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Será que ele é? Sidney Magal e o fetiche pela intimidade dos famosos
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Será que ele é? Sidney Magal e o fetiche pela intimidade dos famosos

A vida íntima segue sendo um assunto que movimenta debates, mesmo quando tudo tem que parecer natural. E a música? Um detalhe...
Tipo Análise
Sidney Magal em entrevista para o programa Roda Viva (Foto: Nadja Kouchi/ Divulgação)
Foto: Nadja Kouchi/ Divulgação Sidney Magal em entrevista para o programa Roda Viva

Na segunda-feira, 15, o programa Roda Viva recebeu Sidney Magal para falar de vida e carreira. O ex-cigano estilizado tem uma das carreiras mais curiosas da música pop brasileira. Em 76 anos de vida, mais de 50 deles dedicados à arte, ele lançou muitos discos e um punhado de canções - 5 ou 6 - que foram capazes de mantê-lo ativo, ocupado e vivendo confortavelmente. Como? Sabendo administrar qualidades e limitações, tendo cuidado com o deslumbre do sucesso e mantendo esse punhado de canções fresco na cabeça do público.

Foram quase duas horas de programa onde ele falou desses e de outros temas. Mas o único que realmente interessou foi sua sexualidade. "Então você é bissexual?", perguntou o jornalista Rodrigo Ortega. "Me dou o direito de dizer que eu sou, apesar de nunca ter experimentado nenhuma experiência bissexual", respondeu o outrora "amante latino". Pelo jeito, Magal ainda vai ser muito perguntado sobre o tema e vai dar muita explicação sobre o que já está explicado. Até porque, tendo criado uma persona cheia de adornos e rebolados, não foi uma nem duas vezes que afirmaram que ele era gay.

Para as novas estrelas do pop, falar da vida particular rende mais audiência do que suas músicas. Mas, na época de maior exposição de Magal, ali nos anos 1970 e 80, não era de bom tom se expor em público. Para se ter ideia, Ney Matogrosso fez o que fez a vida inteira, mas só falou abertamente sobre sexualidade há poucos anos. Gal Costa foi desejada por homens e mulheres, posou nua em revista masculina e viralizou num vídeo em que interrompe um repórter que ousa perguntar sobre sua intimidade. O mesmo com Maria Bethânia, que manteve seus amores sob sigilo até ser "flagrada" beijando a boca da estilista Gilda Midani, com quem é casada desde 2017. Demorou até aparecer uma Marina Lima afirmando que "se todo mundo é mesmo gay, o mundo está na minha mão".

Os 1990 pareciam mais abertos quando surgiram Adriana Calcanhotto, Zélia Duncan, Cássia Eller e uma Ana Carolina estampando a capa da Veja com a frase "sou bi, e daí?" em destaque. O rótulo "cantoras ecléticas" gerava dubiedade a quem queria dizer que elas tinham mente aberta não só para a música. Mas os comentários e os índices de crimes envolvendo homofobia provam que não era bem assim: sexualidade segue sendo uma questão e quando envolve o público LGBTQIAPN+ o tabu fica mais sério.

Ainda assim, na última década, o mercado se abriu para artistas que preenchem essa sigla com talento e dignidade. É o caso de Pabllo Vittar, drag queen que atingiu níveis de sucesso internacional impensáveis décadas atrás. "Sou um menino gay que faz drag, que vive sua arte", simplificou o maranhense em entrevista a Pedro Bial. E tem ainda Liniker, cantora trans que fundiu a cabeça do brasileiro que tentava criar entendimento para uma figura de barba e saia, com voz grave que fala de si no feminino. Mas quando ela canta, com sensibilidade dilacerante, nada mais precisa de explicação.

Como essa curiosidade não é de hoje, Gilberto Gil há 44 anos explica os versos de "Super Homem, a canção". Para os que vivem no raso, versos como "Minha porção mulher, que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora" são um atestado de que ele é gay. No entanto, ele conta que viu Caetano Veloso empolgado com a estreia de "Superman" nos cinemas. Vendo o amigo detalhar a performance de Christopher Reeve no papel do homem de Krypton, se impressionou com aquele personagem tão poderoso que se intitulava um "super homem". A resposta foi fazer uma música sobre a força da mulher. Mas qual das duas explicações sobre a canção é verdadeira? Tanto faz, uma não desmerece a outra. Importa é que é uma linda música.

Dolores Duran ganha documentário em exibição no Canal Curta!
Dolores Duran ganha documentário em exibição no Canal Curta!

Aqui me tens de regresso

Quando Dolores Duran faleceu, em 1959, Angela Ro Ro tinha apenas 10 anos. Embora habitassem o mesmo Rio de Janeiro à época, não se conheceram. Mas, com um pouco mais de tempo, poderiam ter sido amigas e parceiras. O apreço pela vida noturna, pela boemia e pela música falando de amores quentes, intensos e marcantes é uma marca em comum dessas duas compositoras.

Outra coincidência é que as vidas de ambas renderam projetos audiovisuais. No caso da compositora de "A noite do meu bem", o filme "Dolores Duran - O coração da noite" está sendo exibido no canal Curta. Dirigido por Juliana Barauna e Igor Miguel Pereira, o documentário narra em pouco mais de uma hora o nascimento de uma artista que aproveitou intensamente sua curta vida se tornando um símbolo da música brasileira pré-bossa nova. Com depoimentos do biógrafo Rodrigo Faour, de familiares, ex-namorados (incluindo João Donato) e admiradores, o filme revela uma mulher que quebrou tabus e conquistou seu espaço. A ativista feminista Jurema Werneck ainda encaixa Dolores no papel da mulher negra, vinda das regiões marginalizadas, que driblou um cenário machista para se fazer artista.

Confira o trailer de "Dolores Duran - O coração da noite":

Algo muito semelhante fez Angela Ro Ro, que também vai ganhar filme. Ainda sem título e sem previsão de estreia, o documentário está sendo realizado por Liliane Mutti, que lançou o longa "Miúcha, a voz da Bossa Nova" (2022). Em fase de pesquisa, o filme sobre a autora de "Amor, meu grande amor" virá desde os primeiros anos da vida artística até o recente reencontro com Caetano Veloso na turnê "Transa". Um show no Teatro Rival, no centro do Rio de Janeiro, foi filmado este ano para registrar a cantora em seu habitat natural, onde ela apresenta clássicos de sua discografia e causa tumultos vexatórios. Vejamos como essas duas versões de uma cantora tão intensa serão retratados nas telas.

DJ Ana Morais lança campanha virtual para gravar primeiro LP solo
DJ Ana Morais lança campanha virtual para gravar primeiro LP solo

Notas Musicais

Campanha

O DJ Alan Morais, mestre dos vinis, está com campanha na plataforma Vakinha pra gravar seu primeiro LP solo, acompanhado da banda Doidos de Asa. Com 12 canções autorais, 11 em parceria com o poeta Carlos Nóbrega, o disco terá participações do baterista Pantico Rocha, do multi instrumentista Alan Kardec, entre outros.

De volta

Norah Jones anunciou para 8 de março o lançamento do seu novo disco, "Visions". Fruto da parceria com o produtor Leon Michael, o primeiro single é "Running", em que ela toca piano, guitarra e baixo, e ele sax e bateria. A julgar por essa prévia, o álbum mostra uma Norah menos, mais pop, e sempre ótima.

Respiro

Acompanhado da harpista Nora-Elisa Kahl, Edson Cordeiro lançou recentemente uma versão de "I have a dream', do grupo ABBA. A releitura faz parte do projeto "Bálsamo", que ele estreou na Alemanha, onde mora desde 2007. O lançamento é da Saravá Discos, selo de Zeca Baleiro, com quem o cantor paulista gravou recentemente.

 

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