Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Tasso Jereissati (PSDB) e Capitão Wagner (Pros) foram aliados nas duas últimas eleições estaduais do Ceará, mas não estarão na próxima. Foram aliados em Fortaleza em 2016, mas não mais em 2020. Entre os motivos estão o que Tasso apontou na entrevista ao jornalista Henrique Araújo, nas Páginas Azuis do O POVO.
“Eu tive muita esperança no Capitão Wagner quando ele iniciou lá atrás, porque sem dúvida nenhuma é uma liderança, mas a evolução dele de lá pra cá é um pouco diferente do que eu esperava. Ele é hoje o mais forte representante do bolsonarismo no Ceará, sem dúvida. O bolsonarismo é o maior retrocesso da história do Brasil.”
A ressalva de Tasso à aproximação de Wagner com Bolsonaro não é de agora. Vem desde antes de o hoje presidente ser eleito, ainda em 2018. Naquela época, Wagner dizia que topava concorrer a governador. Seria certamente mais forte que o general Guilherme Theophilo. Muito mais. Mas, Tasso vetou que Wagner fosse candidato e tivesse Bolsonaro no palanque. Não ficou sem reação. “Não me interessa ter contato político com uma pessoa que vive de coronelismo, baseado em esquemas, e até mesmo envolvimento com pessoas com histórico de corrupção”, disse Bolsonaro no começo de 2018, sobre Tasso.
O hoje presidente elogiou Wagner na época, que agradeceu, mas defendeu Tasso das críticas. Diante da confusão, ele preferiu se lançar a deputado federal — foi o mais votado do Ceará.
Na entrevista publicada pelo O POVO na segunda-feira, Tasso foi além na crítica a Wagner. “Para mim é uma decepção, inclusive. Uma decepção porque eu acompanhei o início dele como candidato a prefeito.” E completou: “Eu lamento que a evolução dele tenha sido para esse lado.”
Wagner respondeu de forma dura: “Quando político rico e poderoso vê sua liderança ser perdida para alguém que veio da periferia, sem padrinhos, sem dinheiro pra comprar votos, o que ele faz: esperneia, estrebucha e, em último caso, se junta aos que eram seus opositores para tentar evitar o sucesso do novo líder!”
A trajetória do capitão
Desde que entrou na política, Wagner se aliou a quase todos que estavam dispostos a enfrentar os Ferreira Gomes. Só falta o Psol. Em 2012, apoiou o PT. Em 2014, PMDB e PSDB. Em 2016, teve o apoio desses dois partidos. Em 2018, apoiou PSDB. Em 2020, foi apoiado por uma aliança de pequenos e médios partidos. Com esse caminho, tornou-se o principal nome da oposição no Ceará. Ao longo dessa trajetória, o aliado de maior relevância foi o PSDB de Tasso. Agora, eles se distanciam.
Rumo de Tasso
Em 2020, Tasso apoiou José Sarto (PDT) para prefeito de Fortaleza, contra Wagner. Foi a reaproximação com os Ferreira Gomes. A postura do tucano na entrevista indica que dificilmente o PSDB terá outro caminho que não o apoio ao candidato governista, do PDT. Tasso e Ciro Gomes novamente juntos numa eleição no Ceará, de abrangência estadual. Isso não ocorre desde 2002, em aliança à época informal. Em 2006, Tasso não apoiou o candidato do partido, Lúcio Alcântara, mas não fez campanha aberta por ninguém.
Impacto para o capitão
Wagner planeja uma frente ampla para enfrentar os Ferreira Gomes. Ainda há vários partidos cogitados. Mas, vindo de quem já apoiou por tanto tempo, é uma perda política e simbólica.
O capitão é cada vez mais próximo de Bolsonaro e cada vez mais difícil de dissociar do presidente.
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