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Como se processam as rupturas na política do Ceará
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Como se processam as rupturas na política do Ceará

Nas últimas seis décadas, o Ceará só foi governado por quem já estava dentro do poder ou por quem tinha acabado de sair de dentro dele. Os rompimentos se dão por dentro dos próprios grupos. As alternâncias de poder não costumam se dá pelas urnas
EX-GOVERNADORES do Ceará Camilo Santana, Lúcio Alcântara, Tasso Jereissati, Izolda Cela, Ciro Gomes, Gonzaga Mota, Francisco Aguiar e Cid Gomes (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA EX-GOVERNADORES do Ceará Camilo Santana, Lúcio Alcântara, Tasso Jereissati, Izolda Cela, Ciro Gomes, Gonzaga Mota, Francisco Aguiar e Cid Gomes

Escrevi ontem sobre as hegemonias no Ceará. O assunto é bom e profundo. Penso que vai além de maniqueísmos e antagonismos e serve para pensar na configuração da política estadual. Sigamos nesta prosa.

Vida de opositor no Ceará não é fácil. No Interior, os prefeitos dependem do governo e a adesão é a regra. Na era Tasso Jereissati (PSDB), havia um pequeno e aguerrido grupo de oposição à esquerda, formado por PT, PSB, PDT e PCdoB. Com Cid Gomes (PSB) governador, viraram poder. Demorou algum tempo até se organizar outro núcleo de oposição significativa. À direita, em torno de Capitão Wagner (União Brasil).

A Capital tem nível bastante razoável de mobilidade política. No Estado isso não acontece. As alternâncias de poder e rupturas não costumam se dar pelas urnas, mas nas disputas de poder dentro dos próprios grupos. Nas últimas seis décadas, pode-se considerar que houve duas alternâncias de poder estadual. Pelas urnas, houve uma.

Uma das rupturas foi de Gonzaga Mota com os coronéis, em 1984. Ele foi eleito com apoio do triunvirato formado por Virgílio Távora, Adauto Bezerra e César Cals. Afastou-se deles e lançou Tasso que, eleito governador, rompeu com Gonzaga Mota. Iniciou ciclo que durou até 2006.

Naquele ano, Tasso rompeu com o governador Lúcio Alcântara, que havia sido eleito por causa do apoio dele. O então senador se afastou da campanha e muitos aliados apoiaram Cid Gomes (PSB), que saiu vitorioso. O partido de Cid, a propósito, tinha cargos na gestão Lúcio até as vésperas da campanha. Iniciado o novo governo, o PSDB de Tasso aderiu.

Desde 1958 — quando Parsifal Barroso, pelo PTB, derrotou Virgílio Távora, da UDN e apoiado pelo então governador Paulo Sarasate — a eleição de 2006 foi a única alternância de poder pelo voto. E a ruptura com o governador que estava no cargo. Mas, com apoio das forças que haviam sido responsáveis pela eleição de Lúcio e que eram hegemônicas no Estado.

De onde vêm as oposições

No Ceará, alternância de poder é coisa rara. Quem rompe com o poder enfrenta dificuldade. Pior ainda para quem é de grupo de oposição mesmo, que passou quatro anos fora do poder e apresenta projeto alternativo. Da década de 1960 para cá, o Ceará só foi governado por quem já estava dentro do poder ou por quem tinha acabado de sair de dentro dele.

Costumam haver dissidências de forças que eram aliadas ao governo e buscam voo próprio. Foi o caso de Cid em 2006. Em 2002, duas das candidaturas que enfrentavam o PSDB eram egressas do partido — Sergio Machado e Wellington Landim. Para o segundo turno contra Lúcio foi José Airton (PT), único caso, desde Parsifal, que uma força da oposição, de fato, quase chegou ao poder. Em 2022, Capitão Wagner chegou a aparecer na liderança das pesquisas. São raridades.

Em 2014, também com chances reais, Eunício Oliveira (MDB) era outro aliado que rompeu com o governo. Em 2022, Roberto Cláudio (PDT) tentou o mesmo.

Considerações sobre as hegemonias

As hegemonias têm características diferentes. Em comum, o predomínio estadual, o fato de quase 100% das prefeituras serem aliadas, as oposições diminutas e quase sem chance de impor derrotas no Legislativo. Mas, o ciclo dos coronéis era um período autoritário, ditatorial mesmo. A era Tasso teve diferentes momentos. No começo e no fim, com oposições muito fortes. E Tasso nunca envolveu parentes no governo, diferentemente de quem veio antes e depois. Usei ontem a palavra dinastia, que pode dar sentido enganoso.

E, consideração feita por um leitor: mencionei que Ciro Gomes (PDT) é oposição a um governo que toma posse no Ceará pela primeira vez na trajetória política. Mas, podia ter aderido. A família toda o fez. Porta aberta havia.

Foto do Érico Firmo

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