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Em mais de 900 páginas, livro faz inventário do rock em Fortaleza
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Em mais de 900 páginas, livro faz inventário do rock em Fortaleza

Livro reúne histórias de mais de 60 anos de rock em Fortaleza contadas por quem viveu cada época
Tipo Análise
Banda Perfume Azul é retratada no livro
Foto: Acervo Fortaleza Sônica Banda Perfume Azul é retratada no livro "Fortaleza Sônica", que conta a história do rock em Fortaleza

Houve uma época, meados dos anos 1960, que a juventude cearense começou a trocar o jogo de bola pela vontade de aprender um instrumento. Mais do que bater aquela pelada na rua, o lance era reunir a turma, tocar alguma coisa e montar a própria banda. "Então proliferou, toda esquina tinha um conjunto musical. Você nota que em Fortaleza começam a aparecer mais lojas de instrumentos musicais", relembra o músico César Barreto, que fez parte da segunda formação dos Rataplans, banda seminal para a história do rock por aqui.

Essa história está contada no livro "Fortaleza Sônica - 50 anos de rock em Fortaleza", escrito pelo músico, sociólogo, designer gráfico, produtor, entre outras funções, George Frizzo. Ele mesmo faz parte dessa história como integrante, há mais de 30 anos, de bandas como SOH, Insanity, Dago Red e Trem do Futuro, entre outras.

Foi durante uma temporada morando na Alemanha que ele, conversando com um amigo músico, começou a relembrar pessoas e grupos que passaram pelas casas e festivais da Capital. Eis o start para o livro.

Banda Jumenta Parida é retratada no livro "Fortaleza Sônica", que conta a história do rock em Fortaleza(Foto: Henrique Dídimo/Divulgação)
Foto: Henrique Dídimo/Divulgação Banda Jumenta Parida é retratada no livro "Fortaleza Sônica", que conta a história do rock em Fortaleza

Dos Brasas até os Selvagens à Procura de Lei, "Fortaleza Sônica" dá voz a muitos personagens que construíram essa história que cobre bem mais do que os 50 anos cravados no título. Foram 12 anos de pesquisa, iniciados por volta de 2010, que começa pelos pioneiros e encerra num último capítulo chamado "Geração Superdrive", que toma emprestado o nome do programa que Frizzo apresentava na rádio do Órbita. Ali, ele tomou contato com a geração mais recente dessa cena. Nomes como Projeto Rivera, Astronauta Marinho, Maquinas, Old Books Room e It Girl.

SOBRE O ASSUNTO | As lembranças das casas noturnas de Fortaleza

Para dar conta de tanta gente, o livro tem mais de 900 páginas de depoimentos e histórias curiosas. Em uma delas, Luiz Alberto Zoo conta como o Jumentaparida, banda da qual era cantor e guitarrista, abandonou os covers para se tornar autoral, tudo por conta de uma forcinha de Jonnata Doll. Tem um mergulho profundo nos bastidores do disco da banda O Peso e conta como o Cidadão Instigado deixou de ensaiar no closet da mãe de Fernando Catatau para se tornar uma grife no rock nacional.

Já Luisinho Magalhães conta da época que fez parte dos Faraós, no bairro da Piedade. Tocando pelos subúrbios, eles até chamaram a atenção de um jovem que queria ser cantor: Fagner. Luisinho sugeriu que ele fizesse a própria banda e aí nasceram Os Magnatas.

Além das dezenas de entrevistas, nem todas bem identificadas no livro, George Frizzo reuniu sua coleção de fitas demo, revistas, fanzines e matérias de jornais como um apoio fundamental para a pesquisa. Somado a isso, tem sua experiência trabalhando como produtor no Ceará Music, fazendo cartazes para o Hey Ho, tocando em várias bandas, circulando pela noite e fazendo parte da cena. "Eu sempre procurei me envolver com a movimentação musical de Fortaleza", conta ele que delimitou o trabalho à Capital.

Apesar do recorte, as histórias de "Fortaleza Sônica" reverberam por muitos cantos do Ceará, do Brasil, do mundo. Por exemplo, o que dizer de Fernando Catatau detalhando como transformou-se de um ouvinte de forró no líder do Cidadão Instigado? E tudo por conta de uma fita K7 do Pink Floyd dada pelo amigo Gabriel Carcará.

 Banda Alcalina é retratada no livro "Fortaleza Sônica", que conta a história do rock em Fortaleza(Foto: Enrico Rocha/Divulgação)
Foto: Enrico Rocha/Divulgação Banda Alcalina é retratada no livro "Fortaleza Sônica", que conta a história do rock em Fortaleza

E assim o livro segue relembrando de casas que marcaram a noite de Fortaleza, festivais que ajudaram a projetar a cena, como o London Rock e o Festival da AABB, discos, lojas, bairros, ruas e outros elementos dessa cartografia musical. Lendo de forma linear ou sorteando uma página qualquer, "Fortaleza Sônica" é um trabalho necessário de resgate de memórias sobre uma cidade que tende a jogar seus artistas mais autênticos para o underground.

Ou, como afirma Catatau no prefácio: "o sistema nos transforma naturalmente em pessoas underground e, pelas dificuldades, que são muitas, aprendemos desde cedo que temos que fazer a coisa acontecer e viramos inventores de nós mesmos".

Artista plástico e compositor Batista Sena
Artista plástico e compositor Batista Sena

Notas Musicais

Reunião

A banda cearense Chá de Flor se reunirá neste domingo, 15, após mais de 40 anos de sua formação. O reencontro faz parte do lançamento do filme de Paulo Wagner sobre Batista Sena, compositor e artista plástico. O show, que traz composições inéditas de Sena resgatadas pela banda, acontece no São Luiz, às 17h30min.

Fim de Ciclo

Felipe Cazaux lançou no Dia dos Namorados o último single do seu EP com a banda Groovaux. "Mesmo assim" mistura soul e MPB para falar sobre o lado bom e o "nem tanto" de se lançar a um novo amor. Reconhecido na cena blues, Felipe quer se abrir a novas sonoridades neste novo projeto.

Reencontro

Oito anos depois de "Egomaquia", Oscar Arruda anuncia um novo disco e mais uma vez ao lado de Felipe Couto, ex-Astronauta Marinho. O primeiro single, já nas plataformas, é "Sem pressa", uma balada psicodélica sobre o ritmo - louco - da vida.

Ricardo Pinheiro, baterista da banda Renegados
Ricardo Pinheiro, baterista da banda Renegados

A lista de Ricardo Pinheiro

Um dos músicos mais requisitados da cena local, o baterista dos Renegados aponta 5 bandas cearenses importantes na sua história

Trem do Futuro - Uma banda de rock progressivo dos meus amigos Marcelo, Paulo Rossglow e Ulisses Germano que tenho total admiração. Letras em português que nos levam a viagens astrais e instrumental rico em arranjos. Já tocamos juntos muitas vezes e participei de inúmeros projetos com Paulinho.

Felipe Cazaux - Um amigo de casa, como falamos aqui no Ceará. Um guitarrista vocalista que vem do metal e do blues, com quem tenho o prazer tocar junto e ter gravado o álbum "Never Go Down", em 2013. Blues rock pesado. Esse é fera.

Dr. Raiz - Galera do Cariri que fez o mais puro e forte rock nordestino, no início dos anos 2000. Também tocamos juntos com Renegados em vários eventos da época. O pessoal deu um tempo para seguir suas carreiras solo, mas está escrito na história. Viva o Cariri, berço da cultura cearense!

Eletro Cactus - Uma banda também de amigos que gravaram um álbum massa, também na linha nordestina. Maracatus e baiões eletrizantes.

Caixão - Banda de uma galera nova que tem influência direta do psicodélico pesado. Tenho ido aos shows e curtido muito o som. Instrumental bem arranjado e performance ótima.

 

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