Novo secretário encontra um Ceará diferente e mais perigoso
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Caron, todavia, conheceu um Ceará diferente. Foi superintendente entre 2011 e 2013. Viu, então, a violência, que já era elevadíssima, sair completamente do controle. E acompanhou o motim da Polícia Militar na virada de 2011 para 2012. A partir dali, o governo perdeu o comando da tropa. Os homicídios dispararam 32% em 2012. Pela primeira vez foram mais de 3 mil, o recorde histórico. Em 2013, cresceram 17% e chegaram a mais de 4 mil em novo recorde. Em 2014, quando Caron já tinha ido embora, a situação se estabilizou. O aumento foi de 1%. Mas, 1% em cima do maior número de homicídios da história. Novo recorde. Marca superada em 2017, já na gestão André Costa. O segundo pior número foi em 2018, também com o secretário que se despede.
O novo gestor da Segurança conheceu uma realidade de insubordinação na Polícia Militar, de um governo sem comando da tropa. Viu a ascensão de Capitão Wagner (Pros), hoje na iminência de entrar na campanha para prefeito de Fortaleza. E viu um Estado com número de homicídios em disparada sem controle. Tem conhecimento do descalabro.
Porém, aquela crise da segurança tinha ingredientes diferentes. No que já era visto como simplificação equivocada e hoje fica patente como evidente erro de interpretação, a violência era até 2014 explicada pelas autoridades como decorrência do crack. Ou era pantomima para a plateia ou os gestores não faziam nem ideia do que estava acontecendo. Pelos resultados, desconfio que a segunda resposta esteja mais perto da verdade.
Até 2015, as facções eram abordadas no Ceará como algo episódico. Dizia-se que onde o crime era organizado no Ceará era no roubo a bancos. Não na violência cotidiana. Não nos homicídios. Em 27 de abril de 2016, à rádio O POVO CBN, o então secretário Delci Teixeira falava da glamorização das facções. "Qualquer pirangueiro que joga uma pedra no vidro da janela de uma delegacia, por exemplo, já é considerado o novo Al Capone. Aí, chega no presídio como se fosse um bandido de extrema periculosidade", ironizou.
Com André Costa, mas não apenas por causa dele, as facções passaram a ser parte inegável do cotidiano da segurança. Não apenas o número de homicídios disparou, como a crueldade e barbárie passaram a ser constantes, com intenção de mostrar força. Em 2017, por exemplo, houve onda de decapitações (10 pelo menos), corpos carbonizados (13) e com sinais de tortura (14). Em 2018, foi a vez da proliferação de chacinas - nove, com 53 mortes. Em 2019, após a onda de ataques, as facções se enfraqueceram. Desde o motim da Polícia, parecem se reorganizar.
Essa é uma nova realidade com a qual Sandro Caron se depara.
O novo secretário tem boas relações com o grupo governante no Ceará. Em outros momentos, houve indicação de gente da Polícia Federal que os governantes locais mal conheciam. Roberto Monteiro, por exemplo, conheceu o então governador Cid Gomes ao chegar para tomar posse, em 2007. Na cerimônia, trocou o nome de Cid com o de Ciro. Delci Teixeira teria sido caso semelhante. Vinham por recomendações. Caron também chega bem recomendado, mas tem relações aqui. Recebeu de Camilo Santana (PT) o título de cidadão cearense, proposto pelo então presidente da Assembleia, Zezinho Albuquerque (PDT), secretário das Cidades e agora seu colega de secretariado. O título foi entregue em 2016, três anos depois de Caron ter saído do Ceará. Ele não foi superintendente com Camilo governador.
Curiosamente, no mês no qual assumiu a superintendência no Rio Grande do Sul, em 2013, ele comandou operação que prendeu secretário estadual - em governo do PT - e municipal - a gestão era do PDT. Os dois partidos com os quais mais conviverá agora no governo. Na época, após o cumprimento dos mandados, Caron comunicou as prisões ao governador Tarso Genro e ao prefeito José Fortunati.
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