Como o governo Bolsonaro vê os professores e a educação
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O ministro acha um absurdo que estudantes aprendam sobre uso de camisinha. Chamou de "assunto lateral". Ele acha que é incentivo ao sexo. O ministro talvez não saiba: adolescentes fazem sexo, faziam antes de existir escolas e continuarão fazendo. As doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce são um drama que persiste e pode piorar muito com a postura que o ministro pretende adotar.
Mostrou-se contra discussões de gênero. "E não é normal. A biologia diz que não é normal a questão de gênero. A opção que você tem como adulto de ser um homossexual, eu respeito, não concordo", ele afirmou.
Na sequência, falou sobre que é importante educar para a tolerância. "(...) mas normalizar isso, e achar que está tudo certo, é uma questão de opinião". Sim, o ministro da Educação acha que respeitar as pessoas como seres humanos normais, independentemente de orientação sexual, é questão de opinião. Afirmou ainda que a homossexualidade é resultado de famílias desajustadas, sem atenção de pai ou mãe. "Basta fazer uma pesquisa". Queria ver a pesquisa que o ministro fez. Poderia me aprofundar sobre isso, mas a colega Eduarda Talicy já disse o que precisaria ser escrito a respeito.
Sobre professor transgênero: "Se ele não fizer uma propaganda aberta com relação a isso e incentivar meninos e meninas para andarem por esse caminho.... Tenho certas reservas."
Um inventário de preconceitos, desconhecimento e descrença nas possibilidades da educação. O ministro não crê no diálogo aberto, franco, democrático e transparente com os estudantes sobre esses temas. Acha que os estudantes são manipuláveis e desprovidos de senso crítico. Ribeiro disse que a fala foi tirada de contexto e não quis ofender ninguém. Até por isso me prolonguei na descrição, para reproduzir o contexto em que ele falou.
Mas, pior que a visão sobre os estudantes é a percepção sobre os professores. “Hoje ser um professor é ser quase que uma declaração que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa.” É uma lástima.
O ministro dizia isso a pretexto de defender a valorização dos professores. De pagar melhores salários, qualificar. Olhar para além do aluno e da infraestrutura escolar. A diretriz é correta. Mas, olhe a visão que ele tem do professor. Acha que é quem não teve aptidão para mais nada. E que virá o governo redentor para mudar isso. Desrespeita a atual geração de professores inteira. É impossível ser ministro da Educação com essa visão. Mais que isso, é impossível que a educação dê certo com ministro com essa visão.
Há professores, a maioria eu diria, que amam o que fazem. São vocacionados. Muitos não trocariam por outra profissão. Aliás, olhe para qualquer profissional, de qualquer área. Ele teve professores. Se ele é um bom profissional, teve bons professores.
Não existe boa educação sem professores valorizados. E a valorização não é só dar melhores salários e qualificá-los, como propõe o ministro. Porque isso, na visão de Ribeiro, seria tirá-los de uma condição lastimável para dar dignidade. A valorização pressupõe reconhecer que, mesmo mal pagos, com precárias condições de trabalho, os professores são a mais digna de todas as profissões. Há grandes mestres, cujo trabalho notável é mantido independentemente dos governos - por vezes apesar dos governos.
O ministro ainda acha que a reabertura das escolas não é problema do MEC, não cabe à pasta se envolver.
É impossível que a educação dê certo com a visão que tem o ministro. Sem a educação dar certo, é impossível que o governo dê certo.
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