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O desfile de tanques do capitão presidente
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O desfile de tanques do capitão presidente

Bolsonaro não deixa dúvida de que pretende dar um golpe. Nunca o autoritarismo foi tão escancarado e desavergonhado. A dúvida é se ele consegue ou não. Duvidar do golpe é apostar na fraqueza e incompetência do presidente
Tipo Opinião
Bolsonaro: desfile de tanques não seria problema não fosse contexto de ameaças recorrentes à democracia (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Bolsonaro: desfile de tanques não seria problema não fosse contexto de ameaças recorrentes à democracia

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) marcou para hoje a votação da proposta de voto impresso e o presidente Jair Bolsonaro marcou um desfile de tanques de guerra e blindados. O cortejo ocorre todo ano, a novidade é a divulgação que o governo dá ao fato de os equipamentos bélicos estacionarem em frente ao Palácio do Planalto, ali pertinho do Congresso Nacional, onde os parlamentares votarão a proposta de emenda à Constituição (PEC) e, talvez, tenham até mesmo a ousadia de votar contra o presidente, olha que coisa absurda.

O gesto em si significaria pouca coisa isoladamente. O problema é o contexto. Bolsonaro faz o mais longo inventário de ameaças à democracia visto desde a redemocratização. Por ser Bolsonaro, as pessoas não levam a sério. Mas, é um absurdo, um despautério que o chefe do Poder Executivo fique a todo momento com esse tipo de ameaça.

Em 6 de maio, o presidente falou: "Se o Parlamento brasileiro, por maioria qualificada, em três quintos na Câmara e no Senado, aprovar e promulgar, vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Não vou nem falar mais nada. Vai ter voto impresso, porque se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado." O recado autoritário estava explícito, mas ali ao menos havia uma condicionante de aceitar a soberania do Poder Legislativo. O que foi desaparecendo junto com as chances de aprovação.

"Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições", disse em 8 de julho. Ah, mas alguém há de querer eleição que não seja limpa? Bolsonaro chama de eleição limpa a eleição do jeito que ele quer.
Em 9 de julho, ele disse: "Entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Desta forma, não corremos o risco de não termos eleição no ano que vem." O risco, no caso, seria algum se não ele próprio?

Em 24 de julho, afirmou: "Não dá para termos eleições como está aí." Reparou como sumiu aquele discurso anterior de a impressão de voto ocorrer no caso de ser aprovada pelo Congresso, por maioria qualificada de três quintos na Câmara e no Senado? Passou a ser uma condicionante de vontade dele.
Em 28 de julho, afirmou: "Vai ganhar eleição quem tem voto. Se não for dessa maneira, poderemos ter problemas em 22." De que outra forma seria? E que problemas seriam?

Em 1º de agosto, o presidente insistiu: "Sem eleições limpas e democráticas, não haverá eleição."

O conjunto de declarações acima elencado é um absurdo e é uma afronta à Constituição. Não me parece haver sombra de dúvidas da intenção golpista do presidente. Nunca um projeto antidemocrático foi tão escancarado e desavergonhado. A dúvida é se ele consegue ou não.

Os que assistem passivamente à escalada se dividem entre os que apoiam as intenções do presidente e os que apostam na fraqueza e incompetência de Bolsonaro.

A história mostra

Elenquei o histórico de três meses para cá, mas a história de Bolsonaro é defender a ditadura militar. (Quem vier defender a legitimidade do golpe dos generais já deixará demonstrado o tamanho do apreço democrático.) Bolsonaro trata como heróis torturadores notórios.

Lembro de Eduardo Bolsonaro antes das eleições de 2018: “Se quiser fechar o STF, você sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo não.”

Para o presidente, além disso, a democracia é uma concessão dos militares. Em 7 de março de 2019, afirmou: “Democracia e liberdade só existe quando a sua respectiva Forças Armadas assim o quer.” Em 18 de janeiro de 2021, ele falou: “Quem decide se um povo vai viver numa democracia ou numa ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam. No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar.”

Acredita que Bolsonaro tem algum apreço, qualquer um, pela democracia quem quer se iludir.

Ouça o podcast Jogo Político:

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