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Quem disto usa disto cuida
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Quem disto usa disto cuida

Bolsonaro diz que prepara volta ao Brasil. Ele não o fará se não estiver no cálculo político a chance de ser preso — e como ele pode explorar isso politicamente
Tipo Opinião
Ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: CHANDAN KHANNA / AFP)
Foto: CHANDAN KHANNA / AFP Ex-presidente Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer que planeja voltar ao Brasil nas próximas semanas. Veremos. O ex-presidente teve pedidos de investigação contra ele remetidos à primeira instância. Como não é mais presidente, perdeu o foro privilegiado. São muitas as complicações de antes de ser presidente, durante o exercício do poder e já depois de sair do cargo — por implicações do 8 de janeiro.

Ele deixou o País de forma estranha, antes de o mandato acabar. Praticamente fugido, pela porta dos fundos. Segue nos Estados Unidos após o fim da validade do passaporte diplomático. Pediu visto de turista. Ele tem dado declarações sinalizando que pode buscar abrigo em outro País. “Minha família é de Pádua (província na Itália). Pela legislação, eu sou italiano”, afirmou no fim de janeiro ao jornal italiano Corriere Della Sera. Sobre se teria intenção de fazer a requisição, ele afirmou que como “pouquíssima burocracia, teria cidadania plena”.

Um retorno de Bolsonaro ao Brasil significa se colocar diante da Justiça e dos atos e omissões pelos quais é acusado. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), disse ontem ao O POVO News que acredita que o ex-presidente será alvo de diligências quando, e se, voltar ao País. Voltará ele, mesmo assim?

Em vários momentos, o ex-presidente demonstrou o temor de vir a ser preso. Uma das situações foi na famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020. “Eu tô me lixando com a reeleição. Eu quero mais que alguém seja re ... seja eleito, se eu vier candidato, tá? Pra eu ter. .. eu quero ter paz no Brasil, mais nada. Porque se for a esquerda (eleita), eu e uma porrada de vocês aqui tem que sair do Brasil, porque vão ser presos. E eu tenho certeza que vão me condenar por homofobia, oito anos por homofobia. Daí inventam um racismo, como inventaram agora pro Abraham Weintraub”.

Há muitas acusações contra Bolsonaro, além de homofobia e racismo. A fala mostra que a preocupação em ser reeleito era livrar a própria pele. O ex-presidente segue um método. Weintraub hoje rompeu com ele. Mas, quando deixou o Ministério da Educação, cuidou de ir aos Estados Unidos. Conseguiu entrar em menos de 48 horas, mesmo sem ter mais cargo governamental, numa época de severas restrições à entrada de estrangeiros, no auge da pandemia de Covid-19. Algum tempo depois, o ex-ministro ganhou cargo no Banco Mundial.

O mais engraçado é que, no começo de 2018, Bolsonaro e a prole diziam que Lula planejava sair do País para não ir preso. O petista estava prestes a ser julgado em segunda instância, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), e foram publicadas autorizações para assessores dele viajarem à Etiópia. Bolsonaro gravou vídeo no qual indagou: “Estaria Lula preparando uma saída estratégica temendo uma condenação?”

Lula ficou preso por um ano e sete meses. Entregou-se às autoridades. Quando podia pedir progressão de pena e sair do regime fechado, não quis. Ficou preso até ter a prisão revogada, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a prisão após condenação em segunda instância. Depois, o STF anulou a condenação.

É aquela famosa frase: quem disso usa disso cuida.

A propósito, em 2016, Bolsonaro falava sobre Dilma Rousseff: “O governo fará muito mais que o diabo para não deixar o poder. Só não percebe quem não quer”. Vê-se hoje quem foi além dos limites para se segurar no cargo.

O impacto de uma prisão para Bolsonaro

Uma possível volta de Bolsonaro não aconteceria sem ele calcular o risco de uma eventual prisão. Com a ida dos processos para primeira instância, há vantagens e desvantagens para ele. Pode ser alvo de um juiz que queira aparecer com uma condenação contra ele. Por outro lado, a tramitação pode se estender mais, com recursos e mais recursos.

No caso de retornar, o ex-presidente tem chances não desprezíveis de ser preso. Tal prisão é capaz de reacender a militância e colocar o Brasil de novo em polvorosa — agora que teve algumas poucas semanas de alguma tranquilidade. Talvez Bolsonaro queira justamente provocar tais reações.

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