Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Respondendo à pergunta de ontem de Bolsonaro: não, não é tudo culpa dele. Mas, é obrigação dele atuar junto à complexidade do conjunto de fatores para que os preços baixem. Não é culpa, mas responsabilidade.
Pouco menos de 60% do preço da gasolina envolve o produto e a distribuição. Isso tem impacto do mercado internacional. Há impostos federais e imposto estadual — que tem 25% repassado aos municípios. Os federais são cerca da metade do imposto estadual. Então, é por culpa dos governadores que a gasolina está cara, certo? Só tem uma coisa. No Ceará, essa alíquota é a mesma desde 2016. Se, nos últimos anos, a gasolina ficou mais cara, não foi por culpa do Governo do Estado.
Se Bolsonaro hoje é presidente isso se deve em boa parte ao fato de Dilma Rousseff (PT) ter sido responsabilizada pelo descontrole de preços da gasolina e do gás. A culpa de Bolsonaro não é menor que a de Dilma na gestão desses preços.
Bolsonaro não quer a responsabilidade em nada e, em particular nessa agenda econômica, ele nunca quis. Aliás, disso o eleitor não pode se queixar. Ele deixou muito claro na campanha que não entendia nada de economia. Percebe-se que era sincero. Também disse que não viessem cobrar dele questão econômica, que se fosse perguntar ao "Posto Ipiranga" Paulo Guedes.
O fato é que Bolsonaro não entende por que as coisas estão dando errado. Ele não sabe o que fazer. Já escrevi que ele entendeu errado o que significa ser presidente. Pensou que iria mandar e as coisas iriam acontecer. Imaginou que governar era um ato de vontade, no qual acontece o que se deseja. Andou lendo ou, mais provável, assistindo a contos de fada. Governar significa criar condições para que as coisas aconteçam, trabalhar para que elas ocorram.
Ele imagina: qual parte do preço da gasolina é atribuição minha? Baixa essa parte. Não é esse o ponto. A questão é quais condições macroeconômicas o governo dele cria para que o conjunto dos fatores formadores do preço baixem?
Mas, a culpa é dos governadores? É parte do trabalho dele sentar com eles e debater, buscar alternativas, compensações. Negociar e buscar saídas pactuadas. Ele sabe fazer isso? Coisa nenhuma. Ele só sabe e quer mandar. Vê lá o que aconteceu quando ele sentou com governadores para tratar da Covid-19.
Bolsonaro não quer ser cobrado, não entendeu o que significa governar e dedica todas as suas ações a construir uma reeleição. Que não é nem um pouco improvável.
Longe de Fortaleza, perto da política
O ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) viajou com a família para São Paulo. Longe de seu habitat político, mas não da política. Após a aprovação da autonomia do Banco Central pela Câmara, ele se posicionou nas redes sociais. Foram muitas críticas: "Permitirá a consolidação do forte poder do oligopólio dos grandes bancos; enfraquecerá o poder do controle popular sob as políticas econômicas de governos eleitos; permitirá mais abusos do sistema financeiro e aprofundará as nossas já agoniantes desigualdades. O Brasil ficará ainda mais na mão dos grandes bancos".
Roberto Cláudio faz questão de se manter em evidência e se posicionar politicamente. Não é a troco de nada. A alma quererá reza.
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