor carioca, uma das referências da bossa nova. Embalado com o costumeiro luxo do Selo Sesc, o álbum conta com arranjos de João Donato, Marcos Valle, Antônio Adolfo e Gilson Peranzzetta executados por gente como Jorge Helder, Jessé Sadoc e Robertinho Silva. Nas vozes, Fernanda Abreu ("Samba do Carioca"), Ney Matogrosso ("Canção que morre no ar"), Lulu Santos ("Maria ninguém"), Gilberto Gil ("Saudade fez um samba") e outros.
Edu Lobo – Oitenta
Edu Lobo entrou para o clube dos oitentões em 29 de agosto e marcou a data com um disco duplo em que regrava 24 faixas do seu repertório refinado, delicado e precioso. Convidou Zé Renato, Mônica Salmaso, Ayrton Montarroyos e Vanessa Moreno para dividir algumas dessas interpretações, embora ele se mantenha um cantor eficiente e preciso. Há um ar de déjà va em “Oitenta”, mas não é novidade que se espera de um disco de Edu Lobo. Só beleza, e isso ele entrega.
Ricardo Bacelar, Roberto Menescal e Diogo Monzo - Nós e o mar
Desde que fundou seu estúdio particular, Ricardo Bacelar vem gravando um disco ou um single atrás do outro. Só esse ano, teve uma homenagem a Gilberto Gil (dividido com Délia Fischer) e essa homenagem aos 85 anos de Roberto Menescal. Das 10 faixas, 9 são de sua parceria com Ronaldo Bôscoli, o mais sensível dos canalhas da MPB. A exceção é "Bye bye Brasil", parceria com Chico Buarque, que ganha arranjo inédito de Bacelar interpretado por Leila Pinheiro. Entre vozes e faixas instrumentais, o trio presta uma homenagem sincera ao mestre incansável, Menescal.
Rubel - As palavras 1 & 2
Depois de dois discos pautados em intimidade e pessoalidade, Rubel ampliou o olhar e tenta atingir um público maior. O resultado são as 20 faixas de um trabalho em que ele se aventura em estilos como funk, pagode, forró e pop. Os convidados vão de Milton Nascimento a MC Carol. Em meio a isso tudo, é possível encontrar um compositor com talento e disposto ao risco. Mas, com tantas referências, o álbum sobra em ideias (precisava duas do Luiz Gonzaga?), a ponto de esconder os pontos altos. A exceção é "Grão de Areia" que abre o disco num elegante e acessível dueto com Xande de Pilares.
Série Relicário
As ações culturais do Sesc em São Paulo são transformadoras ao ponto de deixar muita secretaria de cultura no chinelo - como se para isso exigisse muito esforço. São muitos palcos que abrigam os mais diversos artistas há décadas, sempre olhando mais para pluralidade, oportunidade e conteúdo, do que para a popularidade mais rasteira. A série Relicário, que estreou esse ano, resgata shows que passaram pelos palcos do Sesc SP desde os anos 1970. Já estão nas plataformas de streaming shows inéditos de João Gilberto (também em CD), Adoniran Barbosa, Zélia Duncan e João Bosco. Tudo cheira a ouro, a pedra preciosa, ao que há de mais valoroso na música brasileira.
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