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Democraticamente, assunto encerrado; mas, e Bolsonaro?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Democraticamente, assunto encerrado; mas, e Bolsonaro?

Bolsonaro seguidamente afronta a democracia. Não restam meios institucionais para haver impressão de voto em 2022. Bolsonaro aceitará isso ou seguirá na aventura autoritária? Apoiá-lo em seus atos tresloucados implica estar junto dele na cruzada autoritária
Tipo Opinião
Fumaça preta saía de um dos tanques da demonstração de força que acabou exibindo precariedade (Foto: REPRODUÇÃO/VÍDEO)
Foto: REPRODUÇÃO/VÍDEO Fumaça preta saía de um dos tanques da demonstração de força que acabou exibindo precariedade

Faltaram 79 votos para a proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso ser aprovada. Já havia sido rejeitada na comissão especial e agora no plenário. Na atual legislatura, o assunto está encerrado. Pelos meios democráticos, o modo de votação está definido. A questão é: o presidente Jair Bolsonaro aceitará? Ele acatará a decisão do Poder Legislativo? Respeitará a legitimidade do sistema político brasileiro? Ou seguirá fazendo agitação e promovendo instabilidade?

Pelo meio democrático, a proposta foi apresentada, apreciada. E foi rejeitada. Democracia, Bolsonaro e os bolsonaristas resistem a aceitar, é para ganhar e para perder.

Há muito Bolsonaro ultrapassou as fronteiras do respeito à democracia. Não restam a ele meios para mudar a forma de votação para as eleições do ano que vem dentro da institucionalidade, dentro da legitimidade, do Estado democrático de direito.

Bolsonaro seguidamente afronta a democracia. Apoiá-lo em seus atos tresloucados implica estar junto dele na cruzada autoritária. Obviamente, não é por que a Câmara rejeitou que Bolsonaro precisa passar a gostar da urna eletrônica, precisa passar a achar que é segura. A democracia resguarda direito de minorias, mesmo que o presidente sempre as tenha afrontado.

Porém, caso Bolsonaro insista em deslegitimar o processo eleitoral, estará promovendo instabilidade em um beco sem saída. Se persistir a cobrar mudança no processo para 2022, isso só poderá ocorrer com subversão da ordem estabelecida.

A história de Bolsonaro é conhecida. Quem está junto dele, que assuma as consequências daquilo a que associa a própria biografia.

Votos cearenses

Quatro deputados. Esse foi o apoio que o presidente Jair Bolsonaro obteve na bancada cearense para o projeto que para ele é uma obsessão, algo capaz de levá-lo a comprometer a democracia. Votaram pelo voto impresso os deputados Capitão Wagner (Pros), Dr. Jaziel (PL), Heitor Freire (PSL) e Moses Rodrigues (MDB). Foram 14 votos contra, inclusive de Domingos Neto (PSD), que em várias ocasiões ficou ao lado de Bolsonaro. Quatro deputados cearenses se ausentaram, inclusive bolsonaristas, como AJ Albuquerque (PP) e Danilo Forte (PSDB).

Bolsonaro leva Forças Armadas ao ridículo por motivos miúdos

É uma pena ver o ridículo a que é exposta a Marinha brasileira por Jair Bolsonaro. Para atender a propósito subterrâneo do presidente, a Força é instrumentalizada de modo pequeno. Não é só o desfile. As coisas significam no contexto. E o desfile de ontem ocorreu num momento que foi tornado impróprio, devido à postura do presidente. Elenquei ontem a quantidade de ocasiões na vida dele e em particular nos últimos três meses nas quais Bolsonaro admitiu a possibilidade de não haver eleição. Presidente dizer isso uma vez é uma afronta ao seu povo. Que repita isso impunemente é resultado de não ser levado a sério por uns — o que é sempre um perigo — e do espírito autoritário de outros, que são a favor mesmo de superpoderes a um governante, desde que seja o governante que eles apoiam.

Para além de tudo, que coisa cafona, anacrônica. O mais suave que se pode dizer é que foi completamente desnecessário. Que tentativa de demonstração de poder miúda. O assunto repercutiu internacionalmente como sintoma do nosso atraso — e não falo do material bélico atrasado, do tanque soltando fumaça preta. Pior que a Marinha, o Brasil foi feito de ridículo pelo seu protoautocrata.

Ouça o podcast Jogo Político:

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