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Bolsonaro confessou esquema paralelo de espionagem
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Bolsonaro confessou esquema paralelo de espionagem

Que Bolsonaro se valia de um esquema de espionagem política, isso já se sabia. E quem revelou foi ele próprio
Tipo Opinião
FLÁVIO beija o pai, Bolsonaro, acusado de
Foto: EVARISTO SA/AFP FLÁVIO beija o pai, Bolsonaro, acusado de "blindar" o filho

Na operação da Polícia Federal sobre um esquema que existiria no governo Jair Bolsonaro (PL) para realizar espionagem com fins políticos, o que admira são os detalhes, as evidências. A existência de uma gravação na qual o ex-presidente está e em que se discutiu como livrar o filho dele, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na investigação sobre “rachadinha”. Ações que miravam adversários políticos e até aliados. Buscavam proteger a família Bolsonaro e prejudicar opositores. Mesmo que para isso tivesse de atingir agentes e órgãos do próprio governo. Porém, que Bolsonaro se valia de um esquema de espionagem política, isso já se sabia. E quem revelou foi ele próprio.

Na famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020, cuja divulgação foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro falou, aliás, gritou: “Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que têm oficialmente, desinforma. E voltando ao tema prefiro não ter informação a ser desinformado em cima de informações que eu tenho”.

Um dia depois de o vídeo ser divulgado, questionei: “(...) que história é essa de sistema de informação particular? Uma inteligência extraoficial? Paralela? O presidente justificou que são amigos militares, policiais que passam informações para ele. Conta isso direito. Quais informações? Obtidas por quais meios? Esse sistema funciona, e Polícia Federal e Abin não funcionam?” As respostas vêm aparecendo.

Moro sabia, mas apoiou Bolsonaro mesmo assim

Lembra da ruidosa saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública? Ele pediu demissão e afirmou que Bolsonaro queria interferir politicamente na Polícia Federal para proteger o filho Flávio. O objetivo era colocar Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Investigação (Abin), no comando da Polícia Federal. Ramagem está no centro da investigação sobre suposta espionagem ilegal para beneficiar os Bolsonaro.

“É a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família", dizia Bolsonaro na reunião de 22 de abril. Ele afirmou que iria mudar o comando da “segurança no Rio”. Caso não fosse possível, trocaria o diretor. Se não conseguisse, substituiria o ministro. Nos dias seguintes, caíram o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, o diretor-geral da PF e o ministro da Justiça.

Naquele mesmo mês, após Moro deixar o ministério, Bolsonaro efetivamente nomeou Ramagem para diretor-geral da PF. Mas, o Supremo Tribunal Federal (STF) barrou. Esse enredo de interferência para proteger Flávio é velho conhecido e foi tornado público, com consequências graves.

Moro sabia de tudo. Inclusive, deixou o governo por isso e denunciando isso. Mesmo assim, nas eleições de 2022, meio que com o rabo entre as pernas, apoiou Bolsonaro. Foi assessorá-lo no debate com Lula. A oposição ao PT pesou mais.

Moro fez acusação grave contra Bolsonaro — sobre a qual novos elementos surgem. Mesmo assim, aliou-se ao ex-presidente. Que, por sua vez, aceitou o apoio. Se a acusação era verdadeira, como entender que mesmo assim Moro resolvesse apoiar o então presidente? Se não era, como tal político aceita acordo com quem proferiu a eventual calúnia?

Não é “coisa menor”

Esquema de “rachadinha” é acusação recorrente nos legislativos. Atingiu de Flávio Bolsonaro e André Janones (Avante-MG). Ambos negaram e ambos se safaram, até aqui. Consiste em contratar servidor com dinheiro público com a condição de ficar com uma parte do salário. O servidor é contratado para uma função pública e o dinheiro é do erário. Com todos os malabarismos que se faz para explicar a situação, “rachadinha” é desvio de dinheiro público, simples assim.

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