Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O motim ocorreu porque havia entre os policiais o imaginário da paralisação de 2012, quando tiveram vitória política. Eles acreditavam que, parando, conseguiriam qualquer coisa que quisessem
Por que ocorreu o maior motim da história da Polícia Militar do Ceará, em fevereiro de 2020? A razão foi mesmo a proposta de reorganização salarial da categoria? Que trazia ganhos salariais num cenário de crise? Os ganhos eram desiguais, havia queixas quanto a injustiças. Ficava aquém do que os policiais queriam, e reivindicavam. Mas, foi essa a causa?
Não, esse foi o estopim. A causa foi outra. A Polícia Civil estava no mesmo pacote e não parou. O Corpo de Bombeiros também não se amotinou. Ouvi de gente da cúpula do governo, na época, que eles só apresentaram o pacote porque imaginavam que seria bem recebido pela categoria. Projetava-se um ganho, inclusive político, nas corporações. Jamais se cogitou uma reação como aquela. Não fosse assim, era preferível ao governo ter pego o valor investido para dar reajuste em moldes convencionais. Provavelmente não seria considerado satisfatório, mas dificilmente teria repercussão tão extrema. Obviamente, houve erro de avaliação da parte do governo. Ali começou o desgaste do secretário André Costa, que deixou o cargo sete meses depois.
O motim ocorreu porque havia na categoria o imaginário da paralisação ocorrida na virada de 2011 para 2012. Naquela ocasião, durante o governo Cid Gomes (PDT), tiveram enorme vitória política. Em 2020, alguns haviam participado do movimento anterior. Outros tantos entraram depois na Polícia, e admiravam os que haviam participado da mobilização que teve como momento culminante o 3 de janeiro de 2012. Havia entre muitos na corporação a ideia de que, caso resolvessem parar, conseguiriam o que quisessem. Seriam capazes de impor ao governo suas condições. E muitos queriam ter sua vivência do que havia sido 2012.
Também pesava o fato de ser ano eleitoral e Capitão Wagner (Pros) ser candidato a prefeito. Como escrevi na época, o movimento não interessava ao Capitão, mas na base, impulsivamente, a avaliação de cenário nem sempre é refinada. Nomes como o ex-deputado federal Cabo Sabino insuflaram a paralisação. Outros líderes, que não queriam o motim, insuflaram e depois tentaram conter, sem sucesso. Quando se deram conta, não tinham mais controle. No fim das contas, o motim foi a brecha que o governador Camilo Santana (PT) encontrou para entrar de cabeça na campanha no 1º turno, quando, em função da candidatura própria petista, não podia pedir voto em seu candidato — o hoje prefeito José Sarto (PDT). O pedetista foi eleito com 3 pontos de diferença. Qual o peso de Camilo? Se não houvesse motim, será que Wagner teria perdido?
A reação do governo foi de não aceitar negociar de forma alguma. O motim durou 13 dias, a insegurança disparou, mas Camilo Santana não cedeu. Ali foi fechada a porta que tinha sido aberta em 2012. O custo foi altíssimo. Para a sociedade, na disparada da violência no motim e depois. Para os amotinados, nos muitos processos abertos. Nas últimas semanas, a Controladoria Geral de Disciplina (CGD) anunciou a primeira expulsão de policial. Na semana passada, seis policiais se tornaram réus com a decisão da Justiça de receber a denúncia contra eles, por envolvimento na tomada do quartel em Sobral, que terminou com o senador Cid Gomes baleado após avançar contra os manifestantes com retroescavadeira.
No Ministério Público do Estado e no Ministério Público Federal, outras investigações tramitam. Já duram um ano e meio. Tempo demais sem uma conclusão, para inocentar ou prosseguir com a denúncia. É preciso uma conclusão rápida e justa, que inocente de vez quem não tem culpa. E puna exemplarmente os responsáveis, para que nunca mais se repita.
Bolsonaro e o Supremo
O presidente Jair Bolsonaro indicou André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF), segundo entre os 11 membros que ele escolhe. O tribunal hoje é o alvo preferido dos bolsonaristas, que sempre acham um responsável para culpar pelo presidente não fazer o que deve. Antes eram Congresso e STF. Como hoje Câmara e Senado estão sob controle de aliados do presidente, resta o Supremo como culpado, ao lado dos comunistas, pelos males da República.
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