Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Sergio LIMA / AFP
BOLSONARO criticava uso de máscaras e associou vacina à aids
Quando Jair Bolsonaro combate o isolamento social como meio de prevenir a Covid-19, ele confronta todos os estudiosos sérios do planeta sobre algo que o presidente não entende. Mas, com toda discordância do planeta, sou capaz de saber o objetivo que ele quer atingir. Compreendo que ele quer evitar que a economia sofra perdas significativas. Acho sórdida a escala de prioridades, mas entendo o que ele pretende.
Quando Bolsonaro defende medicamentos sem comprovação científica e coloca dinheiro nisso, contra farta evidência científica de ineficácia, o presidente volta a tratar de algo sobre o qual não sabe nada, mas entendo que o recado é de que a pandemia não é tão séria, não precisa de tantas restrições. Novamente, a economia.
Agora, quando pede para as pessoas não usarem máscara, aonde Bolsonaro quer chegar? Francamente, não sei. O que custa usar máscara? O que se ganha ao não usar?
Não entendo isso e, para quem diz querer manter a economia aberta, entendo menos ainda o descaso de tanto tempo para comprar vacina.
A política e quem não gosta de futebol
O Supremo Tribunal Federal (STF) deu aval e a Copa América no Brasil vai começar. Escrevi ontem sobre futebol e política, das pessoas que não gostam quando se fala das relações que existem entre uma coisa e outra. Pode-se não gostar que fale, mas as relações existem e estão lá. Hoje, quero comentar outra faceta dessa questão: a perspectiva política muitas vezes adotadas sobre o assunto por quem não gosta de futebol.
Ninguém é obrigado, claro, a gostar de coisa nenhuma, muito menos futebol. Tem o direito de achar ruim, reclamar, de entender que se dá muita atenção, incomodar-se pela energia dedicada. Porém, há quem espere que, por causa da política, as outras pessoas deixem de gostar de futebol. Também é um direito.
Mas, deixa eu dizer duas coisas: 1) o esforço é em vão. Não vai acontecer. Segue sendo um direito a pessoa desejar. Tem tanta coisa que a gente queria e não acontece, não é? 2) Creio haver aí, de alguns setores, sobretudo de parte dos intelectuais, dificuldade de entender e se aproximar de uma parcela muito grande do povo, de seus sentimentos, paixões e entretenimento. Não falo obviamente de todos. Todacia, alguns podem querer, mas têm dificuldade de entender e dialogar com o povo. Isso é perceptível inclusive em políticos e partidos que defendem bandeiras populares e em favor de uma parcela da população que não vota neles.
Não ache que isso é ofensa. Inclusive, esses intelectuais estão muito bem acompanhados. O pioneiro talvez tenha sido Lima Barreto, que escrevia há mais de um século: “O futebol não pega.” Ok, naquela época ainda se tratava do aristocrático esporte trazido da Inglaterra e tremendamente racista.
Tem quem questione, diante das críticas à Copa América, se as pessoas ainda assim vão ver os jogos. Daí se vê a falta de afinidade com o futebol. Pois, embora o torneio continental de seleções tenha lá sua audiência, está longe de ser algo que o torcedor faça questão de ver. Muita gente assiste porque é o que está passando na TV. Mas, não comove ninguém.
Copa do Mundo é diferente. Aulas são suspensas, empresas fecham mais cedo. Ali é uma comoção. É isso que, inclusive, não entendeu muita gente que acompanhou os enormes protestos de 2013, na Copa das Confederações, e esperava que fossem ainda maiores na Copa de 2014 — o que não aconteceu.
O futebol é um traço cultural importante no Brasil e quem pretende entender e dialogar com quaisquer das parcelas mais numerosas da população não deveria ignorá-lo. Essa discussão é antiga e a briga é perdida. Desde a Copa de 1970, quando até quem era preso político conta que torcia contra a seleção no Brasil da ditadura, até o gol de Rivelino na estreia.
Não que seja impossível, mas acho improvável interpretar adequadamente o Brasil sem compreender a paixão pelo futebol. Que efetivamente reproduz e até amplifica diversas mazelas sociais. Mas carrega também raro potencial transformador.
Ouça o podcast Jogo Político:
É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.