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O presidente que não quer a culpa
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O presidente que não quer a culpa

Tipo Opinião
Roberto Cláudio ao entregar o cargo. Seguiu para São Paulo e segue atuando politicamente (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Roberto Cláudio ao entregar o cargo. Seguiu para São Paulo e segue atuando politicamente

O preço do litro da gasolina já passa de R$ 5 em no Ceará
O preço do litro da gasolina já passa de R$ 5 em no Ceará (Foto: BARBARA MOIRA)

O presidente Jair Bolsonaro não gosta quando recebe cobranças. Sobre o aumento do preço do combustível, da gasolina, ele disse na manhã de ontem: "A culpa é de quem? É tudo minha?" No fim de janeiro, ele também se esquivou da responsabilidade sobre falta de oxigênio em Manaus. Em abril do ano passado, quando o País chegou a cinco mil mortes pela pandemia, ele disse: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre." De lá para cá, entre outras coisas, ele pediu que a população não usasse máscara, que enfrentasse a pandemia. As cinco mil mortes são hoje 237 mil. No começo do ano, ele disse: "O Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada."

Respondendo à pergunta de ontem de Bolsonaro: não, não é tudo culpa dele. Mas, é obrigação dele atuar junto à complexidade do conjunto de fatores para que os preços baixem. Não é culpa, mas responsabilidade.

Pouco menos de 60% do preço da gasolina envolve o produto e a distribuição. Isso tem impacto do mercado internacional. Há impostos federais e imposto estadual — que tem 25% repassado aos municípios. Os federais são cerca da metade do imposto estadual. Então, é por culpa dos governadores que a gasolina está cara, certo? Só tem uma coisa. No Ceará, essa alíquota é a mesma desde 2016. Se, nos últimos anos, a gasolina ficou mais cara, não foi por culpa do Governo do Estado.

Se Bolsonaro hoje é presidente isso se deve em boa parte ao fato de Dilma Rousseff (PT) ter sido responsabilizada pelo descontrole de preços da gasolina e do gás. A culpa de Bolsonaro não é menor que a de Dilma na gestão desses preços.

Bolsonaro não quer a responsabilidade em nada e, em particular nessa agenda econômica, ele nunca quis. Aliás, disso o eleitor não pode se queixar. Ele deixou muito claro na campanha que não entendia nada de economia. Percebe-se que era sincero. Também disse que não viessem cobrar dele questão econômica, que se fosse perguntar ao "Posto Ipiranga" Paulo Guedes.

O fato é que Bolsonaro não entende por que as coisas estão dando errado. Ele não sabe o que fazer. Já escrevi que ele entendeu errado o que significa ser presidente. Pensou que iria mandar e as coisas iriam acontecer. Imaginou que governar era um ato de vontade, no qual acontece o que se deseja. Andou lendo ou, mais provável, assistindo a contos de fada. Governar significa criar condições para que as coisas aconteçam, trabalhar para que elas ocorram.

Ele imagina: qual parte do preço da gasolina é atribuição minha? Baixa essa parte. Não é esse o ponto. A questão é quais condições macroeconômicas o governo dele cria para que o conjunto dos fatores formadores do preço baixem?

Mas, a culpa é dos governadores? É parte do trabalho dele sentar com eles e debater, buscar alternativas, compensações. Negociar e buscar saídas pactuadas. Ele sabe fazer isso? Coisa nenhuma. Ele só sabe e quer mandar. Vê lá o que aconteceu quando ele sentou com governadores para tratar da Covid-19.

Bolsonaro não quer ser cobrado, não entendeu o que significa governar e dedica todas as suas ações a construir uma reeleição. Que não é nem um pouco improvável.

Roberto Cláudio ao entregar o cargo. Seguiu para São Paulo e segue atuando politicamente
Roberto Cláudio ao entregar o cargo. Seguiu para São Paulo e segue atuando politicamente (Foto: Aurelio Alves)

Longe de Fortaleza, perto da política

O ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) viajou com a família para São Paulo. Longe de seu habitat político, mas não da política. Após a aprovação da autonomia do Banco Central pela Câmara, ele se posicionou nas redes sociais. Foram muitas críticas: "Permitirá a consolidação do forte poder do oligopólio dos grandes bancos; enfraquecerá o poder do controle popular sob as políticas econômicas de governos eleitos; permitirá mais abusos do sistema financeiro e aprofundará as nossas já agoniantes desigualdades. O Brasil ficará ainda mais na mão dos grandes bancos".

Roberto Cláudio faz questão de se manter em evidência e se posicionar politicamente. Não é a troco de nada. A alma quererá reza.

 

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