Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O que Camilo Santana (PT) anunciou na noite de ontem foi a mais dura medida do Governo do Ceará em todo o período de pandemia. Houve lockdown no ano passado. Mas, primeiro, foi em Fortaleza. Houve depois em outras regiões do Estado, mas em nenhum momento todos os municípios estiveram simultaneamente no isolamento social rígido.
Isso ocorre porque a pandemia está talvez em seu pior momento em número de casos. O número de leitos está saturado. O número de mortes ainda não é igual ao do ápice da crise. Mas se a rede de saúde entrar em colapso, isso pode ocorrer. Há risco de uma quantidade de mortes e um drama por falta de leitos maior do que se viu até agora.
O governador Camilo Santana usa a arma mais extrema de que dispõe. Se não conter o número de casos, o que mais pode fazer? Endurecer o lockdown? Fechar o pouco permitido a funcionar? Colocar a Polícia atrás de quem está na rua? A fiscalização tem ocorrido, mas, já escrevi, não tem fiscalização que chegue para um Estado inteiro.
O momento é crítico e há perigo real de que a reabertura demore a ocorrer. Sobretudo se não houver adesão às medidas.
Antes de o governador anunciar o lockdown estadual, o prefeito de Caucaia, Vitor Valim (Pros), havia anunciado o fechamento do segundo maior município do Ceará a partir de hoje. Valim é do partido do Capitão Wagner (Pros). Foi eleito apesar de o governador Camilo Santana ter entrado na campanha a favor do adversário dele ainda no primeiro turno. Isso apesar de o partido do governador, o PT, ter candidato próprio. Camilo fez a favor de Naumi Amorim (PSD) o que não fez por José Sarto (PDT) no primeiro turno em Fortaleza.
Os sinais de colapso em Caucaia já eram perceptíveis e Valim agiu de forma correta, ainda que tardia. Há de se discutir se Caucaia já não devia ter decretado a medida antes. Provavelmente, sim. Mas, mesmo quando, na semana passada, optou por não adotar o isolamento rígido, Valim se manifestou de forma ponderada. Um bom sinal de que a politização na gestão na pandemia, se não é ausente, tem seus limites.
As águas do São Francisco
É histórica a chegada das águas do rio São Francisco aos Castanhão. A obra foi demorada, teve orçamento estouradíssimo. E é controversa desde a concepção. Pelos impactos ambientais, sociais, com as remoções. Não poucos especialistas defendiam que, com até menos dinheiro, seria possível fazer muitas pequenas obras hídricas cujo impacto somado seria maior. Esse debate hoje é história.
O que a obra traz? É mais que água. Ela traz garantia de abastecimento. O que acontecia? O Ceará podia até ter água armazenada. Mas a permanente incerteza quanto ao futuro fazia com que a reserva fosse usada com parcimônia. Isso aumentava a evaporação e, assim, a perda. A transposição permite ao Ceará usar a água que tem, e se socorrer no caso de emergência.
Há também outro grande ganho: sempre que se cobrava medidas estruturantes contra as secas, os governantes falavam da transposição. Não vão mais poder jogar para ela. Não haverá mais desculpa para o flagelo do sertanejo.
Embora falte ainda o avanço do Cinturão das Águas. É uma obra monumental, que provavelmente ainda atravessará muitos governos. E que deverá levar a água, aí sim, às regiões mais secas do Estado, sertões adentro.
O que menos importa nesse debate todo é qual político tem o mérito pela obra. Da concepção à execução, ela passou por várias gestões. Ela pertence ao povo do Brasil, do Nordeste. E foi resultado, sobretudo, da concepção de técnicos, que estudam o assunto há mais de 200 anos. Concordo com o que disse o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, na entrevista às Páginas Azuis do O POVO: obras não têm pais.
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