Líderes da aliança governista no Ceará observam sem sobressalto as recentes manifestações que agitaram o ambiente político. A estratégia é a de sempre, deixar que o tempo administre o que poderiam ser crises. A reação do vereador Adail Júnior (PDT), que questiona diretamente a governadora Izolda Cela (PDT), é o tipo de ação que a cúpula quer evitar. Quanto à manifestação de Guimarães, ela é bem diferente. Parte de uma das cabeças coroadas, um dos fiadores da aliança. Há esforços para entender o sentido do recado. Não se aposta na ruptura da aliança entre PT e PDT. Porém, como será feito para ela ser mantida?

Cid Gomes (PDT) segue o principal líder do governismo, embora tenha dito que quem lidera a sucessão é o ex-governador Camilo Santana (PT). A conhecer a postura que Cid sempre adotou, ultimatos como o sinalizado por Guimarães não costumam ser bem recebidos. Na época de governador, Cid dizia que não decidia com “faca nos peitos”. Guimarães quer opinar sobre a candidatura pedetista e reivindica para o PT a indicação do vice. Argumenta a necessidade de dar sinalização em favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma vez que o PDT tem Ciro Gomes como candidato a presidente. Não me parece convencional para os Ferreira Gomes que eles cedam tudo que o PT quer, ainda mais sob pressão. 

Ecos de 2012

O vereador Adail Júnior, ao rejeitar o que considera intromissão do PT na escolha do PDT, lembra a eleição de 2012 em Fortaleza. Naquela época, bem aponta Adail, o PT escolheu o candidato que quis. Não sei se o exemplo é o melhor. De fato, a situação transcorreu como Adail recorda. Mas, há alguns detalhes. Cid Gomes tentou intervir na escolha do PT. Inclusive, desincompatibilizou petistas que estavam no governo dele, para deixá-los como opções para serem candidatos a prefeito. Um sinal à então prefeita Luizianne Lins (PT) para que indicasse um deles se quisesse apoio do grupo. Camilo Santana, aliás, era uma das alternativas. Mas, Luizianne escolheu o nome que preferiu. Cid desconfiava da competitividade de um nome indicado por ela, dado o desgaste da administração. O fato é que o escolhido, Elmano de Freitas (PT), perdeu eleição bem apertada para Roberto Cláudio, com os Ferreira Gomes jogando todo o peso político estadual em Fortaleza. Bom, mas o fato é que, como lembrou Adail, o PT indicou quem quis. E os Ferreira Gomes, por discordarem, decidiram não apoiar. É isso que pode se dar agora, conforme indicou Guimarães.

Verdade, bem lembra o colega Carlos Mazza, no podcast Jogo Político, que Adail fala da própria experiência. Ele era na época do PV, que apoiou Elmano. E o PT não perguntou a opinião de ninguém na hora de fazer a escolha. Apoiou quem quis. Porém, a situação do PT hoje não parece com a do PV ou de qualquer dos apoios que os petistas tiveram em 2012. Assemelha-se mais à dos Ferreira Gomes, que decidiram romper na época.

 

O papel de Eunício

São famosos e significativos os jantares na mansão do ex-senador Eunício Oliveira (MDB), em Brasília. Os rumos da República já passaram por lá. Na noite de segunda-feira, mesmo sem mandato, Eunício mostrou a influência que segue a ter. Organizou um disputado jantar em torno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Olha, no caso de Lula vencer a eleição de outubro, Eunício volta bastante prestigiado.