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A realidade de órfãos da pandemia
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Editorial opinião

A realidade de órfãos da pandemia

Tipo Opinião

Ainda que o cenário de pandemia esteja mais controlado hoje, as cicatrizes deixadas pela Covid-19 são profundas na sociedade. São, afinal, mais de 660 mil mortes causadas pela doença no Brasil, sendo mais de 27.700 óbitos só no Ceará. E cada vida a menos é uma tragédia particular para uma família.

Há o cenário de quem se vai. E há a realidade de quem fica. Dentro de qualquer crise, as pessoas mais vulneráveis têm risco ativo de serem punidas de forma mais dolorosa. Entre os mais expostos sempre há as crianças e adolescentes, que, no caso da pandemia, podem ter a vida completamente mudada por uma perda.

Ainda em outubro de 2021, durante a terceira onda da Covid-19 na Europa, estudo do Imperial College estimava que 5 milhões de crianças e adolescentes de 0 a 18 anos haviam perdido um pai, mãe ou cuidador. Muitos destes ficaram órfãos de ambos os responsáveis, sendo jogados num cenário de completo desamparo, transformando a imensa dor da perda em um problema social a ser enfrentado pelo Poder Público. Essa realidade foi tema de reportagem publicada no O POVO+, primeiro multistreaming de jornalismo da América Latina, na última quarta-feira, 30.

Até pela falta de articulação federal no combate à crise da Covid-19, não existem dados oficiais sobre a orfandade na pandemia. O número mais próximo é o da Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), que aponta a existência de pelo 12.211 crianças de até 6 anos órfãos de um dos pais em decorrência da Covid-19 entre 16 de março de 2020 e 24 de setembro de 2021. Isso sem considerar a subnotificação e os casos de crianças mais velhas e adolescentes. Segundo o mesmo banco de dados, são, no mínimo, 385 casos no Ceará.

O primeiro passo para criação de uma política pública é o avanço na confiabilidade dos dados. É necessário trabalhar com pessoas reais, não apenas estimativas. São muitos dados a ser computados, o que demanda um trabalho integrado. Onde estão vivendo essas crianças e adolescentes hoje? Quem assumiu a responsabilidade sobre elas? Quem as sustenta? Elas seguiram estudando, nas escolas?

A partir da identificação individual de crianças e adolescentes em estado de vulnerabilidade pela orfandade causada pela pandemia, chega o momento decisivo. Os entes públicos — governos federal, estadual e municipal — trabalham juntos para criar uma política pública que acolhimento, sustento e educação. 

A crise da Covid-19, com repercussões sanitárias, humanitárias e econômicas, se estende há mais de dois anos. Ainda que a sensação de normalidade tenha aumentado com a redução de algumas das medidas restritivas, como distanciamento social e uso de máscaras em locais abertos, os reflexos do desafio global de enfrentamento à pandemia seguem expostos no cotidiano.

Tal qual o ápice da crise, o acolhimento dos órfãos da Covid é desafio a ser enfrentado coletivamente pelos entes públicos. É uma questão humanitária, com inúmeras possíveis repercussões sociais agregadas. Uma integração entre pastas para identificar e dar suporte para essas crianças e adolescentes é uma política pública possível e necessária.

 

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