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Não é uma questão de escolha
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Não é uma questão de escolha

Tipo Opinião
 Comércio sofre restrições no horário de funcionamento (Foto: Barbara Moira)
Foto: Barbara Moira  Comércio sofre restrições no horário de funcionamento

Domingo termina o prazo do atual decreto no Ceará, que estabelece toque de recolher, fechamento de espaços públicos após 17 horas, bloqueio entre municípios. Neste fim de semana haverá novo decreto. A pressão é enorme sobre o Governo do Estado para que haja flexibilização. Mas, olha, pelos números da Covid-19, o crescimento da mortalidade, a pressão sobre os hospitais, o crescimento dos casos, creio ser possível dizer com algum nível de segurança que, infelizmente, restrições vão continuar. Não sei se no mesmo nível, mas acho improvável que haja redução. Mais que isso, parece-me que há possibilidade bastante real de as restrições aumentarem.

O ponto é que aumentar ou não as restrições não é uma questão de escolha. Vários segmentos da economia cobram que não haja limitações, apesar do avanço da pandemia. Lamento informar: isso não vai acontecer. Não é no Brasil, não é em Fortaleza de governo "de esquerda", não é no Ceará, com governador "comunista". Em canto nenhum alguém que tenha responsabilidade de tomar a decisão vai deixar os casos avançarem de forma desenfreada sem estabelecer medidas que as autoridades de saúde recomendam. Teria de ser um governante muito inconsequente, muito negligente para ver gente morrendo, falta de UTIs e dizer: "Os médicos recomendam, mas não vou fechar o comércio."

Isso não vai acontecer. Não aconteceu em lugar nenhum. O presidente Jair Bolsonaro diz que, por ele, abriria tudo. Fala isso porque não depende dele.

Não é uma questão de escolha. Se a pandemia piora, as restrições aumentam. Simples assim. A melhor forma de garantir a normalidade é controlar o coronavírus. O instrumento para isso é a vacina. Enquanto não chega, é o isolamento.

Por que piorou

Por que a situação está pior em fevereiro do que estava em novembro: as festas de fim de ano promoveram aglomerações, sobretudo de jovens e principalmente nos bairros mais ricos. Eles disseminaram a nova onda da Covid-19. Daí surgem as atuais restrições.

Onde ocorre o contágio

Restaurantes são o setor que mais tem reclamado das novas limitações. É dos que mais têm sofrido. Menos que o meio artístico, de eventos e outros que nem tem paliativos como o delivery. Sem dúvida, o impacto é devastador para o segmento, que é um dos que mais empregam. Vários estabelecimentos sérios reclamam que tomam todas as medidas de proteção e higiene. Acreditam que o cliente estará mais seguro lá que em outra parte e não faz sentido obrigá-los a fechar mais cedo.

Ocorre o seguinte: as restrições ao funcionamento não são apenas para que a pessoa não pegue Covid-19 na loja ou no restaurante. O fundamental é reduzir a circulação de pessoas. Sobretudo à noite, quando ocorrem as festas disseminadoras da pandemia. Se as pessoas não têm o que fazer na rua, haverá obviamente menos gente. Inclusive nos ônibus — absurdamente lotados, mas que não são motivo para liberar geral.

O ponto é que não sou eu quem vai dizer o que deve ser feito. Creio que quem deve definir as ações são as autoridades de saúde. E, por favor, ninguém venha me dizer que o médico que tem um consultório dobrando a esquina acha isso ou aquilo. Todos obviamente têm direito à opinião e muitos erros foram e são naturalmente cometidos numa doença que mata tanta gente. Porém, as decisões públicas devem ser pautadas naquilo que há de minimamente pactuado nas organizações de referência. Não dá para se guiar por teorias exóticas de pessoas isoladas.

 

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