CPI antecipa briga mais provável da eleição no Ceará
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) é, de longe, o mais provável candidato do grupo Ferreira Gomes a governador do Ceará em 2022. Não é o único e pode não ser ele. Mas, na frente ele está. Quem disse isso não fui eu, foi o próprio Ciro Gomes (PDT), entrevista ao colega Guálter George, aqui do O POVO, publicada em 3 de abril de 2017. De lá para cá, se algo mudou foi para RC ficar mais forte. Na oposição, Luis Eduardo Girão (Podemos) é também o nome mais provável, disparadamente. Terá mais quatro anos de mandato pela frente e nada a perder na disputa. Roberto Cláudio e ele começam de agora o enfrentamento. A arena é a CPI da Covid.
Girão propõe convocar Roberto Cláudio para depor na comissão, em função de denúncias de superfaturamento na compra de respiradores e de fraudes na aquisição de materiais e manutenção do hospital de campanha do estádio Presidente Vargas, o PV.
Como se diz no Jardim América, Roberto Cláudio pegou ar. "Me impressiona esse intempestivo 'proativismo' do senador Girão em relação à pandemia", escreveu nas redes sociais. "Durante os mais de oito meses em que estive à frente da condução das ações da Prefeitura de Fortaleza no combate à pandemia, não recebi nem mesmo uma ligação telefônica de solidariedade ou oferta de apoio do senador à nossa gente." O ex-prefeito disse que a postura foi diferente dos outros senadores, Cid Gomes (PDT) e Tasso Jereissati (PSDB). "Agora, aparece como bajulador do governo Bolsonaro, tentando obstruir de todo jeito a investigação sobre as ações e omissões do Governo Federal, protegendo os absurdos erros cometidos, o que tem custado a vida de mais de 400 mil brasileiros."
Girão contragolpeou: "Se ele demonstra tamanho desconforto por não ter recebido uma ligação, imagine o que a população sente por não ter recebido, até hoje, os respiradores que poderiam estar agora salvando vidas." Prosseguiu: "Imagine o que sentem as pessoas que não recebem tratamento digno, decorrente de postos de saúde e hospitais negligenciados há anos. E quem não recebeu a menor satisfação quando o Hospital de campanha do PV, que custou quase R$100 milhões, funcionou por apenas 5 meses enquanto todos sabiam que viria a segunda onda?"
Isso é 2022 em estado puro. Esse embate da política cearense, eu já havia escrito, será uma das questões da CPI. E irá esquentar o clima para a eleição do ano que vem. Que não será calma. E tem dois virtuais candidatos que mostram disposição para a briga.
Fator Eunício
Assistindo a essa briga, o ex-senador Eunício Oliveira (MDB) mandou recado ao ex-prefeito inspirado em Cartola: “Preste atenção, o mundo é um moinho/Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos (...)/Quando notares estás à beira do abismo/Abismo que cavaste com teus pés.” E completou: “Parafraseando o mestre Cartola, o ex-prefeito Roberto Cláudio elegeu o próprio algoz. Eita vida para dar voltas!”
Eunício foi derrotado de forma surpreendente, na busca por reeleição no Senado, por Girão. Ele atribui o resultado a traição do grupo Ferreira Gomes. Roberto Cláudio incluso. Está se divertindo ao ver Girão dar trabalho ao clã.
O destino de Eunício em 2022, aliás, é questão interessante. Voltará à cena política. Fala-se em disputa majoritária, mas ele não reúne mais as condições de 2014 ou 2018. A vaga mais ao alcance seria a de deputado federal. Ele é inimigo dos Ferreira Gomes e aliado do governador Camilo Santana (PT). Não dá para ir assim até a eleição.
A tempestuosa Juazeiro do Norte
Juazeiro do Norte tem a mais atribulada e instável política entre os grandes municípios do Ceará. Quem senta na cadeira de prefeito se desgasta automaticamente em questão de dias. É algo absurdo. Sem completar quatro meses de mandato e alvos de várias CPIs, o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) e o vice, Giovanni Sampaio (PSD), foram cassados por crime eleitoral. É o enredo que se repete com quase todo prefeito. Não sei quem tem razão ou deixa de ter, mas é esquisito que todo governante que entra já enfrente essa tempestade. Pelo histórico, é capaz de Glêdson acabar voltando. Paz para governar é que não voltará até o fim dos quatro anos, se é que houve um dia. Até hoje, nenhum prefeito se reelegeu na terra do Padre Cícero — que, aliás, foi o primeiro a ocupar o cargo, que exerceu por coisa de 14 anos. Parece que o padim não gosta que esquentem a cadeira que foi dele.
Glêdson, aliás, é aliado de Luis Eduardo Girão.
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