Camilo pode deixar governo daqui a menos de 5 meses
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Para concorrer a senador, como parece se encaminhar, o governador Camilo Santana (PT) precisará renunciar ao cargo de governador em 2 de abril de 2022. Nesse caso, seriam cinco meses até lá — dois dias a menos que isso, na verdade. A primeira na linha sucessória para assumir o governo é a vice, Izolda Cela (PDT).
Sejam 5 ou 14 os meses pela frente, Camilo entra numa fase crucial de todas as administrações. Há uma corrida em duas direções. Uma para concluir o maior número possível de obras. Outra para deixar a casa em ordem, sobretudo do ponto de vista das finanças. Serão também meses cruciais para definir a candidatura governista à sucessão.
O governo de Camilo é certamente histórico. Diferentemente de antecessores como Tasso Jereissati (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Cid Gomes (PDT), ficará menos marcado pelas grandes obras que pelas crises enfrentadas. Não que não haja muitas obras. Mas, chamam menos atenção que os ataques de facções criminosas, o motim de policiais militares, a pandemia de Covid-19, a seca que foi uma das mais prolongadas da história. Sem mencionar a crise de saúde que eclodiu no começo do mandato, com pacientes em macas nos corredores de hospitais, a crise econômica que vem desde 2014 com poucas interrupções. E a crise política que levou ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), tirando uma presidente aliada do governador, para ser sucedida por dois adversários em sequência. A história do governo Camilo é contada pelo enfrentamento a essas crises.
Desempenhos
Como ele se saiu é avaliação que varia conforme a opinião que se tem do próprio Camilo. O enfrentamento à pandemia é polêmico. Considero as medidas, no geral, acertadas. O Ceará saiu na frente em ações que os outros estados acabaram acompanhando. Para os críticos, o problema é justamente esse. Aponta-se, também, que a mortalidade ainda assim foi muito alta. O que é fato. Não dá para saber é como seria se nada fosse feito.
O combate à pandemia só não é mais controverso que o enfrentamento às facções criminosas. Como na política de segurança como todo, houve altos e baixos. A mortandade, como na pandemia, tem números de catástrofe. Houve momentos em que o governo foi assertivo e implacável, como na onda de ataques de 2019. O discutido motim de 2020 contribui para o retrocesso no que se tinha avançado. Mas, no começo do crescimento das facções, o governo negava haver grupos organizados e deu sinais de vacilação.
No fim das contas, a pandemia e as facções serão a medida da avaliação do governo Camilo. São dois enfrentamentos ainda sendo travados, histórias sendo escritas.
Herança complicada
Camilo tem muitas obras, mas não me parece haver uma grande marca física da gestão. Isso não necessariamente é ruim, ao contrário. É atrasada a ideia de que governante bom é o “tocador de obra”. Não escrevo isso agora. Já dizia isso há mais de três anos. Porém, muitas vezes o eleitor pensa diferente.
Camilo se dedicou a concluir algumas obras inacabadas que recebeu, no que fez muito bem. Colocou para funcionar, por exemplo, o Hospital Regional do Sertão Central, que Cid Gomes inaugurou sem condições de colocar um esparadrapo.
Há, todavia, dois complexos nós que Camilo herdou e ainda tenta desatar. A Linha Leste do metrô avança, depois de muitos percalços. Existia projeção de conclusão até o fim do ano que vem. Só por obra da celeridade pré-eleitoral isso ocorrerá. O outro problema é mais enrolado, o aquário da Praia de Iracema, no qual Camilo acertou ao decidir não enterrar mais dinheiro público, mas ainda peleja para desempacar o elefante branco.
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