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A fé no Aterro
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Professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi), professor permanente do programa pós-graduação em Políticas Públicas (Uece) e professor permanente do programa de pós-graduação em Sociologia (Uece)

A fé no Aterro

Já são quase 30 anos de presença daquele lugar no mapa da cidade. Como pensar na realização da festa de Réveillon sem o Aterro? Nossa economia passa, necessariamente, por lá
Imagem do réveillon deste ano no Aterro da Praia de Iracema: no próximo dia 31, em vez de três dias de festa, conforme anunciado, haverá apenas um dia de shows  (Foto: Aurélio Alves)
Foto: Aurélio Alves Imagem do réveillon deste ano no Aterro da Praia de Iracema: no próximo dia 31, em vez de três dias de festa, conforme anunciado, haverá apenas um dia de shows

Quando o prefeito Juraci Magalhães anunciou a intenção de construção do Aterro da Praia de Iracema, e depois realizou a primeira entrega da obra, muitas e muitas foram as críticas ao empreendimento, visto como o “terror das algas”. Já são quase 30 anos de presença daquele lugar no mapa da cidade. Como pensar na realização da festa de Réveillon sem o Aterro? Nossa economia passa, necessariamente, por lá.

Não só a economia, mas também a fé e sua presença pública. Nos últimos dois sábados o local foi espaço de demonstração da dimensão da fé cristã em sua “diversidade”. No dia 18/10, uma famosa marca que atua no ramo de cosméticos e autocuidado proporcionou a realização de uma celebração gospel, com grandes nomes da música gospel, levando mais de 750 mil pessoas às areias da praia, e outras 500 mil à transmissão do evento nas redes.

Do início da tarde ao começo da madrugada, evangélicos, em sua maioria jovens, se puseram em cânticos e orações, demonstrando a pujança do segmento na cidade. Imagens do evento foram compartilhadas por políticos evangélicos que atuam no Ceará para darem mostras do “poder do Evangelho”, por óbvio entendido, aí, como poder “deles”. É em nome dessa multidão, sugerem, que pautam sua atuação.

No dia 25/10, foi a vez de milhares de católicos darem demonstração de sua resiliência enquanto credo majoritário da cidade, sob a condução do arcebispo de Fortaleza (de presença midiática completamente distinta de seu antecessor) e da presença midiática do Padre Reginaldo Manzotti, que hoje ocupa posição já liderada por outros sacerdotes, como Marcelo Rossi.

Também nas areias do Aterro, católicos (em sua maioria mulheres) deram mostras da permanência de sua identidade religiosa, objetivada em imagens, terços, orações, caravanas, cânticos e, em especial, a presença do clero como legitimador do que se professa em eventos como aquele.

De tudo isso, podemos considerar a realização desses eventos, que põem a religião para fora dos templos, como estratégia de visibilidade ímpar em busca de legitimação (evangélicos) e/ou manutenção de hegemonia (católicos) em meio a sociedade cada vez mais pluralizadas em termos religiosos. Viva, ou graças a, Juraci!

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