A presença de Persio Arida e André Lara Resende na equipe de transição na área econômica para preparar um governo do PT seria impensável em tempos anteriores a Jair Bolsonarto (PL). Arida e Lara foram alguns dos principais teóricos do Plano Real, criticado pelo PT. Ao terem de escolher entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro, eles pediram voto no petista. Agora, terão protagonismo na transição.

Ao lado deles estão economistas petistas. Nelson Barbosa ocupou cargos importantes na área econômica nos governos de Lula e Dilma Rousseff (PT). No último governo Dilma, comandou o Planejamento e foi o último ministro da Fazenda, quando a situação já havia degringolado. Guilherme Mello foi o assessor econômico da campanha de Lula. É professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Barbosa e Mello eram a parte previsível. Arida e Lara são a novidade.

Novidade é modo de dizer. Há mais de 30 anos eles rondam as decisões econômicas do País. Estão entre os formuladores mais originais e ousados. Daí terem sido vistos com muitas reservas. Poucos entendiam as intrincadas ideias.

Lara Resende e Arida propunham basicamente o seguinte: o déficit público e a política monetária estavam sob controle, sem pressão de demanda para aumentar a inflação. Não havia também pressão de oferta. Assim, a hiperinflação era resultado de inércia: a inflação do presente era atrelada à inflação do passado, que seguia empurrando os preços para cima. A proposta deles era desindexar a economia. Isso seria feito com a criação de uma moeda indexada para circular em conjunto com a moeda vigente — a URV, que teria paridade com o dólar. O objetivo era acabar com a "memória inflacionária". A URV foi uma moeda de transição para o Real.

O que me surpreende no fato de Lara Resende e Arida terem sido os formuladores do Real, ao lado de nomes como Edmar Bacha, é o fato de que todos eles também estavam na linha de frente do Plano Cruzado. Foi um grande sucesso no primeiro momento, que se reverteu num fenômeno eleitoral em 1986, mas que logo colocou a economia brasileira em colapso.

Aprender com o fiasco

O fracasso não foi propriamente culpa deles. Arida e Lara Resende, por exemplo, eram contra o congelamento de preços, a marca mais visível do Cruzado. A minha indagação é como os economistas que foram o rosto de um fiasco, mesmo que não causado por eles, tiveram condições políticas de serem os formuladores de uma nova proposta de transformação da economia do País, e com os mesmos fundamentos teóricos. Talvez ali estivesse, inclusive, a chave do sucesso do Real: aprenderam com os erros do Cruzado. Não jogaram o bebê fora junto com a água suja da bacia.

A pergunta agora é, 30 anos depois, o que eles irão apresentar de novo para a economia do País.

Errei

Flávio Jucá, indicado pela governadora Izolda Cela para compor a equipe de transição, não está interinamente na Procuradoria Geral do Estado (PGE), mas na Casa Civil, diferentemente do que escrevi ontem. Ele teve passagens por Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) e por Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado (CGE). Foi um coringa no núcleo gerencial do Estado nos anos Camilo Santana e Izolda.