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Semana sombria para o meio ambiente em Fortaleza
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Semana sombria para o meio ambiente em Fortaleza

O que admira é isso ocorrer no momento em que o Brasil atravessa tragédia climática
Tipo Opinião
TERRENO anunciado para sediar o Fortal 2024 foi alvo de vistoria do Ministério Público (Foto: Divulgação/MPCE)
Foto: Divulgação/MPCE TERRENO anunciado para sediar o Fortal 2024 foi alvo de vistoria do Ministério Público

São tempos difíceis no Brasil, e agentes públicos e privados parecem empenhados em garantir que continuará assim no futuro. A Câmara Municipal aprovou a extinção de duas áreas de proteção e recuperação ambiental. Simultaneamente, terreno próximo ao aeroporto era desmatado para receber a micareta Fortal, até que houve embargo do Ibama, situação que O POVO acompanha ao longo de toda a semana (confira aqui, aqui, aqui e aqui).

No caso das áreas de proteção, trata-se de ocupações já consolidadas. Em uma funciona um supermercado. Em outra, um condomínio usou o espaço para instalar captadores de energia fotovoltaica. Então, argumentam os vereadores, trata-se de regulamentar o que já aconteceu. Na verdade, é premiar quem destruiu o meio ambiente. Deveria haver punição e exigência de reparação, isso sim. Não há direito adquirido nem fato consumado para destruir meio ambiente. O recado da Câmara Municipal é que as infrações compensam, são recompensadas.

No aeroporto, argumenta-se que seria apenas mato. Mas, segundo o Ibama, constatou-se haver 80% de vegetação nativa, inclusive áreas de Mata Atlântica. Seria necessário tipo de autorização não emitido.

Em Fortaleza, essas coisas são um dia como outro qualquer. Ainda mais perto de eleição, aparece todo tipo de interesse em empreendimento para degradar o meio ambiente. E recebe uns apoios políticos bastante apaixonados. O que admira é isso ocorrer no momento que o Brasil atravessa, com a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul. Para não ir longe, na mesma semana em que Fortaleza também sofreu com alagamentos.

Fique de olho nos parlamentares — a ampla maioria — que aprovaram a extinção das áreas ambientais. Esperamos que esse dia nunca chegue, mas o dia que Fortaleza for acometida por ocorrência resultante de mudança climática, essas pessoas farão discursos os mais hipócritas, como se uma coisa nada tivesse a ver com outra.

O papel do prefeito

A extinção das áreas de proteção foi proposta pela base do prefeito José Sarto (PDT). Questionado sobre o assunto nesta sexta-feira, 17, ele pregou cautela. “A pauta moderna inclui a prudência ecológica”. E acrescentou: “É preciso que a gente tenha muito cuidado. Que a gente priorize a pauta ecológica, que a gente tenha muita discussão antes de fazer qualquer interferência no meio ambiente”. Os projetos seguem agora para a sanção do prefeito. A conferir a postura que adotará.

Pimenta no dos outros

A escolha pelo presidente Lula (PT) do deputado Paulo Pimenta (PT) para comandar a Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul vai na contramão do que seria necessário para o momento.

Primeiro, Pimenta não tem nenhum atributo particular para a função, além do fato de ser gaúcho. Por esse critério, tem outras 10 milhões de pessoas igualmente aptas. O problema está no estilo. O indicado está na linha de frente da beligerância, dos enfrentamentos, é visado pela oposição. Seria desejável para o posto alguém com capacidade de diálogo, mas o escolhido queimou pontes. Já chegou tendo de se explicar.

Nem do ponto de vista político é inteligente. A resposta à tragédia tem rendido muitas críticas — algumas justas, muitas despropositadas. O alvo mais direto é o governador Eduardo Leite (PSDB), mas sobra grande parcela para Lula. Quando o presidente escolhe alguém tão ligado a ele, puxa ainda mais para si o problema e o desgaste. Claro, a resposta a situações do tipo rende bônus político, se o trabalho for feito direito. O cálculo político deve estar contando com isso, mas a aposta tem risco alto.

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