Ciro Gomes (PDT) está sofrido sobre a eleição no Ceará — é ele quem assim se define e demonstra isso. Comentei isso na semana passada, sobre como se mostrava magoado e dizendo que talvez seja momento de Capitão Wagner (União Brasil) vencer no Ceará. "Quem sabe a gente aprende a dar valor ao que tem." No fim de semana, Ciro expressou e disse mais sobre esse sentimento.

"Eu sou uma pessoa com sentimentos. E hoje meus sentimentos pessoais aqui no Ceará são muito sofridos. O que eu fiz por determinadas pessoas, dei tudo e criei condições para essas pessoas brilharem. E hoje sinto o espinho da traição", afirmou na manhã de domingo, ao participar dos primeiros atos de campanha no Ceará, ao lado de Roberto Cláudio.

A divergência com os irmãos Cid Gomes e Ivo Gomes é outro ponto que maltrata Ciro. "Eu peço que você compreenda, não tenho a menor vontade de comentar esse tipo de assunto. Me faz mal. Dói no meu coração", disse ainda no domingo.

Em um dos momentos mais duros, fez acusações de aliança com empresário desonesto que manipularia pessoas do Judiciário. Questionado, ele não citou nomes. Falou isso ao elencar os méritos do projeto iniciado por Tasso Jereissati (PSDB). Mas, afirmou que nenhum membro desse projeto pode fazer "voo solo".

"Isso não autoriza que nenhuma personalidade, por mais exuberante que se considere, faça voo solo, descomprometido com a decência e com a seriedade, manipulando empresário desonesto, subornando frações da Justiça. Não é assim que se faz democracia e não foi para isso que nós derrotamos o coronelismo no Ceará".

Ciro tem seguidamente reclamando de traição e muitas vezes fala diretamente a Camilo Santana (PT). O candidato a senador respondeu ontem com post da Oração de São Francisco.

Eu não vou julgar quem tem razão nessa peleja. Há questões que são de trato pessoal entre eles. Não sei que compromissos havia, que acordos e quais expectativas. Acho difícil que uma ruptura desse tamanho possa ser atribuída a motivos unilaterais, como os dois lados tentaram fazer crer. Em ambos houve movimentos e gestos que contribuíram para a aliança acabar.

Concordo com a reclamação de Ciro de que não teria havido um telefonema para informar o que seria feito. Não sei que motivo pode ter sido tão profundo a ponto de uma relação política terminar sem que nem ao menos os aliados de tanto tempo tenham se falado.

Porém, acho estranho Ciro se sentir tão magoado e traído se, um mês antes do rompimento, o que ele dizia ao PT no caso de rompimento era: “Seja muito feliz”. Não era postura de quem parecia fazer questão do apoio, de quem queria manter a aliança. Não parecia alguém que se acharia traído se o PT decidisse “ser muito feliz” no próprio caminho.

A não ser que Ciro contasse que o PT iria romper, mas não que Camilo estaria à frente. Com isso eu também não contava. E talvez ele, como eu, tampouco imaginasse o estrago que a articulação comandada por Camilo faria no antigo bloco pedetista ao atrair prefeitos e outros apoiadores.

Bolsonaro e o Centrão

Na entrevista ao Jornal Nacional, o presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiu a questionamento de William Bonner sobre o Centrão. “Você está me estimulando a ser ditador”, disse, argumentando que precisa de apoios para governar.

Bom, mas não foi Bonner quem falou que precisava governar sem o Centrão. Foi o Bolsonaro quem prometeu, não cumpriu e agora se faz de desentendido.