Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Na noite de quinta-feira, o candidato do PDT a governador, Roberto Cláudio, discursou em evento para mulheres e disse: “Não somos o candidato da continuidade pela continuidade, nem muito menos da oposição odienta, cheio de malícias, descomprometido e sem propostas.” Ontem, ao ser entrevistado no programa Jogo Político, Elmano Freitas (PT) disse sem meias palavras: “Eu sou mesmo o candidato da continuidade.” É a fronteira que divide a estratégia das duas candidaturas que saíram da antiga base governista. Ela talvez seja mesmo incontornável.
Não é que Elmano não reconheça problemas. Falou, por exemplo, das facções criminosas. Porém, defende o que foi feito pelo governo de Camilo Santana (PT) e é continuado por Izolda Cela (PDT) nesta área. Menciona o que quer fazer além: por exemplo, instalar comandos de policiamento, associados a outras políticas públicas, nos locais que estão no limite entre territórios dominados por facções rivais. O que aponta que pretende ter de diferente é, se possível, dar mais velocidade ao que está planejado.
As chances de Elmano estão concentradas no alto índice de aprovação do governo Camilo Santana. Ele precisa mesmo se colocar como a continuação dessa proposta. Todavia, eu não me recordo de um candidato que se colocou tão enfaticamente como continuidade. Até quem disputa reeleição costuma dizer que não será mais do mesmo, que terá inovação, avanços, correções.
Porém, Elmano tem a muito peculiar situação de disputar essa imagem de continuidade com outro candidato — no caso, Roberto Cláudio. A rigor, o governo de Camilo era mais identificado com os Ferreira Gomes e com Roberto Cláudio do que propriamente com o PT. Basta lembrar que, em 2016 e 2020, ele não apoiou as candidaturas petistas em Fortaleza. Ficou do lado pedetista assim que foi possível. Partidários petistas tentam desfazer a vinculação que eleitores fazem do ex-prefeito com o atual ciclo.
Roberto Cláudio, por sua vez, afirmou também, ainda na quinta-feira: “Ninguém governa bem só continuando por continuar. A gente governa bem quando tem a humildade de fazer autocríticas que permitam que a gente proteja as conquistas, mas avance naquilo que está ruim.”
A ruptura que marcou a política do Ceará
Escrevi há duas semanas reportagem sobre grandes rupturas que marcaram a política do Ceará. A que acompanhei mais de perto foi entre Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara, em 2006. Foi o momento que deu origem ao atual ciclo político no Estado. A respeito disso me escreveu na última semana o ex–governador Lúcio Alcântara. Ele fez detalhado relato sobre o que se passou naquele momento:
“A guisa de melhor precisar o que aconteceu comigo, fato e não versão, Tasso NUNCA, ao contrário do que você disse, tentou me convencer de não disputar a reeleição. Apenas no dia que antecedia a data final para desincompatibilização me convidou para uma reunião em Brasília, em seu apartamento. Quando lá cheguei já encontrei Ciro Gomes, que há pouco deixara o cargo de ministro de Lula.. Foi-me dito então, sem maiores explicações, que o candidato seria Cid Gomes e assim sendo o clã Ferreira Gomes apoiaria no lugar de Lula, como estava previsto, Geraldo Alckmin, ambos candidatos à presidência da República. A mim caberia o Senado. Por julgar a proposta humilhante, mesmo indecorosa, por extemporânea, e não confiar mais na dupla e no meu vice-governador (Maia Júnior), rejeitei-a. Afirmei que apoiaria o candidato que o PSDB indicasse e iria concluir meu mandato. Foi visível a surpresa dos dois com a minha reação com a qual não contavam. Note-se que a consulta feita Tasso aos deputados e prefeitos do partido resultou praticamente na unanimidade em torno de meu nome e Ciro, nas vezes em que comentei com ele o comportamento de seu irmão (Ivo Gomes) na Assembleia Legislativa, depreciou sua opinião, disse que Cid tinha méritos mas ainda estava verde para a função de governador. Mais, afirmou que eu estava fazendo um bom governo, tinha direito e merecia a reeleição. Então, você poderia indagar, por que fui candidato? Sensível ao drama dos candidatos aos legislativos estadual e federal, receosos de que minha postura os prejudicasse eleitoralmente e atendendo aos pedidos insistentes do presidente (do PSDB) Raimundo Viana, que falava também em nome do Tasso, que prometeu a mesma coisa ao meu vice Beto Studart, revi minha posição e disputei o pleito. Experiente, filho de político, político há anos, avaliava bem o drama que viviam. Meu instinto de solidariedade prevaleceu. Na eleição que se seguiu, salvo engano, o partido fez as maiores bancadas de sua história O Ceará todo conhece o comportamento que adotou na campanha. Alguns amigos acharam que deveria ter aceito a proposta. Em nenhum momento isso passou pela minha cabeça. Fui derrotado, mas não desonrado.”
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