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A diferença entre servir a Deus e se servir da fé
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A diferença entre servir a Deus e se servir da fé

No Ceará, Bolsonaro disse que não tem corrupção no governo. Mas, ele fecha os olhos para escândalos, como o do MEC
Tipo Opinião
Presidente Jair Bolsonaro (PL), em Quixadá (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Presidente Jair Bolsonaro (PL), em Quixadá

Políticos falam de Deus desde… a Antiguidade. Quando eles próprios se diziam deuses, ou escolhidos por Ele. Por que falam da religião, vão a igrejas? Por serem fervorosos, quererem levar a pregação aonde quer que possam? Ou para se beneficiar?

Não lembro de um governo brasileiro explorar tanto a fé com fins políticos. Quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) perdeu várias bases de apoio — liberais, lava-jatistas, ex-aliados — os evangélicos se mantiveram como principal sustentáculo. Ele depende do segmento. Ficou claro que um pedaço importante do governo foi loteado para determinadas personagens. Os relatos são horripilantes. As denúncias sobre pastores no Ministério da Educação precisam ser investigadas a fundo. Os testemunhos são muitos e têm elementos coerentes.

Bolsonaro disse que “põe a cara no fogo” pelo ministro Milton Ribeiro. Um dia antes, em Quixadá (CE), falava que não houve corrupção em três anos e três meses de governo. Quem fecha os olhos, como ele faz, pode alardear que não está vendo. Quem põe a cara no fogo queima os olhos, inclusive.

Há 40 anos, "pacto dos coronéis" em Brasília mudou política do Ceará

Ontem fez 40 anos de uma das mais marcantes reuniões da história do Ceará. Em Brasília, em 24 de março de 1982, os três coronéis — Virgílio Távora, Adauto Bezerra e César Cals — firmaram o acordo que definiu o rumo da eleição para governador. A solução para o impasse foi mediada pelo ministro-chefe do Gabinete Civil do presidente João Figueiredo, Leitão de Abreu. Ninguém sabia àquela altura, mas ali se iniciava o fim do ciclo dos coronéis.

Estava em jogo a sucessão para o governo do Ceará. A primeira eleição direta para governador em 20 anos. O poder estadual era dividido entre os três coronéis. Era como se fossem três partidos diferentes, dentro do mesmo PDS, que precisavam se entender.

A reunião ocorreu no quarto andar do Palácio do Planalto. Virgílio tinha como candidato Aécio de Borba. Adauto queria ele próprio concorrer. E Cals defendia o ex-senador Wilson Gonçalves. O escolhido, porém, não foi nenhum deles, mas Gonzaga Mota. Foi uma surpresa até para ele. Em entrevista às Páginas Azuis do O POVO, em 2011, Gonzaga Mota contou o que ocorreu.

Leitão de Abreu representaria o presidente Figueiredo no sepultamento de um jurista no Rio Grande do Sul. A reunião começou às 11h45min. O ministro precisava viajar até as 14 horas. Perguntou a cada um quem apoiavam. O impasse seguia. O ministro olhava para o relógio. Até que ele perguntou se Virgílio teria uma alternativa. O então governador disse que sim: Gonzaga Mota. O ministro perguntou se Adauto tinha algo contra Gonzaga. Ele respondeu que não. O mesmo procedeu com Cals. “‘Então, disse o doutor Leitão, referindo-se ao Adauto e ao César, ‘você indica o vice e você o prefeito de Fortaleza. Até logo, vou embora, vamos capitão’. E seguiu para o enterro do desembargador. Assim se deu a minha escolha”, disse Gonzaga Mota. Adauto, de fato, foi vice. Prefeito de capital na época não era eleito, e o indicado foi o filho de Cals, César Neto.

O relato feito pelo O POVO na época era um pouco diferente. Adauto teria aceitado outro candidato, desde que não fosse Aécio. Cals sugeriu o senador Almir Pinto ou o deputado Almir Pinto. Adauto sugeriu os deputados Ossian Araripe, Evandro Ayres de Moura ou Etevaldo Nogueira. Virgílio apontou José Lins Albuquerque e Gonzaga Mota. O último agradou a Cals. Adauto ainda apresentou como contraproposta Lúcio Alcântara ou Aquiles Peres Mota. Mas, com a aceitação de Virgílio e Cals, deu Gonzaga.

Gonzaga Mota foi eleito com percentual de votos (70,16%) só superado por Camilo Santana (PT) em 2018 (79,9%). Em 1984, Mota foi o primeiro governador a apoiar as Diretas Já. Rompeu com os coronéis e lançou Tasso Jereissati a governador, em 1986, contra Adauto. Tasso, eleito, rompeu com Gonzaga Mota e iniciou novo ciclo político. Mas, essa é outra história.

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