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A intentona dos palermas
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A intentona dos palermas

No armário do ex-ministro da Justiça a Polícia Federal encontrou a evidência do plano para um golpe de Estado no Brasil. Anderson Torres disse que o material seria destruído e acha que está tudo bem, o néscio
Tipo Opinião
, Jair Bolsonaro, ex-presidente e Anderson Torres, ex-ministro da justiça (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP , Jair Bolsonaro, ex-presidente e Anderson Torres, ex-ministro da justiça

Ainda levará algum tempo para que se tenha conhecimento do que se passou no Brasil nos últimos dias e nos últimos anos. A história do que foi o governo Jair Bolsonaro (PL), sobretudo na derrocada, ainda precisa de peças para ser escrita. As revelações apontam para um grupo obcecado pelo poder a todo custo. Mas, felizmente pouco inteligente e tão incompetente em suas tramas quanto foi em governar.

Flagrado com um documento golpista dentro do armário, o ex-ministro e ex-secretário Anderson Torres, que só está solto porque segue fora do Brasil, manifestou-se. Fez-me lembrar do que dizia Millôr Fernandes: "O direito de resposta é uma coisa fundamental. Sagrada. Senão a gente fica até imaginando que o outro lado pode ter razão". A resposta dele é constrangedoramente descarada:

"Havia em minha casa uma pilha de documentos para descarte, onde muito provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado. Tudo seria levado para ser triturado oportunamente no MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública)", publicou Torres no Twitter. Há tanta coisa para comentar.

O destino que ele pretendia dar à minuta de decreto golpista é o que menos importa. A pergunta fundamental é: por que o documento existia? Torres deu a entender que seria uma das “sugestões e propostas dos mais diversos tipos” que ele recebia no cargo. Recebeu de quem? Que providência tomou? Atentar contra a ordem democrática, afinal, é crime. Um ministro de Estado não pode simplesmente levar para casa para ver se acata ou não a sugestão.

Repare que o ex-ministro mencionou onde imagina que “provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado”. Ele não sabe ao certo. Imagino que tipo de sugestão o doutor Torres recebia para nem se lembrar ao certo de onde guardou uma sugestão de golpe de Estado que alguém teve a audácia de levar ao próprio ministro da Justiça. Ou nem tanta audácia, ao considerar quem era o ministro e qual era o governo.

Aliás, por que um documento recebido por ele na condição de ministro — ainda mais um de natureza tão séria — estava no armário da casa dele? Quando seria “oportunamente” levado ao ministério para ser triturado, uma vez que foi achado quando ele já estava fora do cargo havia dez dias? Será que o sucessor, Flávio Dino, deve esperar receber, tal hora, uma pilha de sugestões de ações criminosas que o ex-ministro Torres recebeu e pediu para triturar. Ora, francamente, é cada uma.

O ex-ministro disse ainda que o documento foi vazado fora de contexto e ajuda a alimentar “narrativas falaciosas”. Faltou explicar o contexto de uma minuta de intervenção do governo na Justiça Eleitoral para mudar o resultado da eleição. Torres não disse em qual contexto um golpe de Estado se torna tolerável.

Nem só de decreto se faz um golpe

Uma característica da ditadura militar e que se reproduz na intentona da extrema-direita bolsonarista é a tentativa de dar um verniz de legalidade ao golpe de Estado. Como quem esconde um dromedário debaixo de um lenço.

A minuta documenta a intenção de golpe, o planejamento. Falta saber o que há além. O projeto de decreto não viria sozinho. Faz-se necessário saber quais as medidas poriam em prática o golpe — e quem participaria dele.

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