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Ciro Gomes, Sarto e a chance de "volta da demagogia" em 2024
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Ciro Gomes, Sarto e a chance de "volta da demagogia" em 2024

Ex-governador e ex-ministro pede que prefeito mostre mais do "trabalho extraordinário" em Fortaleza para impedir o que ele considera risco, numa referência indireta a um eventual retorno do PT
Tipo Opinião
Prefeito Sarto e Ciro Gomes na palestra na CDL (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Prefeito Sarto e Ciro Gomes na palestra na CDL

Ciro Gomes (PDT) elogiou o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), e considerou que o aliado faz um "trabalho extraordinário". Mas acrescentou: "Muitas vezes com uma discrição que eu acho que está errada, porque ele precisa fazer a pabulagem, porque Fortaleza não pode cair de volta em demagogia". A fala ligeira, durante palestra na noite de quinta-feira, 15, na CDL, embute vários sentidos e sinalizações.

Pabulagem é gabolice, se gabar, no sentido de exaltar o próprio trabalho. Ao apontar que Sarto precisa ser menos silencioso no que faz, Ciro justifica por que a avaliação do prefeito anda tão em baixa, como mostrou pesquisa Datafolha. O problema não é propriamente da gestão. As pessoas é que não sabem tudo que é feito de bom, segundo esse raciocínio.

Além disso, a frase sugere onde Ciro talvez enxergue a maior ameaça à reeleição do atual prefeito. Quando fala em "cair de volta em demagogia", indica o temor de um retorno ao passado. A referência mais direta é ao PT, particularmente à época de Luizianne Lins, quando Elmano de Freitas (PT) estava na gestão. O partido, que hoje tem como maior expoente no Ceará o ministro Camilo Santana, está no governo estadual e também no federal. Terá candidato a prefeito e será um dos favoritos, com certeza. Só não se sabe ainda quem é.

Afinal, quando menciona "retorno", Ciro certamente não fala do antecessor imediato de Sarto, Roberto Cláudio (PDT), pois são todos aliados. Antes de RC era a gestão Luizianne. Ainda antes, era Juraci Magalhães, que já morreu e cujo principal aliado na ativa é líder de Sarto na Câmara — Carlos Mesquita (PDT). Ainda antes houve Antonio Cambraia e o próprio Ciro. Mais atrás, Maria Luiza, que era do próprio PT, mas não disputa mais eleições. Quando fala em "cair de volta em demagogia", o alvo mais aparente de Ciro é o PT.

É uma possível sinalização de qual o principal adversário de Sarto hoje. No ano passado, antes da eleição estadual, Ciro se referia a Capitão Wagner (União Brasil) como opositor que mais ameaçava o grupo. Dizia até que podia ser positivo ele ganhar. "Pode ser que esteja na hora de a gente entregar para o Capitão Wagner lá, o cara do Bolsonaro. Quem sabe a gente aprende a dar valor ao que tem", afirmou em agosto de 2022.

Desta vez, Ciro aparentemente não coloca Wagner como o adversário em primeiro plano. A não ser que inclua Wagner e o PT no balaio do que chama de volta à demagogia.

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Silêncio sobre Elmano

Curioso o silêncio mantido até agora por Ciro em relação ao governo Elmano. Ciro tem falado pouco. Há algumas semanas fez palestra em Lisboa. Talvez fosse demais falar do governo do Ceará. Mas, na quinta, em Fortaleza, imaginei que ele mencionaria algo. Roberto Cláudio tem feito críticas duras. Ciro talvez pretenda deixar ao ex-prefeito o protagonismo local dessa fração do grupo que rachou.

Aliás, na mesma quinta-feira, pela manhã, Elmano e Ciro estavam na PECNordeste e o governador saudou o pedetista. "Quero registrar a presença especial do ex-governador e ex-ministro que muito fez pelo Ceará, Ciro Gomes".

Ciro e o Banco Central

Ciro repetiu na palestra algo que tem dito: o presidente Lula poderia demitir o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se quisesse. Com base na lei da autonomia, o pedetista argumenta que a demissão seria possível por não cumprimento de metas. Foi interessante ouvir Ciro dizer isso ao empresariado, na Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), um setor que costuma ser bastante apegado à autonomia do BC. Mas, entre haver previsão legal e a condição política de realizar há uma distância. Volto ao assunto outro dia.

Foto do Érico Firmo

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