Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O Banco do Nordeste (BNB) tem novo presidente interino, de novo. A instituição sempre foi cobiçada, sempre foi alvo de disputa política, mas nunca viveu tanta instabilidade quanto nos anos de Jair Bolsonaro. Passou a atrair o desejo de outras forças políticas, de outras regiões, inclusive. Desde ontem, tem novo presidente interino. José Gomes da Costa substitui Anderson Possa, que assumiu interinamente no fim de setembro. Desde setembro do ano passado, o BNB vem com comando interino. O presidente anterior era Romildo Rolim. Ele assumiu o cargo no governo Michel Temer, com as bênçãos do MDB e do então presidente do Senado, Eunício Oliveira. Com apoio do PSL cearense, conseguiu ficar no governo Bolsonaro, mas de forma instável, sempre alvo de ataques especulativos — na política, não na economia. Assumiu Alexandre Borges Cabral, em 2 de junho de 2020, com indicação já atribuída ao PL. Não ficou nem 24 horas. Em 3 de junho foi exonerado, após serem apontadas suspeitas de irregularidades na gestão dele na Casa da Moeda, em 2018. Então, o cargo ficou interinamente com Antônio Jorge Pontes Guimarães Júnior. No dia 25 do mesmo mês, Romildo Rolim voltou ao cargo. Em setembro de 2021, Valdemar Costa Neto, comandante político do PL, voltou à carga com vigor, em ataques públicos à gestão do banco. Rolim caiu, e entrou interinamente Anderson Possa, que estava no cargo até agora. Possa também virou alvo de Valdemar, que emplacou no cargo, interinamente, José Gomes da Costa. As intrigas já fervilham em torno da permanência de Gomes da Costa e da perspectiva de escolha de um presidente efetivo — lembrando que o mandato de Jair Bolsonaro termina dentro de menos de um ano.
Síntese da política do BNB em três anos e meio mês de governo Bolsonaro:
Um presidente que ficou dois anos e oito meses, em duas passagens distintas.
Um presidente que ficou um dia.
Três interinos.
O Banco do Nordeste é grande demais, importante demais para ser tratado com esse descaso. Exerce um papel econômico, social e cultural determinante para a região. São cinco comandos em três anos. Presidente que não completa 24 horas. Olha o nível da falta de critério nas escolhas. Instituição dessa relevância não pode ser alvo desse tipo de futrica. Negociado como se fosse toucinho num balcão de armazém.
É tarefa dos políticos nordestinos trabalharem para dar paz e estabilidade ao BNB. Não espero que o paulistano Valdemar Costa Neto aja nesse sentido. Se o Ministério da Fazenda, que sempre era esse respaldo, não garante a tranquilidade, que os representantes do Ceará e do Nordeste o façam.
As influências no BNB
O BNB administra um dos maiores orçamentos da região. Com sede em Fortaleza, no bairro Passaré, é o órgão federal mais cobiçado no Ceará. Durante muito tempo, políticos cearenses tiveram hegemonia nas indicações. Foi assim nos anos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando Tasso Jereissati (PSDB) emplacou Byron Queiroz, e nos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando Roberto Smith era indicado de José Guimarães (PT). No governo Dilma Rousseff (PT), também com bênçãos de Guimarães, assumiu Jurandir Santiago, que caiu em 2012, em meio às denúncias do escândalo dos banheiros. Dilma, então, foi buscar o catarinense Ary Joel Lanzarin, seguido por Nelson Antônio de Souza, que posteriormente foi apadrinhado pelo PP de Ciro Nogueira. Então, começou o período de influência do MDB, sobretudo do ex-senador Eunício Oliveira. Emplacou Marcos Holanda no segundo governo Dilma, que continuou quando Michel Temer (MDB) assumiu. Depois, deu lugar a Romildo Rolim, que chegou também com as bênçãos de Eunício. Quando Bolsonaro tomou posse, Romildo ficou, com respaldo de aliados cearenses do presidente. Agora, o paulistano Valdemar Costa Neto, presidente do partido de Bolsonaro, conquista um de seus nacos mais preciosos e desejados no governo federal.
Influência política, e disputas, e cobiça, isso sempre houve. Mas, em oito anos de FHC, houve um presidente. Em oito anos de Lula, um presidente. Com Dilma, já mudou: em cinco anos e meio, foram quatro presidentes — um deles, Lanzarin, saindo por vontade própria.
Que briguem, façam suas negociações. Mas, uma vez construídos os arranjos, é preciso dar o mínimo de tranquilidade para quem tem tarefa tão importante a tocar.
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