Problemas do Brasil real não estavam nos protestos, mas no supermercado
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Problemas do Brasil real não estavam nos protestos, mas no supermercado
O preço do feijão, do frango, da energia e dos combustíveis afetam a vida real do brasileiro. Mas foram miragens que levaram milhares às ruas do Brasil em 7 de setembro
O Brasil vive momento crítico, com problemas que afetam a vida da população. O drama do brasileiro pode ser visto nos supermercados, no preço dos alimentos. No custo do gás da cozinha. Na conta de energia — e na ameaça de colapso energético. No preço dos combustíveis. Ontem, no aniversário de 199 anos do grito do Ipiranga, houve grandes manifestações pelo Brasil. Mas, nada disso estava na pauta. Os atos foram comandados pelo presidente Jair Bolsonaro. Tinham como pauta um combate a moinhos de vento, deslocados da vida real.
E sobre esses problemas? Nada disso é culpa de Bolsonaro. O combustível? Governadores. A energia? Falta de chuva. Cuida, São Pedro. A inflação em geral? Bolsonaro tampouco pode fazer nada sozinho. Precisa de apoio dos governadores, ele disse. Bolsonaro não tem responsabilidade sobre nada, nunca. O sujeito é presidente da República, e quando é cobrado, os aliados dele — aqueles que foram ontem às ruas — ficam com raivinha. Coitados.
Do que trataram os atos? Dos absurdos cometidos por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Quais absurdos são esses? O inquérito das fake news? A desmonetização de páginas de Youtube? São esses os grandes problemas nacionais? Afetam em que a vida do Brasil? Por isso pode haver ruptura? Francamente.
O presidente fala como se o STF tivesse feito grave ofensa à Constituição. Por que mesmo? Porque não toma a decisão que ele gostaria? Ocorre o seguinte: a palavra final sobre interpretação da Constituição não é do presidente da República. Sabe de quem é? Do Supremo Tribunal Federal? Entre a interpretação de Bolsonaro, a minha e a do Supremo, sabe qual prevalece? Isso mesmo.
A lição é de Rui Barbosa: o Supremo pode cometer erros. Certamente o faz. Porém, no ordenamento jurídico, é garantida a ele a prerrogativa de ser o último a errar.
O presidente parece querer para ele esse papel. Bolsonaro faz questão de ser o último a errar. Aí está algo que ele faz bem: cometer erros.
Bolsonaro é minoria hoje
Há grandes manifestações pelo Brasil. Tudo dentro do previsível, nada de excepcional. O presidente Jair Bolsonaro jogou seu peso político para arregimentar gente nas ruas. Ele está enfraquecido e é a cada dia mais impopular. Mas, ainda tem muitos apoiadores. Segundo as pesquisas, na casa dos 30%. Uma pequena fração disso já enche as ruas. Nem de longe significa hegemonia social ou política. Bolsonaro não a tem. O presidente é hoje minoria.
O que não tem precedentes são manifestações para fazer ameaças. As Diretas Já cobravam direito de votar para presidente. O fora Collor e o fora Dilma pediam impeachments dos respectivos presidentes. Não tinha "atendam-me, se não...". Não tinha "se não". Os atos de hoje foram feitos para demonstrar o tamanho do apoio que sobrou e dizer que, se não for feito o que o presidente quer um dos poderes da República pode sofrer "aquilo que nós não queremos."
As ameaças de Bolsonaro à democracia e às instituições são um absurdo e uma afronta. "Não queremos ruptura, não queremos brigar com Poder nenhum, mas não podemos admitir que uma pessoa turve a nossa democracia." Não queremos ruptura, mas... Na posição em que está não cabe "mas". Ele não pode ser agente da ruptura. Isso é crime de responsabilidade.
Bolsonaro deixa claro seu desconhecimento
O presidente mostrou desconhecimento mais elementar sobre as instituições. "Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas para o nosso Brasil. Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos."
A declaração é ridícula de tão descabida. O presidente do Supremo não é chefe dos ministros. Não tem prerrogativa de interferir em sentenças, não pode influenciar decisões. Ele não pode enquadrar ministro nenhum.
Bolsonaro parece pensar que os ministros do STF estão para o presidente do Supremo assim como os ministros dele estão para o presidente da República, ele podendo dar ordens e demitir. Claramente, Bolsonaro não sabe o que diz, o que faz ou o que pede. Semelhante sujeito é presidente.
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