Alvo de duras críticas do senador Tasso Jereissati (PSDB) e, entrevista ao O POVO, o pré-candidato ao Governo do Estado Capitão Wagner (Pros) contra-atacou. "Quando político rico e poderoso vê sua liderança ser perdida para alguém que veio da periferia, sem padrinhos, sem dinheiro pra comprar votos, o que ele faz: esperneia, estrebucha e, em último caso, se junta aos que eram seus opositores para tentar evitar o sucesso do novo líder!", escreveu o deputado federal nas redes sociais.
Em conversa com a reportagem que está nas Páginas Azuis desta edição, Tasso admitiu que teve "muita esperança no Capitão Wagner quando ele iniciou lá atrás", mas que "a evolução dele de lá pra cá é um pouco diferente do que eu esperava".
"Para mim é uma decepção", acrescentou o senador. O tucano afirmou ainda que Wagner "é hoje o mais forte representante do bolsonarismo no Ceará" e que "o bolsonarismo é o maior retrocesso da história do Brasil".
"O que, nesse momento da minha vida, me frustraria imensamente é ver um retrocesso", concluiu Tasso, "alguém que destruísse esse modelo e fizesse com que o caos administrativo do passado voltasse a ser uma realidade aqui no Ceará".
Ex-aliados, Tasso e Wagner se afastaram desde que o deputado se alinhou mais ao presidente Jair Bolsonaro (PL), principalmente durante a pandemia da Covid-19, quando o parlamentar esteve ao lado do chefe do Executivo nas visitas em que fez ao Ceará e nas quais provocou aglomerações e desrespeitou medidas sanitárias.
Na entrevista, o senador cita um desses episódios envolvendo o presidente e Wagner no Estado - especificamente, a visita de Bolsonaro ao interior cearense no auge de contaminações e internações por coronavírus, no primeiro semestre do ano passado.
"Lembro que o dia em que fiquei mais revoltado foi no Ceará, e aí o Capitão Wagner esteve presente. Nós estávamos no pico do pico da pandemia, quase 200 pessoas morreram naquele dia. O presidente Bolsonaro esteve aqui e fez duas aglomerações de pessoas, sem máscara, uma em Tianguá e outra em Caucaia", contou.
Embora hoje estejam em lados opostos, Tasso já apoiou Wagner na disputa pela Prefeitura de Fortaleza em 2016, contra a reeleição do então prefeito Roberto Cláudio. Àquela altura, Wagner era deputado estadual pelo PR e o parlamentar mais votado do Ceará.
A parceria entre Tasso e Wagner seguiria em 2018, com o lançamento do tucano General Theophilo ao Governo do Estado com apoio de ambos. Naquele ano, um acordo esteve perto de fechar escolha do nome de Wagner como postulante ao Abolição, mas resistências de Tasso a Jair Bolsonaro, então no PSC e pré-candidato à Presidência, impediram a costura da chapa.
Wagner recuou da disputa estadual e concorreu a mandato de deputado federal, elegendo-se com a maior soma de votos do estado. Theophilo enfrentou Camilo Santana (PT), que se submetia à reeleição e venceu a parada sem dificuldades.
O afastamento entre os dois começou a partir de 2020, com veto de Tasso a apoio do PSDB a Wagner novamente na briga pela Prefeitura de Fortaleza, agora contra o sucessor de RC, o deputado estadual José Sarto (PDT). No segundo turno da corrida, Tasso defendeu voto no pedetista.
Em 2021, porém, o que era afastamento se tornou divergência aberta, com críticas mais incisivas de parte a parte. Forte defensor da instalação da CPI da Covid e um de seus membros titulares, Tasso afirmou que a comissão deveria investigar erros e omissões do governo, ou seja, de Bolsonaro.
Como resposta, Wagner se manifestou nas redes em 15 de abril de 2021, dias antes da instalação da comissão: "Quando o senador Tasso Jereissati diz que o foco da CPI será essencialmente investigar o Governo Federal e, circunstancialmente, governadores e prefeitos, ele já toma partido antes de iniciar os trabalhos".
Para o deputado, o tucano revelava, ali, que "o foco será o adversário político e deixa claro sua suspeição pela proximidade e aliança com um dos candidatos à presidência, Ciro Gomes, que sonha em derrotar o Bolsonaro".
"Será que ele terá o mesmo rigor ao investigar o Governo do Estado do Ceará e as prefeituras comandadas pelos Ferreira Gomes?", questionou Wagner.
Desde que romperam, o deputado federal tem acusado Tasso de atuar em consonância com interesses do grupo dos irmãos Cid e Ciro Gomes, de quem o senador se reaproximou. O tucano nega a possibilidade. Segundo ele, o alinhamento entre Wagner e Bolsonaro foi determinante para o quadro de hoje na relação entre os dois.