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Uma semana de terremoto político
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Uma semana de terremoto político

Tipo Análise
 Polícia Federal realizou ontem a Operação Marquetagem, fase da Lava Jato em Fortaleza (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE  Polícia Federal realizou ontem a Operação Marquetagem, fase da Lava Jato em Fortaleza

Há uma semana, a campanha eleitoral transcorria cordial e plácida, movimentada pelos usos da imagem de Camilo Santana (PT), pelo contágio de Covid-19 de José Sarto (PDT) e pela insólita briga entre dois candidatos chamados Heitor por causa do nome. Esta semana, Camilo desceu das tamancas e foi para o enfrentamento contra Capitão Wagner (Pros). O candidato do Pros interrompeu a campanha blasé que vinha conduzindo, disse que o gesto de Camilo é sinal de desespero do grupo, bateu em Sarto dizendo que não era ataque e chamou Ciro Gomes (PDT) para a briga. Ontem, a Polícia Federal realiza operação com base na rumorosa delação dos irmãos Batista, da JBS, que acusaram Cid Gomes e seus secretários Arialdo Pinho e Antônio Balhmann de só liberarem créditos públicos aos quais a empresa tinha direito mediante doações eleitorais. O governismo e a principal força de oposição tiveram uma semana alucinante. Falta menos de um mês para a eleição.

A subida de Camilo ao ringue inflamou a campanha. Aquela coisa harmoniosa, na qual os candidatos faziam campanha como se não houvesse adversário - a não ser que fosse xará - deixou de existir. Quando o primeiro morteiro é disparado, fica difícil conter daí em diante. Da operação da PF pouco se sabe, até porque a Justiça conteve a divulgação de informações. Sabe-se da delação, feita em 2017. Ela foi explosiva.

Na época que as denúncias surgiram, já se vão mais de três anos, Cid Gomes (PDT) rebateu de forma veemente a acusação de Wesley Batista. Disse que o processaria. Mas, a versão do empresário da Friboi é verossímil. E os valores e datas encontrados no Portal da Transparência, conforme mostrou o jornalista Carlos Mazza, são compatíveis em grande parte com o relato. Embora haja, também, informações que não batem.

 Assista à delação de Wesley Batista, da JBS, sobre o Ceará:

A operação virou instantaneamente artilharia de campanha do Capitão Wagner contra o governismo. Contra a campanha de Sarto. O assunto tomou as redes sociais, espalhou-se pelo Whatsapp, numa mistura de fatos e suposições. O fato de a PF não divulgar quase nada supostamente seria para resguardar os investigados. A falta de informações, por outro lado, faz proliferar a boataria, as versões. Pior para quem eventualmente não tem culpa.

O fato é que as acusações são graves, até hoje não houve explicações claras e convincentes e o assunto deixou para explodir na campanha.

O momento da operação

Quanto mais perto da eleição, mais as suscetibilidades ficam afloradas. No dia 14 de setembro, na semana em que se encerraram as convenções, a Polícia Federal amanheceu na sede do Pros, partido que o Capitão Wagner preside. Para não parecer casuísmo, defender um lado ou outro - porque nessa época todo mundo acha que a gente está fazendo campanha para o adversário, como se a gente não tivesse mais o que fazer - vou repetir o que falei naquela ocasião, porque acho a mesma coisa: a ocasião da operação é inconveniente. Repito o que escrevi: "(...) a investigação é importante. A ocasião em que ocorre a operação da Polícia Federal não é a mais adequada. Obviamente, a investigação tem seu ritmo próprio e não deve ser pautada pela política. Porém, uma irregularidade que teria ocorrido nas eleições de 2018 e que é conhecida pelo menos desde fevereiro de 2019, seria desejável que ela não ocorresse no meio das convenções partidárias para as eleições de dois anos depois. Justamente uma semana após a homologação da candidatura do presidente do partido alvo. Que vem a ser Capitão Wagner (Pros), considerado o mais forte candidato de oposição em Fortaleza." Aquela era uma operação sobre dois anos atrás, e essa última é sobre seis ou até dez anos atrás.

Repito ainda: "Quero crer que as investigações, após mais de um ano, só agora estavam maduras para a realização da operação. Assim sendo, de fato deveriam ocorrer independentemente de calendário eleitoral. E, independentemente do momento em que ocorre, a investigação envolve fatos muito graves. Sem dúvida, a investigação se torna um fato eleitoral. É talvez a maior arma de que passam a dispor os adversários do Capitão Wagner." Agora, Wagner tem arma contra seus adversários.

 

Foto do Érico Firmo

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