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Política em família: não faça
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Política em família: não faça

Misturar família e política é ruim tanto para uma quanto para a outra. A crise dos Ferreira Gomes expõe como o ambiente doméstico cedo ou tarde é contaminado pelas intrigas do jogo do poder
Tipo Opinião
Irmãos Cid Gomes, Ívo 
Gomes e Ciro Gomes (Foto: Tatiana Fortes, em 3/3/2016)
Foto: Tatiana Fortes, em 3/3/2016 Irmãos Cid Gomes, Ívo Gomes e Ciro Gomes

As informações de Brasília apontavam na noite de ontem para uma possibilidade de acordo no PDT Ceará. É mais fácil o entendimento partidário que o familiar. O senador Cid Gomes repete que não quer tratar em público de questões familiares. Depois que falou isso, já fez algumas manifestações sobre o irmão mais velho. O problema é que transformaram a família em grupo político. Levaram a intimidade para a esfera pública. A partir daí fica difícil preservar as fronteiras. Tanto as questões domésticas interferem no jogo do poder quanto, como ocorre agora, as crises políticas interferem nas relações pessoais. É ruim para a política e pior para a família.

As famílias na política

Fazer política em família é da tradição brasileira e algo profundamente enraizado. A prática é problemática. Denota atraso. Tem traços também de ilegalidade, quando afronta o princípio da impessoalidade. Porém, o eleitor muitas vezes não pensa assim. Em reportagem do jornalista Henrique Araújo, publicada em março aqui no O POVO, os cientistas políticos Monalisa Torres e Cleyton Monte trouxeram reflexões que me fizeram pensar a esse respeito. Em certas regiões, a família é a marca e a referência política e de confiabilidade para a população. São aquilo que as pessoas conhecem e de quem sabem o que esperar. É uma vantagem em relação a estreantes.

"A família acaba tendo vantagem porque se utiliza o ethos familiar como capital em momentos de disputas eleitorais. Ela incorpora uma ideia, uma marca", apontou Torres. “A própria família incorpora e transfere certo capital para aquele nome, e isso faz diferença nos processos de disputa”, acrescentou.

“Fazer parte de uma família, que poderia jogar contra, para muitos públicos é um fator legitimador”, pontuou Monte. "Sempre que temos partidos frágeis, lideranças fragilizadas e pouco espaço para a renovação, as famílias políticas acabam tendo maior espaço para se reproduzir. O que temos no interior do Estado são as famílias, então a população reconhece muito mais as famílias do que partidos", destacou o professor.

Há grupos que migram de um partido a outro — os Ferreira Gomes são exemplo. Siglas são extintas e se fundem. O que acaba permanecendo é a família. É difícil, de fato, romper com essa estrutura.
O que não deixa de trazer elementos de atraso. E impactar a própria família.

Em nome dos pais

Na semana passada, Cid afirmou: “Em respeito à memória do meu pai, doutor José Euclides Ferreira Gomes, e da minha mãe, dona Maria José, que não estão mais conosco, eu não comentarei nenhuma declaração do Ciro nem as passadas nem as que vierem no futuro”. É uma fala dramática e forte. Mas, ele acabou falando depois disso. Com igual contundência. Aquilo que envolve a família tem mais peso. “Para mim o que havia de mais importante era a fraternidade do Ciro em relação a mim. Pelo visto, está perdida. Pelo visto, está perdida”, falou ontem.

Mencionei a referência de Cid aos pais, seu Zé Euclides e dona Mazé. Uma coisa me parece clara: se eles estivessem vivos, a briga entre irmãos não chegaria a tal nível. Antes da morte de dona Mazé, houve desentendimentos, mas nenhum tão extremo.

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